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A moda que faz a economia girar: O crescimento das unhas de gel na quebrada

21.03.2022 | Por: Rayane Moura
O crescimento das unhas de gel na quebrada

As unhas em gel são a tendência da quebrada, que ganhou o asfalto. Além das funkeiras, diversas modelos, cantoras e artistas no geral aderiram a moda. 

Unha bem feita é imprescindível para uma boa aparência, principalmente para as mulheres.

Consequentemente, o negócio das unhas de gel dentro da quebrada vem crescendo a cada dia que passa, e a ascensão fez o negócio popularizar e ganhar o asfalto.

Não é à toa que diversas cantoras, modelos e artistas no geral aderiram à moda. Para entender um pouco mais sobre, cola no portal KondZilla e pega a visão! 

Preta Beauty/Preta Jô

Ela chega na manicure com a unha sem fazer, cheia de cutículas e pequenas. Após cerca de 3 horas sentadas, a transformação acontece: ela sai com todas feitas, pintadas, cheio de brilho, pedrarias e vida, nem parece a mesma que chegou no início. Essa é a rotina de Ketleyn da Silva Moura, de 18 anos, moradora de Mauá no ABC Paulista, pelo menos uma vez ao mês, e de boa parte das jovens da quebrada. 

“Comecei a fazer porque, no baile e aqui na quebrada, todas as meninas usam, então decidi entrar na moda. Depois disso, as unhas de gel se tornaram um vício para mim. Não consigo parar de olhar para as minhas próprias mãos ou ficar sem elas”, explica Ketleyn, que aderiu ao procedimento há 2 anos e nunca mais largou.

A unha feita representa uma mulher e o momento pelo qual ela está passando, por isso a importância das profissionais! “Tem dias que quero a unha maior, às vezes eu quero ela mais curta. Quando vou em um baile diferente, eu quero uma unha que chame mais atenção. Hoje tô ‘basiquinha’ porque estou sem tempo e precisava de uma unha que combinasse com tudo”, explica Ketlyn.  

“Se até a Beyoncé, as Kardashian, a Lizzo, todas as artistas internacionais usam, porque eu também não posso? Assim como elas, eu também sou uma diva, mas dentro da minha quebrada”, explica Ketlyn, que sempre recebe perguntas sobre suas unhas. 

Regiane Souza

“Mas como você faz faxina?”, “Você não lava louça?”, “Como é que você limpa a bunda?”, são alguns dos questionamentos frequentes que a estudante recebe diariamente, e rebate: “Faço tudo normalmente como qualquer pessoa. No começo é difícil, mas com o tempo você se acostuma e faz melhor estando com as unhas. Só é difícil abrir uma latinha de breja, por exemplo”, brinca ela. 

Para Ketlyn, as unhas alongadas se tornaram um acessório indispensável, assim como um brinco de argola ou piercing. Com diversos tamanhos, formatos, cores e desenhos, é como se fosse uma forma de chamar atenção e dizer “eu cheguei”. 

O que muitos não sabem é que foi nos guetos dos EUA que as unhas decoradas e alongamento de acrílico se tornaram populares, durante os anos 1970. Não é atoa que as divas americanas citadas por Ketlyn, são as principais referências nos dias atuais quando se trata do assunto. 

Hoje, cerca de 50 anos depois, o alongamento de unhas se popularizou não só na quebrada, mas também no asfalto, consequentemente fazendo a economia no ramo girar. 

A moda que faz a economia girar na quebrada

O vício relatado por Ketleyn em alongamentos de unhas, é mostrado em números. A área de empreendedorismo impressiona e marca um ponto positivo no segmento da beleza. Os números do MEI não ficam atrás, e mostram que até 2021, cerca de 939.677 microempreendedores individuais cadastrados na atividade de cabeleireiros, manicures e pedicures. Isso falando apenas dos formalizados, o que significa que os números são ainda maiores. 

Emilly Giovanna, de 19 anos, faz parte dessa estática. Moradora do Capuava, em Santo André, ela iniciou no ramo com apenas 16 anos, e viu na área da beleza uma oportunidade para crescer, já que nunca teve um emprego registrado e encontrou dificuldade de entrar no mercado de trabalho.   

“Foram madrugadas e madrugadas buscando conhecimento e aperfeiçoamento pela internet, o tempo todo estudando, tanto por vídeos no YouTube, quanto com profissionais da área que falavam sobre suas técnicas no Instagram, sites, etc. Tudo o que eu sei e aprendi até hoje foi pela internet”, explica a Emilly, que não fez nenhum curso profissionalizante inicialmente. 

Com o apoio da família, Emilly começou fazendo o serviço básico de manicure. Meses depois, ela viu o negócio de unha em gel crescer na quebrada, e a pedidos das suas clientes, começou a se especializar ainda mais. “Meus pais investiram 3 mil reais só em materiais pra começa e iniciei divulgado meu trabalho nas redes sociais”, conta ela, que viu o número de clientes crescer rapidamente. 

“Tinha dias em que eu arrumava clientes, outros que eu ficava duas semanas parada e isso me deixava em dúvida, mas sempre praticando e fazendo com amor, até que consegui levantar um número de clientela inacreditável”, relembra. 

Hoje, ela vê a importância de aumentar a auto estima das meninas na quebrada e acima de tudo ninguém precisa ir longe para deixar a unha ok. “É gratificante uma pessoa chegar aqui, por exemplo, que tem costume de roer as unhas e eu fazer o alongamento e me falar ‘meu Deus nem parece é a minha mão’, ‘estou me sentindo renovada’, ‘com certeza vou te indicar para outras pessoas’, isso é gratificante demais, é espetacular a sensação de ouvir as pessoas elogiarem seu trabalho elogiarem a forma que você atende, a forma que você trabalho, é simplesmente perfeito”, completa. 

Regiane Souza Feitoza, de 18 anos

Regiane Souza Feitoza, de 18 anos, também iniciou no ramo da beleza ainda menor de idade. Porém, ela primeiro começou fazendo designer de sobrancelhas e maquiagem, atendendo na lavanderia de casa. Com pouco material e recursos, o empreendimento funcionava na base do improviso, porém logo o negócio foi crescendo e tomando uma proporção maior do que poderia imaginar.

“Sempre postava sobre meu trabalho nas redes sociais e fazia diversas promoções e pacotes para atrair clientes. Porém, eu queria me especializar em mais áreas para atender melhor meu público e fidelizar ainda mais minhas clientes. Até que um certo dia, eu acordei e senti no meu coração que queria fazer alongamento de unhas, no mesmo dia já fui pesquisar sobre como fazer, cursos e etc”, relembra Regiane, que usou sua mãe de cobaia para treinar os alongamentos. 

Há 2 anos trabalhando na área, a manicure vê no mercado um crescimento na quebrada ainda maior que nos dias atuais. “O alongamento de unhas em gel é antigo, já estava no mercado há anos, porém atualmente está mais procurado do que nunca”, explica ela, que assim como Emilly, viu no ramo da beleza uma oportunidade de crescer profissionalmente.

Emily Giovana

“Escolhi trabalhar com unhas pois é uma área que está sempre em alta, ela nunca irá cair de rendimento no mercado, as mulheres sempre vão investir em si, no autocuidado e no embelezamento. E quando pensar que acabou, que todas já fizeram, nasce mais crianças meninas que se tornarão mulheres e que irão dar continuação na vaidade feminina do mercado”, completa Regiane, que atualmente foca seus atendimentos nos alongamentos de unhas. 

Assim como Emily, Regiane também mora na região do Capuava, em Santo André e ressalta que não deve existir uma rivalidade entre as profissionais da quebrada. “Nós, quem vem, de periferia é tudo mais complicado, temos que trabalhar o dobro e mostrar para o mundo que o lugar em que moramos não influencia na qualidade do nosso trabalho. Nós empreendedoras que vem da favela temos que nos unir, juntas sem dúvidas iremos mais longe, é sobre não ter competição, aqui vejo que fazemos o trabalho por amor, não existe quem vende mais, ou quem tem mais cliente. Aqui somos colegas de profissão e temos que estar dispostos a nos ajudar sempre”. 

Jordana Tostes de Farias, 25 anos, é mineira, morando na Baixada Santista de São Paulo. “Iniciei minha carreira despretensiosamente em 2019, quando me vi sem emprego, com a faculdade trancada, precisando trabalhar e correr atrás do meu e da minha cria. Com a última grana do trampo anterior eu comprei os materiais de unha , pois tinha uma certa proximidade com a prática de fazer minhas unhas e de familiares. Fui aprendendo e me apaixonei pela profissão, pelo que ela podia fazer com a nossa autoestima, pela troca que tenho ao atender”, explica a manicure, que hoje tem a profissão como principal fonte de renda. 

Conhecida como Preta Beauty nas redes sociais, além de manicure, ela é cantora, compositora e poetisa, onde fala do empoderamento feminino e racial em suas canções. Mãe solo, Jordana encontrou na profissão um meio para conciliar o trabalho e a vida familiar. “Escolhi as unhas porque sempre quis trabalhar com algo agradável onde eu podia ser quem eu sou e também fazer meu horário, visto que a vida de mãe é muito atarefada! Que de certa forma estivesse sempre em alta. E fazer as unhas é como uma terapia para quem gosta”, conta. 

Preta Beauty

Há cerca de 3 anos no ramo, antes de ser designer de unhas, era cliente de uma. “Me profissionalizar foi também um divisor de águas”, relembra.

Porém, nem tudo são flores: “Uma das dificuldades é ser autônoma, investir, sempre se atualizar e superar os desafios técnicos da profissão, superando com muito estudo, prática e o desejo de fazer um trabalho impecável”, conta a profissional. 

Hoje, ao fazer alongamentos nas unhas de suas clientes, Jordana vê como resultado muda a aparência de uma mulher, fazendo elas se sentirem como divas empoderadas.

“A maior importância de tantas minas fazerem alongamento de unhas é trabalhar a autoestima da mulher, considero isso um marco na nossa história, ver que elas têm priorizado o autocuidado, o amor próprio, assim como o prazer de se sentirem lindas para si mesmas. E de muitos considerarem se tornar profissionais nisso”, completa. 

Assim como Emilly, Regiane e Jordana, muitas outras profissionais dedicam a vida ao alongamento de unhas e tem o trampo como principal fonte de renda. Além de aumentar a auto estima das mulheres da quebrada, faz a moda crescer e a economia girar ali mesmo.

“Ter unha grande para mim é ter poder, chegar no baile e todo mundo me olhar, me elogiar, é dahora demais. Tem gente que acha futilidade, e até julga, mas não sabe a importância que é ter dinheiro para manter minhas unhas todo mês, é como se fosse uma forma de ostentação, sabe?”, finaliza Ketlyn. 

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