O funk consciente vive nas crianças, conheça os cria MC Bielzinho, MC LP e MC Bebê King
Despertado depois de alguns anos adormecido, o funk consciente vive um grande momento e novos rostos chegaram pra passar a visão diretamente das quebradas do Jardim Peri Alto, zona norte de São Paulo. Curioso que por lá os artistas da vertente tem entre 11 e 13 anos, mas deixam muito malandro no bolso com a boca aberta. Cola com o Portal KondZilla e pega a receita.
Quatro histórias diferentes que se cruzam a todo instante por causa do sonho de mudar de vida através do funk. MC LP, MC Fefe, MC Bebê King e MC Bielzinho tiveram seus nomes conhecidos pela massa funkeira depois do sucesso do medley “Vários se Jogou na Vida Loca“. Com o reconhecimento, a composição de MC LP com participação do MC Fefe, ganhou um videoclipe que está no canal da Cartel do Funk e já passou das 3 milhões de visualizações.
Sendo assim, o Portal KondZilla, como a maior plataforma de comportamento do jovem de favela do Brasil buscou se aprofundar na história. Mesmo com as dificuldades, o bairro foi e é um berço de artistas não só do funk, mas também do esporte. Gabriel Jesus, jogador do time inglês Manchester City e camisa 9 da seleção brasileira, é um exemplo. Em homenagem a ele, existe um grafite enorme no Peri com o rosto do jogador. Além disso, MC Livinho dono de sucessos como: “Hoje Eu Vou Parar na Gaiola”, com DJ Rennan da Penha, também saiu das quebradas do Peri.
Confesso que estava ansioso pra falar com eles e entender como crianças de apenas 11, 12 e 13 anos poderiam passar uma visão tão profunda como a que eles passam em suas músicas.
Ao desembarcar na quebrada me deparei com um campo todo gramado onde estava rolando um rachão entre garotos de acredito eu que no máximo 15 anos. Por volta do campo várias crianças corriam e me recebem de imediato “olha o moço da KondZilla”, disse um deles. Na minha frente eu enxergava um córrego e um morro que cercava a comunidade, ao me virar de costas localizei o grafite emblemático com o rosto do jogador cria do Peri, Gabriel Jesus, do Manchester City, com as mãos no ouvido fazendo o sinal de ‘alô mãe’.
Logo em seguida encontrei MC LP (todo sorridente com pinta de modelo), MC Bebê King (agitado ele me diria muitas frases de impacto em nossa conversa alguns minutos depois) e MC Bielzinho (aparentava ser o mais tímido e só responderia o que perguntava). Todos estavam acompanhados pela equipe do Cartel do Funk e seus familiares. Senti a ausência de MC Fefe, que faz participação na música que estourou, mas não pode ir ao nosso encontro.
A nova geração do funk consciente do Peri pro mundo
Na conversa com os garotos de imediato procurei sanar a minha maior curiosidade e perguntei a eles da onde vinha a inspiração para compor funk consciente com tanto impacto mesmo sendo tão novos e Bebê King disparou: “nós servimos de inspiração para vários moleque. Então, passamos a visão fazendo funk. Assim eles vão procurar um caminho sempre melhor porque nem todas as pessoas da quebrada têm chances de entrar no caminho certo. A maioria vai para o caminho do mal. Por isso, tentamos sempre inspirar as crianças”.
MC LP citou vários artistas que quando iniciaram suas carreiras o garoto ainda não era nem sequer nascido para dar embasamento em suas composições. “Uma coisa que eu aprendi no funk é que temos que sempre ouvir os mais vividos como: MC Felipe Boladão, MC Daleste, MC Lon, MC Zoi de Gato. Só os monstros relíquias do funk”. Bebê King interferiu falando de rap. “Escutamos também Djonga e Froid. Não é só funk, tem outros gêneros que nos inspiram”.
Bielzinho se declarou fã do falecido Daniel Pellegrine, um especialista no funk de relato que teve sua vida interrompida a tiros enquanto realizava um show. “Sempre ouvi MC Daleste. Gosto muito dele. Foi assim que fui cada vez mais pro funk consciente. Até que criei uma letra”, disse ele.
Depois de muita reflexão sobre as falas do garoto então chegamos às gravações dos medleys que explodiram nas redes sociais chegando a marca de 50 mil compartilhamentos, 300 mil curtidas e 8 mil comentários só no facebook. Foi assim que MC LP falou um pouco mais sobre a composição de “Vários se Jogou na Vida Loca”.
“Fiz a música em casa porque um amigo do meu primo foi roubar e acabou morrendo. Peguei meu caderno e esperei as palavras virem na minha mente e de imediato veio ‘vida louca’ depois quem se joga ‘vários’. Aí eu cantei no baile e fizemos o medley aqui no morro até que estourou”, explicou ele olhando para o morro que mudaria a sua vida e de seus amigos.
“Não são todos que tem a oportunidade de estar aqui como nós. Se chegamos até aqui foi por causa de muita luta”, LP deu o papo. Bebê King ainda complemento: “nós temos alma negra, viemos direto da favela, então querendo ou não a oportunidade é muito mais difícil para quem vem daqui. A gente quase nunca é bem recebido nos lugares. Agora para os boy que mora lá do outro lado é tudo muito mais fácil”. Confesso que eu como um homem negro de 22 anos me arrepiei com a fala.
Entre a fama e a vida de uma criança de 11 ou 13 anos eles falaram sobre as mudanças na escola. “É suave agora tem algumas pessoas que vem e cumprimenta, fala que me conhece, mas é todo mundo a mesma fita”, diz MC Bielzinho. Já para o LP, que cursa atualmente o sétimo ano, a vida está mais pop. “Quando chego geral fica me rodeando pedindo para eu cantar. Tem até umas pessoas que vai lá na porta da escola me ver, me dá presente, boné, camiseta”, disse o garoto sorrindo com a repercussão da fama. Bebê King, de 13 anos, atualmente não está matriculado na escola por motivos familiares.
Crianças com responsas de adulto
Dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome apontam que o número de filhos por família vem despencando nos últimos anos. Mesmo assim, dentro das favelas, as famílias chegam comportar cinco ou mais filhos dentro de casa, o que dificulta a criação levando as crianças a buscarem trabalhos mesmo que informais muito cedo. MC LP e MC Bebê King são exemplos disso e relataram ter cinco irmãos cada um, o que os levou a ter vida de adulto mesmo sendo criança. É o que eles narram nas letras escrita por eles.
“Eu já fiz muita coisa, já trabalhei de tudo o que você pensar nessa vida. Mesmo sendo criança, nunca tive a vida de uma. Por eu morar na favela, tive situações precárias dentro de casa que se eu não isso eu ficava sem teto”, disse Bebe King sobre o corre do pão de cada dia.
Para MC LP, as buscas pelo progresso viraram composições. “Eu me inspiro nas coisas que acontecem dentro de casa tipo um dia nós não temos o que comer. Eu pego meu caderno e minha caneta e escrevo uma música”.
Assim, depois de muito papo de visão e uma sessão de foto pelas favelas do Jardim Peri, concluímos o dia que me trouxe uma série de reflexões e mostrou para o mundo que o funk consciente sobrevive no coração das crianças. É da favela do Peri pro mundo.
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