Djay W: o produtor que está desacelerando o funk
Pode reparar, quando alguma coisa vira tendência, muita gente vai querer fazer igual, como se existisse uma receita certinha para o sucesso. No funk é a mesma coisa, e atualmente o 150 BPM é um dos ritmos que mais crescem dentro do gênero. Isso não significa que não pode vir alguém que lute contra a maré. Esse é o caso do Wayne Fernando, 22, mais conhecido como Djay W, o produtor mineiro que está modernizando o beat rasteiro – uma batida desacelarada do funk. O Portal KondZilla bateu um papo com o DJ pra saber mais sobre seu trampo.
Se você não está acostumado com o termo, o beat rasteiro não é exatamente uma novidade, já que ele era comum entre 2000 e 2003. O que o Djay W trouxe foi uma atualização para o momento atual. Além de resgatar o ritmo que andou no esquecimento por causa do aceleramento das batidas cariocas e o funk rave, o produtor incrementou harmonia, deixou a batida mais turbinada e vem focando no consciente.
“O beat [rasteiro] que todo mundo usa é o seco, sem nada. O que eu fiz foi colocar instrumento, bumbo e caixa pra deixar ele mais musical”, explica Djay W sobre as diferenças no rasteiro.
Apesar de ser uma aposta do DJ de se jogar nesse movimento [que deu certo], o produtor de Minas Gerais, que hoje vive em São Paulo, acredita que o rasteiro vai crescer cada vez mais. “A música vai se renovando. Hoje eu fiz isso, mas amanhã pode chegar um cara e renovar ainda mais o que eu fiz, ou até eu mesmo posso fazer isso”.
“Comecei a brincar com os programas de DJ, como se fosse um jogo. Vim de uma família carente e não tinha internet em casa, então baixei o Virtual DJ no computador do meu amigo e levei pra casa”, lembra ele sobre como começou a produzir. “[O Virtual DJ] não é um programa de produção, e sim de tocar em balada, de DJ mesmo. Nem sei como consegui produzir nele, mas comecei a ver um futuro nisso”.
Duas coisas na infância de Djay W influenciaram o rapaz a trampar com música. Quando criança, W tocava bateria na Igreja e seu tio era MC. Isso sem falar, claro, do funk mineiro que é a alma dos trabalhos do DJ. “O funk de Minas é muito influente. É uma coisa de coração. É tipo quando você quer ser jogador de futebol. Fui muito influenciado pelos MCs da minha quebrada, que estouravam e saiam de lá”.
Nós já te explicamos um pouco sobre o funk mineiro, e é preciso saber que ele nem é recente. Ao lado do funk carioca e da baixada paulista, as produções de Minas são parte do pilar gênero. “O funk mineiro foi um dos primeiros, depois do Rio de Janeiro e teve ainda o da baixada, mas o de Minas é mais ou menos da mesma época, anos 1990. Eu sou de 1996, então peguei esse começo nas reprises da rádio. Tocava muita coisa atual, mas coisas antigas também”.
Foi nessas que Djay W conheceu nomes como Cidinho e Doca, Mc Márcio e Goró, e vários outros MCs. “Por isso eu ouvi muito ‘Miami’. Teve uma época lá na minha cidade que uma música do Mr. Fia tocou mais de 70 vezes na rádio no mesmo dia. Foi uma revolução do funk consciente. Lá da minha área também tinha o MC Marlin da GM, MC Romeu, MC Caçula, Jefinho BH“.
Em “Roda Gigante“, MC Rodolfinho canta sobre superação e a mensagem consciente da música tem muito a ver com o passado de Djay W. Com apenas 22 anos, o produtor começou a mexer com música aos 12 anos, quando ainda morava no interior de Minas Gerais, e acreditando no seu potencial veio para a SP decidido a mudar de vida.
Antes de chegar em São Paulo, Djay W passou por várias fitas que o moldaram, principalmente quando saiu de Governador e foi pra Belo Horizonte. Nesses oito meses em BH, o produtor passou fome e chegou a morar na rua, tudo em prol do sonho de trabalhar com funk. “Quando você quer muito alguma coisa, você tem que estar ligado que pode dar certo ou pode dar errado. Infelizmente deu errado na época, mas isso me motivou. Voltei pra minha cidade determinado”.
“Não tive o apoio da minha família porque lá em Governador Valadares não tinha funk, então automaticamente não tem apoio, sabe? As pessoas desacreditavam, principalmente minha mãe, que era da igreja, tá ligado?”, conta ele.
Por mais que tenha passado por várias dificuldades, o mineiro não pensou em largar o funk. “Um tempo depois, cheguei na minha mãe e falei: to indo pra São Paulo amanhã. Ela ficou doida, disse pra eu parar de mentir e eu insisti na ideia”, lembra ele. Com o sonho de viver de funk, o produtor veio pra cidade com o dinheiro do bolso, que ganhou com um show do MC GB. A mudança foi quando ele tinha 18 anos, em 2016. “Só tinha o dinheiro pra vir e pra comer um bagulho. Em SP, trampei no Funk da Capital, fazia meus corres e conseguia pagar meu aluguel”.
De 2016 até o meio de 2018, quando o Djay ganhou mais notoriedade, ele produziu tudo que é tipo de funk, como “Avistou a Tropa”, do MC GB (2016) e “Sabor de Mel”, do MC Ruzika (2017), e depois foi se encaminhando mais pro funk consciente, com “Roda Gigante”, e “Velho Ditado”, o mais recente sucesso do Rodolfinho, produzido por ele, e muito mais.
Para W, é importante repassar sua história. Não pra se vangloriar de ter conseguido nem nada, é pra alertar a todos e pra que ninguém precise passar pelo mesmo. “Hoje posso dar um conselho. Não tive alguém que me apontasse qual era o caminho mais fácil ou qual era o caminho cheio de espinho. Agora eu posso fazer isso, guiar alguém. Essa é a missão da gente que tá no funk há muito tempo”.
Muito por conta da sua história, o produtor é fiel ao consciente e trabalha de perto com os MCs pra passar uma mensagem positiva nas letras pelo funk. “Tem uma galera que não tem noção do que é. Eu to fazendo funk, mas eu sei o que é funk. Sei o que quero pra minha vida”. Seguro do que quer, pronto para enfrentar os desafios da vida e consciente de que se não conseguir o plano é tentar de novo, DJ W está pronto para o mundo. E pronto para inspirar mais jovens a seguir o mesmo caminho.
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