Histórias que inspiram

Como a Blogueira de Baixa Renda está lidando com a quarentena no Morro do Banco

11.05.2020 | Por: Gabriela Ferreira

Com mais de 185 mil inscritos no YouTube, Nathaly Dias, 27 anos, mais conhecida como a Blogueira de Baixa Renda, já apareceu por aqui no Portal KondZilla quando falamos mais sobre a missão dela de mostrar a vida real no Morro do Banco, zona oeste do Rio de Janeiro. Agora, no meio desta pandemia que estamos vivendo, a Blogueira continua passando a visão da vida de uma jovem de favela. Hoje, ela conta pra gente como a quarentena tem afetado o morro e tudo que ela pensa sobre o assunto. Chega mais:

Desde que a covid-19 chegou no Brasil, no finalzinho de fevereiro, algumas ONGs e instituições têm feito estudos de como a pandemia afeta a vida dos moradores de favela, como a CUFA fez. Os estudos mostram que as pessoas da favela tem mais chance de sofrer com o crescimento da doença e elas também são as que mais se preocupam com a quarentena, já que a maioria das pessoas são autônomas ou trabalham como informais.

No caso da Blogueira, como ela mesma aponta, há um privilégio já que ela trabalha de casa, produzindo conteúdo. “Como eu sou Youtuber e criadora de conteúdo, trabalhar em casa é uma coisa que eu domino. Então pra mim, ficar em casa, é mais tranquilo e um privilégio, já que eu consigo ganhar meu dinheirinho assim. Mas eu sei que a maioria das pessoas aqui do Morro do Banco não pode se dar esse luxo”, comenta ela. “Se você sai aqui às 18h, 19h, horário que o pessoal volta do trabalho, tem muita gente na rua, muita gente na van que circula o morro. Essas coisas continuam acontecendo e a maioria dessas pessoas que não fazem trabalhos essenciais, tipo a minha mãe que é empregada doméstica e a patroa ainda não liberou ela.”

Como criadora de conteúdo, Nathaly se vê na responsabilidade de tentar explicar pra galera o momento .”Eu tento conscientizar a galera a liberar nossas mães. Todo mundo tem capacidade de limpar a casa nesse momento de crise. E não é só pela minha mãe, que tá se expondo, ela pode ser a pessoa que vai levar o vírus pra casa dessa patroa. Mas minha mãe e outras mães precisam trabalhar pra colocar a comida na mesa e pagar as contas”.

Além de todas as questões de precisar sair de casa, ficar isolado em casa, morando no morro, não é a mesma coisa que se isolar numa mansão.”E aí a gente fala da arquitetura da favela, as casas são muito juntas, são pequenas, não tem como fazer o isolamento social. O auxílio emergencial vai ajudar muito, mas sabemos que mesmo assim muitas pessoas não vão ter acesso por várias questões”, explica Nathaly.

Mesmo que Nathaly e Guilherme, que moram juntos, consigam trabalhar de casa, ainda é preciso sair pra comprar comida e resolver coisas na rua, mesmo assim, nesses momentos o cuidado é redobrado. “Eu e o Gui estamos sempre comprando coisas dos mercados locais do morro até pra ajudar a economia local. Fizemos uma grande compra no mercado e estamos nos virando assim. Pelo menos uma vez por semana o Gui vai na rua e sempre que a gente sai e volta é aquele esquema: lava tudo e chega em casa, tira a roupa e bota em um saco”.

O isolamento social pegou muita gente de surpresa e ter que ficar em casa, sem certeza de quando poderíamos voltar pras ruas, somando com o medo da própria doença, fez com que Nathaly e muitas outras pessoas ficassem tristes. “Na primeira semana eu fiquei muito mal porque parece que foi um choque, na segunda eu tava tristinha e depois eu fiquei mais ‘tudo isso vai passar em algum momento, vai ser foda, mas vai passar'”.

Ao redor das redes sociais, podemos ver diversas iniciativas pra ajudar quem mais está precisando e Nathaly vê isso como uma solidariedade de quem entende o sofrimento do outro. “Tá tendo movimentos aqui na comunidade pra arrecadar comida, itens de higiene pessoal. Vamos sempre nos ajudando”, explica ela. “A gente pobre se une meio que na desgraça, é doido. Por exemplo, teve uma vez que eu tava sem energia em casa, isso há mais de um ano, e minha vizinha tinha energia, só que eu não falava com ela porque a gente não tinha intimidade. Aí ela me ofereceu uma extensão pra eu ligar o ventilador pra dormir porque a gente já tava há três dias sem luz. Então é foda o que a gente tá passando, mas a gente sabe se virar por causa da solidariedade.”

Acompanhe a Blogueira de Baixa Renda: Instagram // Youtube

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