Empreendedorismo

O jovem, o trampo, a dança das engrenagens, e o alimento para a alma

19.10.2022 | Por: Gloria Maria do Instituto KondZilla


Escrito por Lucas Vale

Juventude e mercado de trabalho podem ser palavras que conflitam entre si. Quem não conhece um parça que não se encontra em nenhum caminho? Será que é prudente decidir o rumo a seguir para o resto de uma vida, quando se tem 16, 17 ou 18 anos?

A pressão é grande. Expectativa dos pais, quando se tem os dois. Alto custo de vida somado a um baixo poder de compra. Há a necessidade de trabalhar desde cedo. E pra ter um imóvel para chamar de seu? Nossa geração sente arrepios só de pensar na palavra “financiamento”. E o frio na espinha só de pensar em pagar um imóvel por 30 anos? Como assim, 30 anos pagando por algo?

Isso se você comprovar que pode pagar por isso, por tanto tempo – e tiver dinheiro para todas as entradas na mão. Caso contrário, o mais comum é viver de aluguel.

Falta perspectiva de melhoria para o jovem de hoje. Até porque, a gente não quer só viver para trabalhar. Queremos trabalhar para viver, mas sem perder a parte em que aproveitamos a vida.

Para falar sobre este assunto, vou parafrasear trechos da simbólica música “Comida”, dos Titãs, composta por Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto.

“Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?”

A vantagem de ser jovem é que você tem um certo tempo para experimentar, se permitir errar, a fim de entender melhor onde quer estar, e o que quer fazer. Mas será que em meio à necessidade, você tem alguma escolha? A gente vai pegando no tranco, em uma engrenagem que não criamos, mas fazemos parte, e seguimos girando.

Já que bebida é água, e comida é pasto, o que alimenta a sua alma de verdade?

Nossas decisões devem ser conduzidas pelo sentimento de que estamos no caminho certo, e que somos úteis no que fazemos. Não há nada mais satisfatório que enxergar no próximo que, você, é importante e útil no que faz.

Seja para fazer um corte, ou abrir a sua própria barbearia. Ou quem sabe, ser músico e ter o seu próprio estúdio. Para ser vendedor, ou abrir a sua loja. A chave secreta para a melhoria ainda não mudou de nome: estudo e capacitação.

Felizmente, hoje em dia, isso não significa necessariamente que você irá comer livros, ou até mesmo ir para uma faculdade. Sabemos que nem todo jovem periférico tem acesso à universidade, e que o acesso à internet têm índices bem mais altos. E, “em pleno 2022, ano da tecnologia”, se capacitar pelos meios possíveis é fundamental.

Seja com cursos profissionalizantes, vídeos sobre um determinado segmento, estudos publicados, grupos de uma determinada área ou nicho. Hoje em dia, quem pesquisa e se conecta com o mundo que busca, consegue andar pra frente. Porém, isso não diminui a importância de uma especialização ou graduação em determinada área, e a necessidade de que haja políticas públicas que levem o jovem até lá. O estudo é necessário, e a cota é ir atrás, com as mãos e os dedos.

Embora existam obstáculos, o resumo é que quando a gente sabe o que quer, a gente enxerga lá longe. Mas primeiro, deve haver condição de saber o que quer. Algo bem diferente de simplesmente entrar na dança das engrenagens do trabalho precarizado.


“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”

Não dá pra viver trabalhando só para ter o que comer. E o que alimenta a alma?
Cultura, lazer e arte são alicerces fundamentais para uma sociedade crítica, pensadora, diversa, e mais feliz. Porém, havia uma pedra no meio do caminho.

Um governo que matou a cultura por sufocamento, a tratando como algo irrelevante, em atos como o esvaziamento da pasta de Cultura, a extinção do Ministério da Cultura, o desmonte da Agência Nacional do Cinema (Ancine), acusações de censura, citações nazistas, alusão à ditadura militar, troca de gestores, moral religiosa para escolha de projetos a serem financiados, eu poderia seguir, infelizmente, dando mais exemplos do que gostaria.

Os rumos da cultura de um Brasil pós-pandemia permanecem incertos, em termos de políticas públicas. Houve uma redução de mais de 46% no orçamento federal para políticas culturais entre 2011 e 2021, e a queda na participação do setor privado em projetos relacionados à cultura dificultou ainda mais a retomada do setor.

Embora a Câmara dos Deputados tenha aprovado a Lei Aldir Blanc durante a pandemia após pressão popular – o que certamente deu algum ar ao setor -, a Lei Paulo Gustavo, que seria uma continuação do incentivo, foi vetada pelo presidente na noite de 5 de abril de 2022.

Quais rumos nós queremos quando pensamos em cultura? Será que essa é uma preocupação aos olhos dos nossos governantes? A participação do jovem nessa reconstrução será fundamental, e irá decidir sobre o futuro, pois no presente, o que podemos ver são os escombros.

“A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro, e não pela metade…”

O jovem quer progresso, quer trabalhar, tem energia e o mundo nas mãos. A luta deve ser sempre por melhores condições a todos, para que possamos sair da dança das engrenagens, enquanto recolhemos os cacos no chão.

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