Tudo que rolou na 3ª edição do WME Conference
Rolou neste fim de semana, em São Paulo, a terceira edição do Women’s Music Event, uma conferência que reúne diversas mulheres profissionais de várias áreas diferentes dentro da indústria musical. Chega mais que o Portal KondZilla te conta tudo que rolou durante os dois dias de palestras.
O evento aconteceu no Centro Cultural São Paulo, e no primeiro dia, que rolou na sexta, teve sua abertura com uma roda sobre como é ser empresária em um meio que tem mais homens do que mulheres. A coisa mais interessante da conversa, dessa e de outras profissões mais “bastidores”, foi aprender sobre o que cada uma faz, já que essas possibilidades de trabalho são coisas mais recentes, digamos assim, ainda mais se a gente for pensar no quesito de mercado musical. Outras rodas bem bacanas foram a “Data SIM: Dados como Alimento da Música?”, que discutiu como as informações dos shows e festivais são importantes para muitas coisas, principalmente para as marcas que têm interesse em investir. A última palestra do dia foi “Sustentabilidade Vende Ingresso?’, que trouxe um debate muito importante sobre como sustentabilidade social, pessoal, económica e energética. Além dessas, só o primeiro dia contou com mais 13 rodas, que juntava as cantoras com as profissionais ligadas a produção.
Claúdia Assef e Monique Dardenne, as idealizadoras do WME
Além das palestras, no primeiro dia, o CCSP ainda recebeu três shows, da Maria Beraldo, da Mahmundi e do Slam das Minas. Já no segundo dia, no sábado, teve apresentação da Anelis Assumpção e do Santa Mala, um trio de irmãs bolivianas que tocam rap. As três participaram da conversa “O Som das Refugiadas”, que abriu o dia.
Maria Beraldo apresentando seu primeiro disco, ‘Cavala’
Anelis Assumpção
O sábado ainda contou com várias conversas fodas, tipo a “Qual o caminho da música no streaming?”, que deu um toque na galera de como faz pra subir suas músicas nas plataformas de streaming, qual o melhor jeito de fazer isso, etc. No “Spotify apresenta: Discografia WME”, as artistas Luiza Lian, Maria Rita Stumpf, Julia Branco e Karol Conká [que infelizmente só chegou na reta final da conversa] contaram as histórias de seus discos mais recentes e um pouco sobre suas carreiras.
Karol Conká, Julia Branco, Luiza Lian, Maria Rita Stumpf e a jornalista Lulie Macedo
Falando por mim, a melhor roda de todo o evento foi a que fechou a programação, “O Feminino Além do RG”, que chamou as artistas Candy Mel, Pepita, Raquel Virgínia e Ledah Martins para falar sobre transsexualidade. Foi uma aula e tanto. Elas falaram sobre várias situações desagradáveis que já passaram, sobre o que tiveram que superar pra chegar onde estão e várias outras coisas muito importantes, tipo que precisamos parar de encaixar elas (e outras artistas trans) exclusivamente dentro da caixinha “artista trans” porque além delas serem mulheres, elas são cantoras, compositoras, produtoras, diretoras e têm muito mais o que falar além da questão de identidade de gênero, e ainda pediram que isso fosse revisto no próximo evento, apesar de entenderem a importância delas estarem ali.
Candy Mel, Raquel Virgínia, Pepita, Ledah Martins e a jornalista Cris Naumovs
Essa conversa gerou vários tipos de pensamento na galera da plateia, e até da entrevistadora, a jornalista Cris Naumovs: muitas vezes, as minorias são encaixadas dentro das caixinhas que as tornam minorias e isso é uma coisa que pode limitar alguém. Por exemplo, falando como mulher, eu sei que eu sofro machismo e sei que as minas sofrem machismo em diversas áreas profissionais, mas como nós vamos discutir outras coisas? Como nós podemos ajudar uma garota a se empoderar financeiramente? Como ajudar ela a escalar cada vez mais e falar do trampo dela sem precisar mencionar que ela é uma mulher? Porque ninguém escreve “o artista homem” ou “artista masculino” pra falar sobre o trabalho de algum músico porque a masculinidade não define o trabalho dele e ser mulher também não deve definir o trabalho de uma mina.
Público aproveitou para conhecer a Eliane Dias, produtora e empresária da Boogie Naipe
As meninas do Santa Mala falam sobre suas realidade em seus raps
Em um saldo geral, a conferência foi muito proveitosa. Apesar das pessoas que estavam cotadas pra participar das rodas e não puderam participar, ou os pequenos atrasos entre uma conversa e outra, a programação fluiu bem e deu pra ver pelo menos um pouco de várias palestras. Uma coisa bem bacana do evento foi ter um espaço para crianças brincarem, ou seja, super inclusivo para as mães poderem participar.
Em seu show, Mahmundi falou sobre como shows são oportunidades para se divertir ao lado das pessoas que gostam de sua música
Isso sem falar no aprendizado que foi, já que é um verdadeiro “confronto” de realidades. Mesmo não sendo um evento 100% inclusivo (cadê as mulheres que trampam com funk ou no sertanejo falando também sejam artistas ou da produção?), é sempre muito enriquecedor conhecer pessoas com trajetórias diferentes porque isso ajuda todo mundo a crescer.
O Slam das Minas durante seu show
Por mais que o evento tente abraçar vários temas e tenha mulheres trans, refugiadas, negras, mães e várias outras mulheres, o evento ainda não é voltado para a periferia, e por isso, não vemos tanta representatividade assim no que diz respeito a diferentes realidades sociais no palco e principalmente no público. Os primeiros passos foram dados: uma conferência feita por mulheres com poucos recursos e por iniciativa delas, voltada para mulheres foi criada, estamos debatendo o nosso espaço no mercado, e isso é ótimo. Com o crescimento do evento, será bacana se no futuro, o WME seja frequentado por mais pessoas diversas.
Fique ligado no site do Women’s Music Event para saber mais sobre o evento.
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