Diversidade

O Quebrada Queer mostra que tem LGBT fazendo arte na quebrada

26.06.2019 | Por: Gabriela Ferreira

Podemos dizer que a cultura brasileira está ficando cada vez mais inclusiva, isso porque artistas como Pabllo Vittar, uma drag queen que é uma das maiores artistas do país, Mulher Pepita, Gloria Groove, Rico Dalasam e outros estão botando a cara pra bater e abrindo as portas para que a cena musical esteja cada vez mais diversificada. Nesse cenário surgiu o Quebrada Queer, o primeiro grupo de rap da periferia composto só por negros LGBTs.

No começo, o Quebrada Queer era formado por 5 integrantes: Lucas Boombeat, Guigo, Harlley, Murillo Zyess e Tchelo Gomez. Os meninos se reuniram para falar sobre suas vivências como negros e gays da favela. “Nós já nos conhecíamos de festas e internet, e sentíamos falta de ter um cypher só com negros e gays. Pesquisando, vimos que não existia um projeto assim em nenhum lugar do mundo. Agora tem!”, conta Tchelo sobre como surgiu o primeiro som do grupo.

Nessa era da internet, muitos de nós começamos amizades, conhecemos pessoas e trampos fodas por meio das redes sociais e podemos dizer que a internet teve um papel importante na formação do QQ por causa do contato de ambos através das redes sociais. Antes do grupo ser o que é hoje, os artistas já estavam tampando na cena musical. Guigo e Murillo já haviam feito uma música juntos, “Dandara“, em homenagem a Dandara, travesti que foi executada brutalmente em 2017 em Fortaleza, só por ser LGBT. O restante foi se conhecendo em shows e pela internet e assim surgiu a vontade de fazer um projeto juntos.

A música “Quebrada Queer” foi lançada no dia 4 de junho de 2018, logo viralizou e foi o maior sucesso. Por conta disso, eles resolveram se juntar de vez e seguir carreira na música, já que tinha muita gente querendo contratar show com galera elogiando o som. “Pouco tempo depois da estreia da cypher, nós conversamos sobre como era importante o grupo ter uma figura feminina negra e LGBT, assim fechamos com a Apuke“, explica Guigo sobre a entrada da DJ na equipe, fechando o QQ se firmou como seis artistas.

Poucos meses depois da cypher viralizar, o Quebrada lançou seu primeiro EP, o “Ser – Sobre Existir e Resistir“, com cinco músicas. Todos os temas circulam por situações do cotidiano dos artistas, além de músicas de amor, orgulho negro, LGBT e muito mais.

Trabalhos como os do Quebrada Queer mostram o quão importante a música pode ser na vida das pessoas. Esses seis jovens se reuniram para contar em suas músicas problemas que enfrentam no cotidiano, e por conta deste relato, dão forças para mais pessoas que passam pela mesma situação.

Isso, somado à felicidade que é ver nossos corpos representados, seja ele o gordo, o negro, o LGBT, também é muito satisfatório. “Nossa música, por ser rap, faz parte de um recorte social e automaticamente de todas as pessoas que vivem dentro desses recortes. [As pessoas] ao ouvirem nossos relatos, se identificam com muito mais emoção e demonstram isso das melhores maneiras possíveis. Nosso público é majoritariamente periférico e é lindo ver como eles são fiéis a nós e ao nosso trabalho”, explica Harlley sobre o feedback da galera.

Hoje o Quebrada Queer é referência pra um monte de gente, mas os membros do grupo cresceram sem ter uma personalidade LGBT que os representasse no mundo da música. “Na minha adolescência ouvi muito rap, peguei o começo do Emicida, Rashid, Projota… E eu me sentia representado por todas as questões de homem preto de quebrada que eles colocavam, isso me fez entender muita coisa”, explica Lucas. “Quando a Karol Conká apareceu toda autêntica, foi uma das minhas inspirações também, mas enquanto gay era impossível me ver ali. Eu não tinha referência, não tinha em quem se inspirar, até quando surgiu o Rico Dalasam e foi o estalo que eu precisava pra acreditar em mim”.

“A diversidade no rap tá acontecendo bem devagar, mais ainda tem muita coisa que dificulta pra gente ainda, desde um contratante até os próprios artistas, que não é a maioria, mas teve bastante artistas do rap que nos deslegitimou. Disse que a gente não é rap, e só por conta de sermos gays”, comenta Lucas sobre a caminhada do hip hop e do mercado musical por um espaço mais inclusivo.

Não é só no rap que as coisas estão mudando, no funk, por exemplo, temos Ludmilla, que recentemente assumiu namoro com sua dançarina, e MC Rebecca, que é bissexual declarada e também a MC Xuxú, que é trans. Precisamos continuar lutando por representatividade e pelo fim de todos os preconceitos para que, no futuro, todos possamos nos inspirar em pessoas parecidas com a gente. Independente dos nossos corpos, raça, gênero ou sexualidade. #SomosPlural

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