Coronavírus / Covid-19

Como a zona sul de São Paulo vem reagindo a Pandemia do novo coronavírus

26.05.2020 | Por: Wenderson França

Para entender como as favelas de São Paulo estão reagindo a pandemia do novo coronavírus, vamos falar sobre a zona sul, nos bairros do Grajaú e Jardim Ângela. Pega a visão: fomos atrás de uma professora de quebrada e ela deu o papo sobre o corre da favela e falou sobre a importância do auxílio emergencial; o barbeiro explicou como está sendo viver sem sua única fonte de renda e o medo de viver com uma pessoa grupo de risco dentro de casa; teve também uma ONG mostrando o valor do trabalho social em tempos de pandemia e além de tempos difíceis como esse. Ficou curioso? Cola com o Portal KondZilla.

Jardim São Luiz, zona sul de São Paulo

Grajaú é um bairro de São Paulo com cerca de 360 mil habitantes, sendo o mais populoso da capital, enquanto Jardim Ângela conta com 295 mil, segundo dados da prefeitura. Os dois bairros estão localizados nas quebradas da zona sul, neste caso, as margens da Represa Guarapiranga. Segundo o Mapa da Desigualdade, Jardim Ângela é o distrito que se morre mais cedo dentre todos os 96 da capital paulistana.

Falando sobre coronavírus os números no Brasil não param de crescer, não é à toa que ultrapassamos mil mortes diária no país e chegamos a mais de 22 mil pessoas falecidas no total da soma até o último dia 25 de maio. Sim, eu disse vinte e duas mil famílias que perderam um ente querido. Achou pouco? Se jogarmos os termos ‘coronavírus e favela’ no google veremos que as coisas estão muitos mais feias nas diversas matérias, mas também notamos que tem muita gente se renovando, aproveite pra ler Como Cidade Tiradentes Vem Reagindo a Pandemia do Coronavírus.

Coronavírus e o dia a dia dentro das favelas

“O financeiro está afetado, isso significa ter que viver de forma limitada com o que temos. Porém, eu ainda acho que estou bem. Tenho um teto, consigo comer o básico e ainda ficar o máximo segura desse vírus”, deu o papo Fernanda Souza, 25, educadora, jornalista e moradora do Grajaú. “Mas, não temos os mesmos recursos tecnológicos que a maioria das pessoas tem. Internet? Mano, nem todo mundo tem acesso à isso. Inclusive, por atuar na educação, acredito que o Enem precisa cancelado. Você acha que nesse momento é isso que as pessoas sem suas refeições diárias estão pensando?”, refletiu. O Ministério da Educação anunciou o adiamento do Enem no último dia 20.

Proprietário da barbearia que carrega seu nome de batismo, mas que se encontra fechada durante a quarentena, Paulo José, 20, também é da quebrada do Grajaú. “Onde eu moro muitas pessoas estão agindo normal, muitos salões funcionando, quase nada mudou. Mas eu resolvi obedecer a quarentena e todas as medidas de segurança por conta da minha mãe que mora comigo e está enquadrada no grupo de risco”. Ele teve que adaptar o trabalho ao momento atual da pandemia. “Não abro e quando corto o cabelo de algum amigo, me protejo ao máximo: luva, máscara e álcool em gel. Sem trabalhar e sem receber as contas da nossa casa já estão tudo atrasada”. Acompanhe o trabalho de Paulinho no Instagram.

Regina Paixão, 45, presidente da Sociedade Santos Mártires, localizada no Jardim Ângela, comentou sobre a situação nas periferias da zona sul de São Paulo. “Infelizmente a Covid-19 se espalha rapidamente nas periferias e coloca muitas pessoas em risco. Temos uma comunidade assustada, amedrontada, sem recursos, sem água até para lavar as mãos, sem condições de moradia que os impede de ficar em casa”, destacou ela. “Da mesma forma que em muitos lares algumas pessoas lutam para manter o emprego, correndo o risco de sair para trabalhar e voltar pra casa com o vírus adquirido muitas vezes no transporte coletivo que está lotado”. Pesquisa de 2019 aponta que 35 milhões de brasileiros vivem sem saneamento básico.

A quebrada fazendo pela quebrada

Comunidade, vem de comunhão, logo para quem é de favela o termo significa fechamento. “A comunidade não é toda essa bagunça que a mídia tenta mostrar. Por aqui agentes de saúde estavam com megafone gritando nas ruas e passando informações para galera se conscientizar”, explicou Fernanda. “Esquecem de contar das ONGS e ativistas que estão mobilizando os itens básicos para as pessoas que não tem, gente que está fazendo máscara a preço de custo. Tem tudo isso!”. O bairro do Grajaú está entre os cinco da cidade com maior números de casos e mortes causado pelo covid-19.

Regina, linha de frente na arrecadação de alimentos, kits de higiene básica e verba para ajudar as favelas da zona sul, complementou. “Com o avanço do coronavírus começamos a nos preocupar com as periferias e pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social”, disse. “Iniciamos uma campanha aberta para arrecadar alimentos, itens de higiene, limpeza e também dinheiro em conta específica para atender o maior número de pessoas possíveis”. A Sociedade Santos Mártires entregou mais de 5 mil cestas básicas segundo a presidente até o último dia 21 de maio.

No caso de Paulo José, a união vem de dentro de casa. A mãe ajuda cedendo o espaço e ele com dinheiro dentro de casa. “O que dá um alívio é que não pago aluguel, então está sendo menos mal do que poderia ser”. O cabelo dos amigos, cortado com todo cuidado uma vez ou outra, é mais um auxílio. “As vezes corto o cabelo de algum amigo mais próximo da rua, mas é só final de semana e olhe lá. Mesmo assim não chega a três por semana”. Conhecido no bairro como Paulinho, o garoto inaugurou o salão no dia 1º de fevereiro de 2019. Com a pandemia, ele não está conseguindo pagar o investimento feito na reforma do espaço.

Perspectiva de futuro

O esperado para o futuro é simples: respeito ao isolamento social, paz a quem perdeu um ente querido e a possibilidade de poder trabalhar tranquilo de volta. “Esperamos que tudo isso se resolva, lamento pelas famílias que perderam algum ente querido, peço também para as pessoas respeitarem a quarentena. Não é uma gripezinha, tudo isso é muito sério”, expressou Paulo José. “Meu desejo é que essa pandemia passe para que nós barbeiros e todos os outros profissionais possam voltar a trabalhar normal. A pandemia quebrou as pernas de muitas pessoas, vários estabelecimento fecharam as portas, tudo isso é muito triste, não é fácil saber que o sonho de alguém teve que encerrar”. Segundo o IBGE o desemprego subiu no país para 12,2% deixando 12,9 milhões de brasileiros desempregados, em janeiro a taxa era de 11,2% com 11,9 milhões desempregados.

“O futuro? Pra nós sempre foi incerto”, iniciou o raciocínio a educadora e jornalista Fernanda sobre o futuro. “Acho que não estamos tão impactados, tão desesperados [com a pandemia], porque na periferia temos muitos problemas que matam milhares dos nossos no cotidiano. O vírus parece mais uma fase ruim, ou como diria meu avô, ‘Me lembra quando estávamos morrendo de lombriga na roça'”, concluiu.

Disposta a continuar com o trabalho voluntário Regina Paixão protestou. “Temos uma comunidade com milhões de trabalhadores informais desesperados buscando outras alternativas de renda, que precisa entrar nas filas para conseguir uma cesta básica, porque o auxílio emergencial que chegou para os militares, não chegou para quem mais precisa”. Mesmo diante de tudo isso seguem com fé. “Mas temos esperanças! Sim, esperanças que as redes de solidariedade permaneçam firme no país e no mundo, que os partidos se unam no objetivo de combater o mal maior e nossos governantes deem prioridade a vida”. Entenda como ajudar a ONG na campanha Jardim Ângela contra o Covid-19.

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