Beats por região: Como o funk muda de baile pra baile
O funk não é uma coisa só, existe uma variedade de ritmos, gêneros, estilos e pessoas que não se comportam igual. Uma dessas diferenças que será mostrada para vocês é dentro das músicas que tocam nos bailes, provando que em zonas diferentes os beats e pegadas das letras mudam de acordo com a região. Encosta aqui no Portal da KondZilla porque trocamos um papo só com nome de peso, como Gabriel (GP), criador do Mandelão 011, DJ Ery, conhecido pelo set “Maestro dos Fluxos”, Hits, youtuber que registra os bailes, e o dançarino Saaint, pra gente entender e provar pra vocês a variedade sonora dentro dos bailes da cidade de São Paulo.
A diversidade sonora é uma verdade pra quem cola em baile e presta atenção nos detalhes da cultura de rua do funk. A realidade é que os beats, e até mesmo as letras, vão mudar de uma zona para outra, isto é: tem música que é a picadilha do Dz7, enquanto outras a gente sabe que só vai ouvir nos bailes da zona leste. Isso tudo porque somos semelhantes, mas não iguais. A pluralidade cultural vai desde as músicas até as roupas, gírias e os costumes.
“Cada baile toca um tipo de som diferente, cada quebrada tem um estilo preferido. Tem DJ e tipo de funk que eu já sei em qual quebrada vou ouvir. Quando penso em Helipa, vem o DJ Menor 7; no Baile da Esperanti (ZL), o DJ Guilherme Duarte com berimbau, no Dz7 (ZS), DJ Mandrake, e assim por diante’’, declara Hits, o youtuber dos bailes. Ele desde 2016 registra a cultura do fluxo desde os mais famosos até os mais de quebradinha.
Os DJs assumem uma identidade musical bem definida. Geralmente eles têm uma vinheta que afirma o próprio nome e de qual quebrada pertencem, mas isso não é a única coisa que marca a singularidade de cada um. O público identifica quem é o produtor pelo estilo do beat, como menciona Hits. “Dá pra identificar pelo estilo do beat. Quando estou no Helipa, já sei que é o DJ Menor 7, pois ele como outros DJs tem seu estilo músical’’.
Quando o HIT é feito pra um baile específico
A maioria dos DJS costumam impulsionar o trampo e bombar primeiro em suas respectivas quebradas ou bailes famosos de sua região, para depois, o que prova o ápice de sua popularidade e bom trabalho, espalhar para outras quebradas. É o caso do Maestro dos Fluxos, vulgo DJ Ery, conhecido por desenvolver o “beat automotivo’’, um tipo de beat muito famoso no Paraisópolis. Você provavelmente em 2018 lembra do tapa no vento e da música ‘’Beat do Bega’’, que inclusive foi feita pensando no baile de Paraisópolis, pois o tipo de beat dela é comum ouvir no baile do Bega.
Com apenas 24 anos, o DJ diz que produz músicas pensando nos bailes do Bega e Dz7, no Paraisópolis. Além disso, ele primeiro solta lá pra depois explodir em outros bailes. “É notável a diferença de beats, porque cada DJ forma seu público ou produz música na quebrada que vai bombar. Comecei a soltar minhas primeiras produções no Baile do Bega. Antes de eu ficar famoso em outras quebradas, fiz sucesso lá. Hoje em dia, eu toco elas nos bailes do Paraisópolis, pra depois lançar’’, afirma o Maestro dos fluxos.
Outra voz importante que confirma essas ideias é a do Gabriel Pedro (GP), um dos criadores do canal Mandelão 011, responsável por divulgar músicas que vão barulhar os bailes, e claro, por ter revelado DJ Guuh, MC Menor MT, DJ Pablo RB, DJ Colombo e outros moleques que tem o sonho de ver suas produções na cena.
“Em Paraisópolis, onde está meu maior público, já consigo ver diferença por causa das várias melodias que existem. No Dz7, você ouve mais beats que chamamos de ‘bruxaria’ que nem do Léo da Dz7 ou DJ Mandrake, enquanto no Bega vai ter os ritmos mais automotivos ou até mesmo o funk rave”, explica GP.
Um exemplo de melodia tocada no Bega:
Um exemplo de melodia tocada no Dz7:
O dono da vinheta “Vish é o Mandelão 011” ainda afirma que tem música que toca demais no Bega e provavelmente em outras regiões, como na Marcone (ZN) ou Pantanal (ZL), ninguém sabe e vice-versa. Isso tudo porque é uma questão de preferência regional. “Quando um som toca em todas as quebradas, como as do DJ Pablo RB, é porque ele realmente está muito famoso. Mas também ele trabalhou muito pro som dele bombar na sua quebrada pra depois explodir!’’, encerra o jovem.
Quando o papo é dança, o beat também importa
Já contamos pra vocês que o Magrão é uma das danças que é a cara da zona leste (inclusive onde surgiu). Assim, os beats mais chaves pra dançar Magrão são mais comuns por lá, aquelas melodias com sax, flauta, trompete e berimbau. Saaint, lá da ZL, que é dançarino e frequentador do Baile das Casinhas (Cidade Tiradentes, na ZL) e Dz7 (Paraisópolis, na ZL) aponta as suas preferências e diferenças. “Mano, um exemplo é que na ZL toca muita música antiga com berimbau e sax, principalmente com músicas relíquias, as preferidas pra lançar o Magrão. No Dz7, a gente escuta mais o beat conhecido como ‘submundo’ ou ‘bruxaria’”, comenta o dançarino.
Levando o nome da quebrada
Algumas músicas carregam o nome do baile, como a do “Beat do Bega”, ou referência à determinada zona como no caso de “Mega das quebradas zona leste’’, do DJ Guilherme Duarte. Ou ainda, no próprio nome do DJ, como o caso do Sati Marconex, lá da Marcone, na Zona Norte. Sem contar na foto do vídeo que o som foi lançado a qual contém a foto da quebrada de fundo.
Aliás, já ouviu “Um Sabadão Desse Uma Lua Dessa’’? Pois bem, é uma produção do Sati e do DJ Dobrazi, na voz do MC 3L. O beat produzido pelo Sati é uma marca da ZN, mais lento tanto na melodia quanto no flow do MC que vai encaixar na letra. Um fenômeno no Tik Tok e nos bailes, o som primeiro rodou muito os bailes do 12 do Cinga e da Marcone pra que hoje rodasse não só todas quebradas como o país todo.
Limitar o funk como uma coisa só é uma tendência que reforça ideias que diminuem e ajudam a dar força na criminalização do funk. Para além de mostrar a diversidade cultural dentro do ritmo, ficou claro o talento de cada MC e pluralidade que o funk paulista apresenta.