Tudo o que rolou no 4º Fórum Sim à Igualdade Racial
Aconteceu ontem, quinta-feira (8), o 4º Fórum Sim à Igualdade Racial, no Memorial da América Latina, em São Paulo. O dia foi totalmente voltado ao ‘networking preto’, ou melhor, uma rede para conectar profissionais pretos. O evento recebeu palestrantes de peso que dividiram experiências profissionais e também histórias de vida até chegarem ao sucesso, como o Kond, da KondZilla. Entre os palestrantes ainda tivemos Camila Farani, Eduardo Santos e o comediante Yuri Marçal. Luana Génot, diretora executiva do instituto ID_BR, abriu uma mesa de autógrafos em seu livro “Sim à Igualdade Racial”. Segundo os organizadores o evento recebeu aproximadamente 1.600 participantes que viveram um dia de troca profissional incrível.
O Instituto Identidade do Brasil (ID_BR) vem ajudando a diminuir a desigualdade racial no Brasil através da arrecadação de verbas que são repassadas para ONGs que trabalham com cursos e a educação de jovens negros para entrarem no mercado de trabalho. Além disso, o Instituto também vem promovendo eventos, como a 4ª edição do Fórum, que leva a informação, conhecimento e oportunidade a pessoas negras e de favela.
Preto, de origem de favela e dono do maior canal de música da América Latina, Kond contou como foi palestrar no Fórum para pessoas que, em sua grande maioria, admiram a sua caminhada até agora. “Foi muita alegria palestrar aqui, bater um papo com essa galera que está lutando pela igualdade racial, algo que mesmo depois de tantas lutas ainda sofremos muito preconceito”, explica. “Quis mostrar um pouco da minha história, mostrar que não temos que nos limitar por causa do tom da nossa pele, pela falta de recursos ou por causa da nossa origem, e sim ir pra cima porque ninguém vai dar moleza para nós”.
Nomeado um dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo pela MIPAD, Kond ainda falou o peso da responsabilidade do seu trabalho. “A maior responsabilidade de ser exemplo para tantas pessoas é você tentar eliminar cada vez mais os seus erros e potencializar, promover, mostrar cada vez mais os acertos porque quando as pessoas se inspiram em você, se você fraqueja, elas também fraquejam. Então eu acredito que o nosso movimento é cada vez mais um apoiar o outro para nós nos fortalecermos”.
Luana Génot, fundadora e diretora executiva do ID_BR realizou uma tarde de autógrafos do seu livro “Sim à Igualdade Racial” durante o Fórum. As pessoas formaram uma fila para agradecer a diretora por aquele evento e conseguir um autógrafo. “A conclusão do livro é trazer a reflexão sobre igualdade racial no mercado de trabalho, trazer reflexão de que sem ações afirmativas, o Brasil não vai para frente. O livro é composto por vários depoimentos de pessoas, que vão além dos termos e conceitos relacionados à questão racial”, explica a diretora.
“Quando analisamos a trajetória de vários indivíduos, acabamos percebendo que em determinado ponto, os brancos, em sua maioria, foram privilegiados por um contexto socioeconômico. Até mesmo pela sua própria cor de pele, [os brancos] foram colocados em uma posição onde foram considerados mais inteligentes em determinada trajetória”.
A gente consegue entender essa situação de pessoas em cargos altos, pelo seguinte relato. “Alguns executivos me contaram que eles nem sabiam o porquê estavam sendo colocados em determinada posição e simplesmente aconteceu, enquanto muitas vezes os profissionais negros eram colocados em posições do tipo ‘não sei se você é tão capaz’. Então a mensagem do livro é que precisamos exercitar esse olhar mais afirmativo para que possamos ter um mundo mais igualitário”.
Mestra em Relações Étnico-Raciais, Luana fez um panorama sobre as carreiras negras e fez uma crítica a falta de lideranças pretas dentro das grandes companhias. “O mercado de trabalho voltado para a população negra ainda mostra oportunidades de lideranças escassas, quando comparamos proporcionalmente o quanto a população negra representa nesse país. Nós, população negra, somos 54% [da população brasileira], mas quando falamos de cargos executivos, estamos falando de menos de 1% que uma mulher negra como eu ocupa e aproximadamente 5% de negros exercendo esses papéis”. Pra ela, isso reflete na importância de um evento como o Sim à Igualdade Racial.
“Um fórum como esse existe para mudar essa perspectiva, acelerar oportunidades afirmativas e para obviamente equilibrar esse mercado. O que queremos não é um país que é só para negros ou só para brancos. O que queremos é um país que exista oportunidade para todos na prática”, conclui Luana.
Já a carioca e jornalista Renata Novaes, que colou no evento pra prestigiar, falou um pouco sobre a importância do Fórum para ela e como foi viver esse dia de troca de informações. “É muito importante um evento como esse para podermos nos encontrar, trocar, se ver, saber que a gente existe e que estamos fazendo muitas coisas. O network é extremamente importante em todas as instâncias. E quando você fala de uma população preta e periférica, é uma dívida que é urgente, social e estrutural. Mas eu fico feliz de poder estar aqui, trocando e ouvindo a história de outras pessoas”.
“O mercado de trabalho para o negro é o reflexo do que é a estrutura para o negro. Então, assim como o mundo é, a sociedade é imperialista e colonizadora. As empresas reproduzem esse comportamento onde as hierarquias são extremamente embranquecidas, onde os negros estão em cargos subalternizados. Então as empresas e o mercado de trabalho ainda refletem uma realidade de um país e de uma sociedade que é racista”.
Finalizando o dia depois de diversas palestras e nomes importantíssimos que trouxeram suas vivências profissionais e pessoais, o comediante Yuri Marçal assumiu o palco para fechar o evento em uma mescla de risada e papo de visão. “Fico muito feliz de poder palestrar, de poder falar para quase 2 mil pessoas. É muito satisfatório, principalmente, pelo fato de eu ter apenas 26 anos e já ter tanta gente querendo ouvir o que eu tenho pra falar, principalmente com a pauta que eu levanto”. Ele conclui falando sobre a identificação entre os seus e a troca com o público. “A mensagem foi quase a mesma que eu mando nos meus shows, hoje não vim fazer rir pra caramba, busquei muito a identificação”.
O 4º fórum mostrou que existe muita gente interessada em aumentar o mercado de trabalho negro. Palestrantes, artistas, personalidades e a mídia, compareceram e viram o tanto de jovens entusiasmados em fazer a diferença no futuro deles e dos próximos. Que venha o 5º fórum.