Entrevista

“Eu levo, e sempre levarei a periferia comigo”, diz MC Lan, o cara das quebradas

26.04.2017 | Por: Guilherme L. da Rocha

MC Lan é a personificação do funkeiro atual. Com 26 anos e uma meta de lançar ‘uma música por dia” o cantor lança e acerta em diversas músicas, como em: “Xanaína“, “Aprendestes“, “Fila Indiana“, “Senta no Pau de Quebrada“, “Open The Tcheka“, “Rabetão“… enfim, a lista é grande e só aumenta. Presente nos sons da maior parte das quebradas do Brasil, o cantor é referência de maloqueiro e identificado com a favela, e entre uma gravação de música e outra, ele encontrou um tempinho para conversar com o Portal KondZilla e contar um pouco mais da sua história no funk, do seu jeito maloca e do seu gosto refinado para música.

Atualmente, Caio Alexandre Cruz, 26, é uma das principais referências musicais da periferia e faz questão de afirmar que ele mesmo é, e sempre será, um cara periférico – em todos os sentidos. Isso explica um pouco do sucesso do MC, principalmente nas favelas e fluxos pelo Brasil.

“Como artista, eu queria me expressar, desabafar e transmitir tudo o que sinto para o público. Como sou um cara periférico, vi que o funk era a melhor maneira de fazer isso”, conta o MC, no intervalo da gravação do seu mais novo videoclipe. “E creio que essa minha ligação com a periferia é por eu realmente ser um cara de quebrada. Eu levo, e sempre levarei a periferia comigo”.


*Foto: Leo Caldas

O MC nasceu na cidade de Diamantina, em Minas Gerais, e veio com a família para São Paulo quando ainda era criança. Lan diz que morou em várias quebradas do grande ABC, estudou pouco e sempre foi fã de música. Mas, digamos, que era um gosto um pouco diferente de funk.

“Minha formação musical é com blues e rock. Até hoje, escuto muito Little Richard, Chuck Berry, Pink Floyd, Led Zeppelin. Como artista, minha principal inspiração é o Bob Dylan, acho ele um cara muito foda, simples e reconhecido pelo mundo inteiro”, explica Lan, reverenciando o prêmio Nobel de Literatura que Dylan ganhou em 2016. “E com o tempo, vi que não importava o ritmo, se era rap, rock ou qualquer outro. O importante é você transmitir sua mensagem, e o funk me permitiu isso”.

Os mais atentos podem até reparar as menções especiais que o cantor faz em suas músicas, como ao citar, por exemplo, o álbum ‘Nevermind’, do Nirvana, na música “Open The Tcheka”.

Mas como o Caio, fã de blues e rock, se tornou o MC Lan, um dos maiores nomes do funk putaria do momento? Tudo começou quando o rapaz, há cerca de 10 anos, assumiu o papel de locutor em uma loja de departamentos no Centro de São Paulo. Um empresário de funk achou a voz daquele locutor interessante e o chamou para cantar. Ele tentou se arriscar, mas diz que não deu muito certo.

“Eu saí da loja e gravei uns vídeos cantando. Tentei no funk, no rap, no rock, mas não deu muito certo. Uma vez, como MC, fui abrir um show do Dexter [rapper, ex-integrante do grupo 509-E] e fiquei sem voz, não consegui cantar, foi um fiasco. Lembro que uma mina falou para mim que, se eu dependesse da música, ia virar morador de rua”, conta o MC.

Aquela frase parecia uma profecia. Sem emprego e com a carreira de artista empacada, Caio passou por muitos problemas e chegou a ficar um tempo sem teto.

“Há cerca de cinco anos, lá em meados de 2010, fui preso. Fiquei um ano e meio em uma penitenciária e, ao sair, estava decidido a mudar de vida. No começo, morava na casa de um amigo. Porém, pouco tempo depois, ele me disse que não dava mais para morar com ele e acabei indo pra rua. Mas eu tinha o foco em ser artista, e vi no funk uma oportunidade”, explica.

Foi então que Caio encheu o saco da dona de uma lan house no bairro Jardim Elvira, em São Bernardo do Campo, para conseguir entrar em contato com um produtor e gravar sua primeira música. Foi daí surgiu o nome artístico MC “Lan”.

E assim o MC Lan começou a trilhar seu caminho no funk. Desde o início, há cerca de dois anos, até o sucesso, que chegou com a música ‘Cala a Boca e me Mama’, em 2016, foi muito trabalho e o cantor diz que ainda não acredita no sucesso.

A partir daquele momento, as músicas do cantor foram virando hits, e começaram a se tornar algo corriqueiro na vida do MC Lan, inclusive em participações especiais e músicas em parceria com outros MCs, principalmente com o MC WM, com quem já gravou as músicas: “Sua Amiga Eu Vou Pegar“, “Ei, Psiu! Tô Te Observando” e “Quando o Grave Faz Bum“.

“Ainda tenho dificuldade para entender tudo o que está acontecendo na minha vida. Até hoje falo que não sei fazer show, eu sou só um louco em cima do palco. Aquele MC Lan, nada mais é do que o Caio de antigamente, um lado mais louco, digamos assim (risos)”.

E, além de loucura em cima do palco, outra marca registrada do MC Lan é sua vestimenta. Fã assumido das marcas que fizeram sucesso na transição para o século XXI, o cara gosta de vestir Cyclone da cabeça aos pés.

Depois do primeiro sucesso, o cantor desembestou em compor música. Neste ano, o cantor solta uma média de duas músicas por semana. Uma delas, ‘Xanaína’, se tornou um hit conhecido em todo país e foi inspirada em uma vizinha. “Essa mina aí [Janaína] colou no rolê e meteu o louco. Fiquei brincando com os moleques sobre a situação e acabou virando isso”.

Polêmico e 101% autêntico, MC Lan explica que suas músicas “picantes” são uma espécie de viagra natural e se diz responsável por um possível aumento na taxa de natalidade brasileira.

“Na moral, ladrão: eu só falo a realidade. Respeito a opinião de todo mundo e sei que muita gente me critica, falando que as letras são só baixaria. Mas é minha profissão, assim como o roteirista de um filme erótico. Meu sonho era fazer parte das vidas das pessoas com a minha mensagem, e isso eu consegui realizar”, finaliza o cantor. E ai, aprendestes?

Encontre o MC Lan nas redes sociais: Facebook // Instagram .

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