Histórias que inspiram

Fiz 18 anos: devo trabalhar ou estudar? Os dilemas do jovem de periferia

12.07.2017 | Por: Brunata Mires

Sabe, gente, eu também tive essa dúvida e o que aprendi foi que o melhor a fazer é ir com calma. Pensando sempre no que pode acontecer no futuro dependendo do que você escolher no presente. Meu nome é Bruna Tamires, nasci na Brasilândia e hoje moro em Pirituba. Corri atrás e consegui entrar na universidade, me formei em Gestão de Políticas Públicas pela USP no começo do ano e agora estou com meus 24 anos. Existem idades que para a sociedade representam marcos na vida de todas as pessoas, além dos 30 e dos 50, os 18 anos significam muito para nós enquanto jovens. Em tese, só agora que podemos viver a vida, no sentido de tomar decisões. Esse é o momento em que sentimos que agora avançamos um pouco mais na vida adulta. Hoje vou falar um pouco sobre esse dilema para o Portal KondZilla, no qual passei e outros também já passaram. Espero que minha palavra de apoio ajude.

Mas e aí, tô com 18 anos, devo trabalhar ou estudar? Agora que muitos terminaram o ensino médio parece que um universo se abre, cheio de possibilidades e sonhos para realizar. Eu comecei estudando, e no meio do meu curso de graduação mergulhei nessa mesma questão. Primeiro, é importante saber que esse dilema é uma parada normal e acontece com todo mundo. Não devemos entrar em crise: antigamente, para nossos pais e avós, não havia outra opção, o destino dava só uma rota – a do trabalho. Essa era a função de nossos pais e avós ao completar dezoito anos e se prepararem para trabalhar, casar, construir uma família e se aposentar. Só.

Foi só após o surgimento da internet que as pessoas jovens e que moram nas periferias, puderam escolher, para além do trabalho, os estudos pós ensino médio. Agora estamos percebendo que estudar não significa, especificamente, passar quatro anos lendo apostilas para no final obter um diploma e conseguir um emprego. Existem outras formas de adquirir conhecimento.

Antes de decidir se trabalha ou estuda, é importante pensar naquilo que se gosta de fazer. Qual é a profissão que você sabe que não te chatearia passar oito horas por dia, de segunda à sexta, trabalhando nela? O que você quer fazer na vida se encaixa nos padrões formais de trabalho ou você deseja empreender, começar um novo negócio? Hoje, a internet te trouxe a possibilidade de experimentar todas as áreas por um computador. Quer ser designer? Dá para baixar um programa e fazer umas artes. Quer ser DJ? Dá para testar um programa de mixagem, como de produção musical. Entre outros exemplos de carreira no qual você pode experimentar antes de se jogar de cabeça na profissão.

Sabendo que o estudo hoje não precisa ser presencial e que o processo de aprendizagem acontece por diversas formas (em comunidades digitais, pela internet, através de fóruns e grupos, por exemplo). Percebem? São várias perguntas e até agora só conversamos sobre questões pessoais.

Nós, que somos jovens de quebrada, precisamos entender que trabalho e estudo são coisas que andam juntas. O conhecimento leva a profundidade nos trabalhos. Se não compreendemos a tarefa em que estamos trabalhando, corremos o risco de perder para a ignorância (no sentido de ignorar o que está em volta de nós). Sem entender o todo do trabalho, o que poderíamos fazer melhor, ou pior, e sem saber nosso verdadeiro potencial. Existe a chance de despendemos tempo e atenção em algo sem necessidade. E esse é o ponto: o quanto podemos ganhar com um trabalho, seja em dinheiro, seja em experiência, seja em uma realização pessoal.

Certo, passado a dificuldade de escolher no que trabalhar, vale pensar na sua família e nas condições que você tem para atingir seus objetivos. Você precisa ajudar financeiramente em casa? Sua família tem condições de te ajudar e pagar uma boa faculdade particular ou um cursinho de um ano para passar numa universidade pública? O que você prefere? Se o seu lance é empreender, você possui recursos iniciais para começar seus negócios? Quando se trata de dizer aos familiares aquilo que você deseja fazer é importante nunca ter medo e se mostrar confiante, com um plano que você vai realizar até conseguir. Em outras palavras, saber onde quer chegar.

Digo isso porque nossos pais têm medo de que a gente não consiga se virar na vida, até porque eles sabem que a vida é dura. Então, quando não sentem confiança em nós, muitas vezes eles tentam nos tirar do nosso caminho e nos colocar naquilo que aparenta, para eles, ser mais seguro e estável. Por exemplo, meus pais ainda temem muito pelo meu futuro, mesmo com a graduação concluída, eles esperam que eu atinja estabilidade com um concurso público antes de me jogar na vida de escritora e desenhista. Mas eu consigo me virar. Outros jovens, por falta de dinheiro ou por falta de incentivo acabam desistindo de seus objetivos pessoais para resolver problemas mais urgentes ou até mesmo realizar os desejos dos pais.

Agora chegamos na questão mais tensa: a realidade!
Estamos em 2017 em plena crise política e econômica no Brasil. Para todas as direções que você olhar, você precisa saber o que você realmente quer, quais serão os desafios, as necessidades da sua família e como anda o seu país e o mundo. Até o primeiro semestre deste ano haviam mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, o que representa 13,4% da população brasileira, e, para nós a notícia vai além. Entre os jovens de 18 a 24 anos a taxa de desemprego é de 28%, ou seja, maior do que a faixa geral. Quando juntamos os dados de desemprego nacional com a realidade de que são as pessoas da periferia aquelas que perdem mais oportunidades de ter um trabalho fica fácil entender que somos nós, os e as jovens de quebrada, que corremos mais riscos de desemprego ou incerteza no trabalho. Mas são nas crises que surgem as oportunidades.

Mesmo com esta situação acontecendo, fico feliz em dizer que nosso dilema não demanda preocupação mas sim reflexão sobre o que queremos fazer. Sabendo que um bom trabalho depende de bons estudos e que estudar não é exclusivamente aquela coisa chata que vivemos durante o ensino médio. Por exemplo, o Kond, da KondZilla, que estudou e muito, mas não fez uma faculdade, se tornou um produtor, diretor e roteirista. Ele precisou aprender para poder realizar aquilo que ele queria fazer.

A questão é essa, antes de se jogar, pense, tire dúvidas com as pessoas que você sabe que não vão te julgar e sim te ajudar. Procure pessoas que correram atrás do sonho e se espelhe nelas. Depois disso, corra atrás e realize seus planos sem esperar que um diploma ou um “mundo ideal” limitem suas ideias!

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A Bruna Tamires (Brunata Mires) tem 24 anos esbanjando espírito de 18), é escritora e desenhista na Malokêarô. Conheça mais do trabalho dela por esses textos no Medium.

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