150BPM

Sucesso no Rio de Janeiro, o Arrocha Funk vem ganhando espaço como ritmo bem brasileiro

03.05.2017 | Por: GG Albuquerque

Dentre as diversas novidades que surgem no movimento do funk, a mais recente é o Arrocha da Penha. A música que recebe o nome do movimento, saiu das mãos do produtor Rennan da Penha, junto do MC Flavinho, que por uma brincadeira acabou chamando a atenção de todos. Devido a influência dos diversos ‘forrós’ que aconteciam no bairro da Penha, a dupla arriscou e acertou na música. Agora, aos poucos, o movimento começa a tomar corpo. E para você sacar mais dessa história, o Portal KondZilla vai te explicar em detalhes.

O MC Flavinho, cantor do sucesso, já havia emplacado alguns hits no Rio de Janeiro, como “Ela Me Viu”, “Namora, Bobo” e “Piranha Safada” (também conhecida como “Chama no Whatsapp Pra Poder Entrar na Vara, que virou até meme). Porém, nada comparado ao impacto de “Arrocha da Penha”, cujo sucesso ultrapassa os 6 milhões de visualizações, e não só impulsionou sua carreira, como lançou uma nova onda: o “funk arrochado”, um ritmo mais acelerado e sincopado que mistura o pancadão com o popular gênero nordestino.

“O ‘Arrocha da Penha’ surgiu através de um amigo meu. Eu estava no estúdio, de bobeira com outro responsável por minha carreira, o DJ Zack 22. Aí ele me mandou a letra, eu gostei porque vi que a música tinha conteúdo, e gravei”, conta Flavinho. “Gravei em 130 BPM, normal. Aí o Zack falou pra mandar o acapella pro DJ Rennan da Penha, porque ele queria fazer uma música minha. Foi aí que surgiu o ‘Arrocha’”.

As músicas anteriores de Flavinho apresentavam samples inusitados, fazendo referências a outros gêneros musicais – “Ela Me Viu” usa o hit EDM “Am I Wrong”, de Nico & Vinz, e “Piranha Safada” tem o riff de guitarra de “Otherside”, do Red Hot Chilli Peppers. Mas não saíam do formato tradicional do funk. Já “Arrocha da Penha”, pelo contrário, foi uma faixa totalmente inovadora.

O MC conta que toda ideia surgiu do DJ Rennan da Penha e admite que não esperava tamanho sucesso. “O Rennan criou a base, os pontos, tudo. A gente não esperava que ele fosse fazer isso, sinceramente. Quando ele produziu, a rapaziada toda do estúdio gostou porque era um bagulho diferente, um bagulho inovador, porque os funks tão tudo repetitivo. E ele fez o bagulho do jeito dele”.

“Sinceramente, eu não levava fé nessa parada, não. Falei: ‘esse cara tá maluco’. A gente começou a trabalhar a música e graças a Deus foi o sucesso que foi”, diz Flavinho, que aproveitou e já lançou o “Arrocha da Penha parte 2” (também chamado de “Lista Negra”), “Arrocha dos Milionários”, e avisa que tem mais no gatilho.

A novidade do funk arrochado agradou à todos. Em pouco tempo, os DJs dos bailes cariocas entraram na onda e lançaram seus próprios arrochas ou fizeram versões das músicas em alta no momento. De acordo com Rennan da Penha, a DJ Iasmin Turbininha foi uma das primeiras a postar a música do Flavinho em seu canal no YouTube e é uma das maiores divulgadoras da novidade, com incontáveis vídeos de Arrocha Funk. A mistura também se espalhou por São Paulo, abraçada pelo Mano DJ em ‘Patricinha do Arrocha’, com o MC Tchelinho; pelo DJ R7, que produziu o Flavinho no medley ‘Arrocha Desgraçado’, e também o DJ Perera arriscou uma levada de arrocha em “Hit do Verão”, com o MC Kekel.

Rennan da Penha explica que não criou uma base própria de fato. Ele construiu o ‘Arrocha da Penha’ a partir de um sample de baixo e da batida do arrocha. “Eu via nego indo pras festas e falando ‘Arrocha!’, postando no Facebook ‘hoje é dia de arrochar’, por isso botei o nome e peguei a batida de Forró. Aqui na Penha, todo domingo tem um forró, então a gente escuta muito essas músicas. E a galera na Nova Holanda e Parque União tá sempre ouvindo o ‘Arrocha da Penha’”, detalha.

“Eu não inventei o Arrocha, mas acho que foi a primeira vez que misturou com funk”, salienta o DJ. De fato, o Arrocha é um ritmo popular há anos em todo o Nordeste. E não só é um gênero musical, como também uma dança. É dançada em casal, juntinho. É como um Forró Pé de Serra, só que mais sensual, com um encaixe de pernas e um rebolado ostensivo. Daí que surge o termo “arrochar”.

Por esta razão, os primeiros arrochas são mais românticos e lentos, como as canções dos cantores baianos Silvano Salles, Pablo (ex-Pablo do Arrocha e autor da música “Homem não Chora”) e Tayrone (ex-Tayrone Cigano) que chegaram no sudeste entre 2010 até 2012.

A música atual é mais gingada do que o forró tradicional, incorporando o som de metais, o swing do pagodão baiano, teclados e, conduzindo a melodia, um violão, guitarra ou saxofone. Mas o que caracteriza de fato o arrocha é sua levada na bateria, com toques agudos do chimbal e o grave do bumbo. É aquele ‘tum-tum-tum-tst-tst’ que se repete por toda a música, bem parecido com a batida do dancehall jamaicano. Se liga nas músicas abaixo:

Após o sucesso da parceria de Flavinho e Rennan, o Arrocha foi apropriado pelos funkeiros do Rio de Janeiro que têm contato com imigrantes nordestinos e suas festas nas favelas. Enquanto isso, em Pernambuco, o MC Troia brilha ao unir o arrocha com o brega eletrônico. E os paraibanos Aldair e DJ Lowhan unem forças, bebem da música da Jamaica e estouram nos paredões. Tudo isso é uma mostra do fluxo de ideias na produção da música popular do Brasil e prova de que o Arrocha, criado na mistura dos mais diversos gêneros, tem a síntese como gênese. Para o Funk, especificamente do Rio, representa mais uma mudança do gênero que por quase 20 anos foi calcado no Tamborzão.

Rennan da Penha, que também é expoente da “putaria acelerada” em 150 BPM, defende a atualização e ampliação do Funk. “Aqui no Rio é assim: é difícil alguém tomar liderança. Quando toma, primeiro geral crítica. E quando dá certo, os que criticaram tentam abraçar a causa. É sempre assim e sempre vai ser”, aponta. “Se eu inventar um ritmo novo, como fiz no ‘Arrocha da Penha’, ou por exemplo fazer um funk em modo de hip hop, eletrônico e isso estourar, os DJs vem na mesma levada”.

Para o produtor, o momento é de novas ideias, absorvendo diversas influências e em contextos locais. “Tá na hora de parar com essa guerra. O Funk é do Rio, mas não quer dizer que ninguém mais pode cantar Funk. Os caras da Bahia cantam o Funk do modo deles, e aí quando os MCs de São Paulo cantam o Funk dele e estouram os caras [do Rio] ficam putos. Tem espaço pra todo mundo, o sol nasceu para todo mundo”, conclui.

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