Mano DJ é produtor e descobridor de talentos
Podemos dizer que o sonho do menor na periferia mudou. Se antes era ser jogador de futebol, hoje a garotada se divide entre os que querem ser um astro da bola e os que desejam ser um artista de sucesso no funk. E com o mercado cada vez mais profissional, não adianta mais só ter talento, você precisa saber promover o seu trabalho do jeito certo e no momento certo. Wanderson Cardoso de Oliveira, 25, é um desses garimpeiros de talentos do funk, ou melhor, o Mano DJ. Ele, que além de DJ é um dos produtores musicais na KondZilla Records, já trabalhou com centenas de MCs pelo país, como: MC Bin Laden, MC Brinquedo, MC Pikachu, entre outros. Além disso, é DJ do MC 2K há mais de cinco anos e já fez diversas collabs com produtores de fora. O Portal KondZilla aproveitou uma tarde e encostou no antigo estúdio do produtor para saber mais dessa história de revelar talentos. Confira:
Cedo ou tarde, o Portal KondZilla acaba encostando no Helipa. Não é atoa que essa quebrada seja um berço de talentos periféricos, já que conta com quase 150 mil habitantes. A história do produtor e da comunidade se entrelaçam desde o começo, e por isso seu antigo estúdio serviu de local para a conversa. Afinal, produtor que se preze faz do estúdio sua segunda casa, e com Mano DJ não foi diferente.
O Studio Bem Bolado recebe a garotada de todas as idades e de todos os lugares do Brasil, geral em busca do mesmo objetivo: ser uma estrela no mundo do funk. O primeiro passo para virar MC é gravar uma música. Logo, cabe a cada talento procurar o produtor que saiba trabalhar com a sua música e que também caiba no orçamento. Mano DJ aproveita para fazer um paralelo sobre a nova geração com a molecada de 10 anos atrás.
“Lá em 2007, os recursos eram menores. A garotada tinha que correr de uma forma diferente. Hoje tem um talento em cada esquina, tem muito DJ, produtor, MC com talento [nas quebradas]. Minha missão é ajudar eles no que eu conseguir, sempre mostrando como funciona esse mundo”, explica.
Nascido em São Luiz, capital do Maranhão, Mano DJ se mudou pro Helipa ainda criança. Uma curiosidade: a região do Heliópolis é um dos maiores redutos nordestinos da cidade de São Paulo – já falamos um pouco dessa quebrada nessa resenha com o MC 2K. Isso foi um fator determinante na carreira dele, que se auto-intitulou “Mano” como nome artístico, já que: “Wanderson não é um bom nome artístico, daí já aproveitei pra homenagear o Mano Brown, né?!”.
Ser um “descobridor de talentos” não é algo que você acorda num dia e decide ser. Ter faro para o sucesso depende de muita experiência, aprendida no dia a dia e com acertos e erros. Mano DJ explica que começou no funk em 2007, admirando a galera do Rio de Janeiro e suas montagens, mas sua paixão pela arte de discotecar veio bem antes, por conta do amor pelo rap. Só depois de um tempo trabalhando como DJ, foi que o funk tomou conta da sua vida. Lutador de capoeira desde criança, ele ganhou o apelido de DJ ainda na adolescência, por “mexer os braços como se tivesse mexendo numa pick-up de DJ”.
No Helipa, o pessoal já sabia da paixão do cara por esse negócio de ser DJ. Certa vez, um amigo fez uma festa e convidou ele pra ir se divertir. Chegando lá, ele recebeu a intimação para tocar na festa.
“Cheguei lá pra me divertir e me colocaram pra tocar de surpresa. Tomei um susto, mas me dei bem “, conta de forma nostálgica. “No dia seguinte, uma mulher chegou pra mim e perguntou se eu era o DJ. Disse que sim, e ela falou que queria me contratar para uma festa. Tentei explicar que DJ era meu apelido e que ainda tava começando, não tinha experiência, mas ela não quis saber e me contratou. O engraçado é que eu nem sabia o quanto cobrar (risos)”, brinca ele.
Mesmo que o produtor tenha saído do Nordeste quando criança, ele não perdeu a admiração pela cultura de lá. Essa influência fez com que Mano se apaixonasse pelo arrocha que vem surgindo dentro do ritmo carioca (falamos do arrocha-funk aqui), inclusive adotando o arrocha pro seu repertório, sendo responsável por diversas produções de arrocha-funk, como: “Arrocha do Helipa“, do MC DH, “Patricinha do Arrocha“, do MC Tchelinho, e a mais recente delas com o MC Bin Laden, em “Sentinela”.
“No Helipa a galera escuta muito forró. Hoje em dia, não tem tanto fluxo como antigamente. O forró, o brega e o arrocha tomaram conta. Daí acabei colocando o funk no meio disso e a galera acabou gostando. Nas festas por aqui toca muito arrocha funk”, conta Mano DJ, que já fez até vídeo-aula ensinando o pessoal a como produzir um bom arrocha funk.
Ainda na época da ostentação, quando o funk começou a se estabelecer em terras paulistanas, Mano DJ era um dos responsáveis pela equipe “Bem Bolado”, sucesso no Helipa. Nesse época (começo da década de 2010), as equipes de som eram febre nas quebradas, principalmente nas quermesses, que ainda resistem com “a temporada dos fluxos”.
E foi em uma dessas quermesses que o DJ conheceu Emerson, um empresário que estava começando a tocar sua produtora, uma tal de KL Produtora. “O Emerson estava começando e me disse que tava precisando de um DJ e tal. Eu topei e começamos a trabalhar. Lá foi uma etapa muito legal da minha vida”.
Na KL Produtora, Mano DJ diz que percebeu esse olhar para enxergar bons talentos, trabalhando com nomes como: MC Kevinho, MC Bin Laden, MC 2K, MC Brinquedo, MC Pikachu, Os Cretinos… vish, é muito nome.
Outro destaque da época, foi a visibilidade global pro seu trabalho. Mano teve contato com diversos produtores estrangeiros de alto cacife, como o americano Skrillex e o português Branko – esse último chegou a dar um rolê no Helipa e levou o DJ para o Boiler Room. Na semana passada (6), o produtor brasileiro abriu as portas do estúdio da KondZilla Records para o Baauer, produtor responsável pelo hit global “Harlem Shake”.
“Os gringos gostam de funk, e nós temos que valorizar nossa cultura também. Já viajei bastante por aí e vejo que a gente aqui no Brasil não dá muito valor pro funk, isso que é f*da”, lamenta.
No currículo ele já acumula mais de uma década na estrada. Mano DJ já viu e participou de muita coisa no sobe e desce que é o funk. Até por isso, faz questão de lembrar a molecada que o sucesso não vem do dia pra noite.
“Tem gente que acredita que é só produzir comigo, ou com o DJ Jorgin, ou com o DJ Perera, que a música vai deixar ele famoso na hora. E não é assim. Lógico que tem uma exceção ou outra, mas tudo que vem fácil, vai fácil”, dica do experiente produtor. “E nunca pensar em desistir, principalmente no funk. Quem tá começando tem que ter foco e lutar até o final, pois uma hora alguém vai reconhecer seu talento”.
Você pode aproveitar e marcar um horário com o produtor na KondZilla Records. É só entrar em contato pelo email: estudiorecords@kondzilla.com.
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