Lucas Lins, o poeta da favela, criou as ‘Poesias Pra Matar o Corona’
Séries, violência, panelaço, aglomeração e saudades dos lazeres que a favela proporciona. Lucas Lins nos mostrou há alguns meses que a quebrada também é lugar de poesia e atualmente diante da pandemia do novo coronavírus retrata as vivências da quebrada em meio a um isolamento social através da sua escrita. Está cansado das notícias do jornal? O Portal KondZilla te mostra as saudades e venenos das favelas pela voz desse poeta de quebrada.
Morador da Cidade Tiradentes, extremo leste de São Paulo, Lucas Lins tem vivido seus dias em quarentena como recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas bem sabe ele que dentro das favelas as coisas não param, boa parte das pessoas continuam a mil, já que muita gente por aqui nunca sequer ouviu a palavra home office.
Quase um mês depois do início do isolamento social quem não está trabalhando está dentro de casa e Lins relata na Poesia para Matar o Corona #20 as saudades do clima da quebrada como: campos de futebol cheios, grau e corte pelas ruas, som com o funk na caixa no último volume e até mesmo a demora de aproximadamente uma hora até o metrô mais perto. Coisas da comunidade.
“Estou de quarentena por tempo indeterminado, assim como a maioria das pessoa, e na primeira madrugada de isolamento tive a ideia de escrever uma poesia por dia como forma de me manter criativo enquanto poeta”, conta Lucas Lins. “Para aumentar a minha dedicação, decidi compartilhar nas minhas redes sociais”. Confira todas as poesias no Instagram.
Poesia Pra Matar o Corona #20
preciso ir pra rua
vê molecote chamando moto no grau
problemático tipo Kaxeta
clássico no campo
sedex contra barro branco
sol rachando o coco
eu Nescau e Maciel espremido na grade
preciso do busão 7n sentido metrô penha
pra eu dormir durante toda extensão da avenida aricanduva
aquele corte Anthony Davis na barbearia do Wallace
preciso do pé de manga verde da casa de cultura
meu livro sobre a quebrada está isolado
por isso escrevo pra matar o corona
controle remoto
confundo Marcio Gomes com Roberto Kovalic
Celso Russomano multando comércio
vídeo no whatsapp
é Deus castigando o povo
jejum para o presidente
conspiração do governo chinês
sobe a curva de expansão da covid.
Em meio a protestos, vivências da favela e saudades de uma vida normal, Lucas Lins tem buscado fazer a diferença e escreve para acalmar o coração de seus leitores. Um dos contemplados pela poesia escreveu para Lins no Instagram. “Em tempo de pandemia, essa poesia foi um vagalume precioso em um túnel escuro e sem fim”, disse o leitor.
Com quase 25 poesias para matar o corona em suas redes sociais, provavelmente vem mais algumas a serem lançadas pela frente, já que o isolamento social foi estendido oficialmente no estado de São Paulo até o próximo dia 22 de abril.
Você tem arrumado um jeito de colocar em práticas as coisas que gosta de fazer mesmo em tempos de pandemia? Lucas Lins segue acreditando no sonho da poesia e se adaptando. Faça como ele, não deixe de conhecer mais sobre o trabalho do poeta na matéria Lucas Lins mostra que a quebrada também é lugar de poesia.
Poesia pra Matar o Corona #4
panelas em santa cecília
janelas da barra funda
mãos lavadas com álcool
máscara na cara
na quebrada
Balas
Balas
Balas
casinhas
setor g
Balas
Balas
Balas
moto 300 preta
passou das oito da noite
Balas
Balas
Balas
panelas em santa cecília
janelas da barra funda
mãos lavadas com álcool
máscara na cara.
Sobre Lucas Lins
Morador da Cidade de Tiradentes, periferia da zona leste de São Paulo, ele começou a escrever a partir do 2° ano do ensino médio quando conheceu o movimento de saraus na escola pública. O jovem é autor de duas publicações independentes, “Remando Contra a Maré” (2016) e “Declínio & Esplendor da Bicicleta” (2018).
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