Coronavírus / Covid-19

O funk do MC Marks, compositor de “Deus é Por Nós” e “Céu de Pipa”, é político e motivacional

23.07.2020 | Por: Wenderson França

A pandemia causada pelo novo coronavírus chegou até o Brasil e com o distanciamento social estabelecido, muitas pessoas ficaram sem rumo na vida. Com grande parte dos funkeiros não foi diferente, afinal como sobreviver sem os bailes? Sem dinheiro, sem produtora e prestes a ser pai, MC Marks, compositor dos sons “Deus é Por Nós” e “Céu de Pipa“, passou a viver uma instabilidade financeira e motivacional no início da quarentena e foi onde veio a pedir luz aos céus, o que parece que veio na forma de música. Cola com o Portal KondZilla e saiba muito mais sobre o artista que chegou largar três anos de faculdade pelo funk. 

“Jesus Olhou Pra Mim” fala da atual fase de MC Marks e é a nova aposta do artista

A composição dos sucessos

Nascido nas quebradas de Americanópolis, zona sul de São Paulo, Paulo Alexandre Marques, o MC Marks, veio emplacar os hits “Deus é Por Nós” e “Céu de Pipa”, que juntos somam mais de 65 milhões de visualizações só no Youtube, no início da pandemia, depois de ficar sem produtora e descobrir que seria pai. Mas antes mesmo disso tudo o artista já tinha alguns sucessos na internet como: “Favelado Que Te Ama“, com o MC WM (55 mi), “Logo Eu“- solo (28 mi) e “Sem Boi” – (9,6 mi).

“Chegou a pandemia, descobri que teria um filho e acabei saindo da minha antiga produtora. Já estava sem dinheiro até para comprar as coisas em casa, com tudo isso fiquei mal demais, de verdade, me internei uns dois dias dentro do quarto e só sabia chorar”. Sem saber como faria, Marks pediu uma direção aos céus e veio a música “Deus é Por nós“. “Eu disse ‘Deus se o senhor existe me manda uma mensagem de conforto’ depois disso comecei a tocar umas notas no teclado e a música saiu em segundos, foi tudo muito rápido, foi Deus que me mandou essa música para me salvar dos venenos”, diz ele.

O som “Céu de Pipa” surgiu nas ruas logo em seguida e foi um achado nos cadernos de composições do artista que vem tentando carreira há quase 10 anos. Ainda assim, para ele a música é um sonho. “É um sonho porque essa não é a nossa realidade. O preto, pobre, favelado não é respeitado em lugar nenhum, pelo contrário é discriminado, oprimido, maltratado, jogado de canto da sociedade sempre”. Para Marks o som é o desejo de ver a favela sorrir. “Uma parada que eu queria que fosse realidade, [cantou alguns versos da música] mas eu acho que nunca vai acontecer e se acontecer não sei se vou estar vivo para ver a favela toda linda”.

Sonhei que a favela 'tava linda
Que todas paredes tinha tinta
Criançada corria na meio da rua
E o céu 'tava cheio de pipa
Ninguém com barriga vazia
E as dona Maria sorria
Tinha até barraco com sacada
Virado de frente pra piscina, acredita?

Letras que inspiram

Pegando o gancho, para Marks, apesar de gostar e ser um dos sons que mais consome, ele não canta funk consciente e sim motivacional, com palavras de conforto que serve até para ele mesmo. “A minha música é motivacional, as minhas letras quando eu escrevo, mesmo que com uma melodia triste e falando sobre coisas tristes, coloco sempre palavras para motivar as pessoa que estão ouvindo”.  

Tudo começou no pagode, mas a veia para o funk cantou mais forte quando o gênero embalou de vez nas favelas de São Paulo. “Comecei cantar mais ou menos em 2012, mas antes tinha um grupo de pagode, quando o funk ficou forte de vez em São Paulo peguei gosto e desde então nunca mais parei”. Até hoje MC Marks tem um tom mais melódico que lembra os pagodes quando canta e também em suas letras.

Já as dificuldades para poder seguir em busca do sonho não foram poucas não. “Não foi nada fácil até eu conseguir estourar meu primeiro som, tive que sair de casa para morar na produtora, tinha trabalho, fiz três anos de faculdade de sistema da informação e larguei tudo”. Entretanto, o mais árduo foi sair de casa e a possibilidade de poder ser desgosto para família por um momento. “O complicado é que minha mãe é solteira, eu trabalhava e ajudava ela dentro de casa, do nada falei que iria sair, morar em uma produtora, digamos que não iria trabalhar e nem estudar? Minha família em si ficou meio decepcionada, mas era uma parada que estava dentro de mim”.

Sucesso na pandemia, sonhos e a desigualdade no Brasil

Com a pandemia os bailes todos tiveram de ser interrompidos por recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), com isso Marks não faz baile e logo não consegue levantar renda. “Esperar nove anos para isso e quando rola não pode fazer baile é de se pensar né? Mas tudo é no momento de Deus, talvez se não tivesse essa pandemia eu não teria um olhar tão abençoado para o meu interior”. O importante é levar a mensagem e quando tiver que ser vai ser. “Então, não tendo show pra mim está bom também, o que importa é levar a mensagem para cada um, motivar o dia de cada um, quando tiver de ser vai ser o que importa é que levei minha mensagem para mais de 40 milhões de pessoas [quantidade de visualizações na música mais estourada]”.

Sobre sonhos na música o artista disparou. “Meu maior sonho dentro da música é conseguir comprar uma casa para a minha família e deixar ela com a cabeça tranquila”.  No que se refere a conquista ele disse. “Conquistei o meu público, meu carro, é pouco, mas eu já me sinto realizado para quem não tinha nada”.

Com sons cercados de críticas sociais, MC Marks prometeu trazer mais músicas que alertam a favela e pediu por um olhar mais justo para os quebradas. “Que todos sejam respeitados, que tenham um olhar mais justo em relação a dinheiro e divisão de bens, com menos diferenças sociais. O nosso Brasil tem muita diferenças social e está escancarado”. O artista diz se sentir vivendo no tempo da escravidão diante de tudo isso. “Beleza vamos viver no capitalismo, vamos, mas não precisa o rico ter milhões na conta e o pobre dez reais, isso é ai pra mim é como se vivêssemos na escravidão mesmo. Minhas músicas são um como um ato político mesmo, e sem defender bandeira nenhuma, mas sempre pela favela”.

Por fim, Marks deixou algumas palavras para os fãs. “Só agradeço, espero que a mensagem chegue de uma forma da hora para vocês, tenho recebido muitas mensagens de pessoas que estavam desacreditadas da vida, na depressão ouviu o meu som e conseguiu um gás isso é foda. A mensagem de apoio e o conselho do artista. “Não desistam da vida, é bem difícil em meio a tantas turbulências, mas temos que encontrar o lado bom dela todos os dias. Se Deus é por nós, quem será contra nós?”, finalizou fazendo referência a sua música “Deus é Por Nós”.

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