Fotógrafo de quebrada conta como foi viajar para Chicago, EUA
Coé rapaziadinha, de boa? Me chamo João Victor Medeiros, tenho 22 anos e em 2019 participei de uma grande feira de arte nos Estados Unidos. A equipe do Portal KondZilla contou sobre minha história, nesta matéria. Eu, assim como muito dos leitores do portal, sou negro, de favela e sempre sonhei em viajar pra fora. E eu consegui! Se você quer saber como um jovem negro de uma favela no interior de Minas Gerais chegou ao hemisfério norte, eu te passo a visão.
Millenium Park, centro de Chicago
Tudo começou em uma noite de maio de 2018, eu tava em pé na cozinha fazendo aquele rango de quebradinha. Daí lembrei de um link que uma professora tinha me enviado no Instagram sobre uma feira de arte na gringa. Procurei no direct e como não custava nada tentar fiz a inscrição e passei! O mais difícil não foi ser selecionado, foi armar toda essa viagem pros Estados Unidos sendo um jovem de periferia. Assim começou a jornada rumo ao evento “The Other Art Fair”.
A professora Renata Caetano e eu, dois dias antes da viagem para Chicago
Entre essa noite e a época da exposição só haviam dois meses de diferença, então já começou a correria pois além dos custos da viagem eu ainda tinha que pagar pelo meu espaço na The Other Art Fair (essa é uma feira que recebe mais de cem artistas). A única opção que encontrei era apostar em um financiamento coletivo, vulgo “vaquinha digital”, que acabou não dando certo. Dentre todos os custos da minha viagem, esse espaço na feira era a parada mais cara e, apesar da alta do dólar atualmente, deu para juntar e ter essa experiência.
Para me organizar e conseguir realizar este sonho, eu fiz um documento listando tudo que eu precisava: passaporte, visto, passagem, hospedagem, alimentação, pagamento do meu espaço e coisas como impressão das obras. Esse documento que fiz seguia uma ordem de prioridade e isso é muito importante: se você quer viajar para gringa, deve fazer um planejamento detalhado de todos os gastos para não sair no preju em nada e economizar o máximo possível.
Nessa época eu até cheguei a fazer o passaporte, que é um lance bem simples, basta acessar o site da polícia federal para realizar a solicitação e escolher a unidade mais perto da sua quebrada. Depois marcar uma data pelo site mesmo, só pagar o boleto que é gerado (quando fiz foi R$ 257,25), colar no lugar com os documentos que pedem e mais ou menos uma semana depois você volta pra buscar. Pronto, agora você tem o principal documento para começar uma viagem internacional!
Arte gráfica da campanha de financiamento no Catarse feita por Francini Ramos
Apesar de não ter conseguido encostar em 2018, as minas da organização da feira gostaram muito do meu trampo e me ofereceram uma vaga na segunda edição em maio deste ano. Apesar do medo de dar errado novamente, fui convencido pela minha mina na época, tentei o financiamento e depois de muito suor e stress, rolou. É aquela coisa, errar foi importante para eu perceber a chance que escapou pelas minhas mãos. Dessa vez, já sabia que grana era um fator importante e foquei nisso.
As organizadoras da The Other Art Fair e eu
Eu já tinha o passaporte mas ainda precisava fazer todas as coisas do meu planejamento, então fui por ordem de prioridade:
1. O Visto
Sem ele, você não viaja. É o mesmo lance do passaporte, rola fazer tudo online e não precisa de nenhuma agência nem nada pra isso; só prestar atenção no que eles pedem e preencher a ficha nos conformes. Se você não manjar do inglês, peça auxílio a um amigo que entenda e, mesmo assim, pesquisem no Google por sites que dêem as coordenadas, porque é um documento super importante. Qualquer vacilo nesse momento pode dar ruim no final, é basicamente o preenchimento dessa documentação que garante a aprovação do seu visto na entrevista. Depois, paga o boleto e cola arrumadinho no dia que você marcar a entrevista, fala o seu motivo de ir pros Estados Unidos e torce pra eles te aprovarem. Se morar no interior e precisar viajar para alguma cidade para fazer o visto, lembra de colocar esses custos no planejamento também.
Importante lembrar: existem vários tipos de vistos. O meu era o de Negócios e Acadêmicos (B1), porque eu fui para uma exposição. Por conta disso, levei documentos do evento como a carta convite e isso ajuda muito, pois passa credibilidade. Se você for para Turismo (B2), é massa verificar o que pode validar essa credibilidade. Coisas que ajudam são comprovar os seus vínculos no Brasil, seja de trabalho, família ou escola/faculdade, por exemplo. O Visto B2 é o mais simples de conseguir, então não tenta enganar os caras que, em caso de visto negado será pior. Você pode pegar uma multa ou restrição e não conseguir viajar para o país por um tempo.
2. Passagem
Quanto antes você comprar é melhor, pois a compra com antecedência é bem mais barata. Eu só esperei o dinheiro da campanha sair e comprei. Também precisava ir em uma data específica, o que limita na busca por preços melhores, mas com um calendário mais flexível dá pra encontrar um desconto aqui e ali. Essa é uma parte cara da viagem, mas, se organizando com tempo (tipo, você for viajar daqui uns 4-5 meses) dá pra pagar e sobrar uma grana pra viagem. Em média, ida e volta custa cerca de R$ 2500, valor de muito celular por aí.
3. Hospedagem
Para economizar, eu decidi me aventurar no Couchsurfing. É um site/aplicativo onde as pessoas abrem a casa delas para hospedar viajantes de forma gratuita e a onda é a troca de cultura e conhecimento. Só jogar lá para onde você tá colando e achar quem tá na pilha de hospedar. Também pesquisei alguns hostels no centro e tava com a grana guardada pra isso como um plano B caso rolasse qualquer neurose com o Couchsurfing.
4. Seguro de viagem
Dois dias antes de viajar eu fiquei sabendo que precisava desse bagulho. Serve para te salvar de qualquer perrengue na viagem, principalmente custo médico. Nos Estados Unidos eles não tem SUS, então é melhor desenrolar um seguro aqui do que pagar uma fortuna lá caso dê ruim, do tipo se você tiver uma simples dor de barriga já morre uma grana. Para 10 dias (o tempo que fiquei) é papo de trezentos reais, mas é aquela parada que você paga torcendo para não precisar usar.
5. Alimentação e rolé
Por conta de toda a correria lidando com essas responsas, eu não pude planejar com todos os detalhes os lugares turísticos que eu queria colar. Dei uma olhada por cima e decidi que cerca de cem dólares por dia era suave de ficar, perguntei pra alguns amigos que já haviam viajado para lá e deu e sobrou para comprar algumas coisinhas além da sobrevivência. Na moeda deles acaba tudo saindo muito barato, dá pra comer muito bem o dia todo com quarenta dólares, por exemplo. Mas lembre-se: o dólar em comparação com o real está caro, então não pense na moeda brasileira ou na conversão quando estiver lá. “Quem converte não se diverte”. Antes de ir, também me informei sobre um cartão, tipo bilhete único, que você paga 30 dólares (no caso de Chicago) e pode pegar ônibus e metrô infinito por sete dias. Pra quem vai dar rolê pra cima e pra baixo, vale muito a pena.
Aguardando o vôo para Chicago em Guarulhos
Bom, essa foi a lista que eu separei pra conseguir ir. Se você chegou até aqui é porque eu também cheguei ao momento da viagem. Quando eu estava no aeroporto esperando o horário do vôo eu ainda comprei um chip que liberava internet na gringa por oitenta dólares os dez dias. Após um vôo de 10 horas saindo de Guarulhos, eu cheguei em Chicago pela manhã cedo e senti que o rolê tinha ficado sério de verdade.
Custos da viagem (sem contar os custos com a exposição):
Valor do dólar consultado no dia 07/08/2019 às 11:26
Passaporte: R$ 257,25
Visto: US$160 = R$ 539
Passagem: ~ R$ 2500
Seguro de viagem de 10 dias: R$ 300
Chip para internet internacional por 10 dias: $80 = R$320
TOTAL: cerca de R$ 3920
Custos variáveis:
Hospedagem: No meu caso, gratuita. | Plano B: Hostel – $28 por dia = R$ 120 por dia
Alimentação, rolé e compras: de 50 a 100 dólares por dia
E aí, curtiram meu corre? Espero ter inspirado vocês que querem ir pra fora e não sabem como. Aproveitem pra me seguir nas redes e continuar acompanhando minha trajetória: Instagram
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