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Covid-19: gênero feminino é 70% na linha de frente no combate ao vírus

16.05.2021 | Por: Rayne Oliveira

Segundo o ministério da saúde, no dia 26 de fevereiro de 2020 foi confirmado o primeiro caso de coronavírus no Brasil, mais especificamente em São Paulo. O que parecia que iria durar somente alguns meses, tomou uma proporção muito maior e contabiliza mais de um ano. Nós do Portal KondZilla conversamos com uma das profissionais da área da saúde, para contarmos como está sendo esse momento e o impacto que ele tem feito em nossas vidas. 

Estudante do último ano de enfermagem e atuando há mais 1 ano como estagiária no Hospital Regional de Cotia, Karoline Calheiros da Silva, 21 anos, relata como tem sido a sua rotina dentro e fora do hospital. 

“Os primeiros meses foram os que eu mais tive medo, era meu primeiro emprego em um hospital. Eu entrei logo que começou a pandemia, ficava tensa, com medo de fazer qualquer coisa e acabar levando para casa. A rotina é muito puxada e exaustiva, o hospital está bem cheio, por conta disso acaba indo pacientes de outras alas, sejam eles homens, mulheres e até crianças. Lembro de uma paciente que estava com coronavírus e teve uma crise de ansiedade durante o plantão, ela pediu para eu ficar do lado dela, segurando sua mão, mas precisou ser transferida para o setor de Covid-19 e dias depois veio a óbito. Essa foi uma das situações que mais mexeu comigo”, relatou Karol sobre a sua experiência.

O relatório “Covid-19: Um olhar para Gênero” do Fundo de População das Nações Unidas (da siglas em inglês UNFPA), comprova que as mulheres são mundialmente 70% da força de trabalho, sejam em serviços sociais e de saúde. O relato de Karol, traz um sentimento compartilhado por muitos profissionais da área, o medo e a insegurança, afeta até mesmo suas relações pessoais e psicossociais. 

“Eu não imaginava que fosse durar tanto assim, é difícil ter que mudar totalmente a rotina, deixar de ir visitar os avós, não poder abraçar, fora a minha tensão que me acompanha o tempo inteiro com medo de se contaminar. Minha mãe fica super desesperada, eu mal chego em casa e ela já está me esperando com uma sacola para colocar toda a roupa do trabalho e alcool em gel, qualquer tosse é motivo para ficar com medo”, contou a jovem.

O conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), com base em dados do IBGE, indicam que as mulheres representam 65% dos mais de seis milhões de profissionais atuantes, sejam eles no setor publico ou privado. Em carreiras como Fonoaudiologia, Nutrição e Serviço social, elas ultrapassam 90%, enquanto em enfermagem e psicologia, representam mais de 80%. Karol mostrou seu interesse pela área da saúde após o nascimento do seu irmão em 2015, que durante os primeiros dias de vida passou muito tempo no hospital. 

“Eu vivia acompanhando as internações dele, com isso o hospital passou a ser minha segunda casa, por conta dessa rotina me apaixonei pela enfermagem, a forma que prestavam os cuidados. Até hoje eu acho isso lindo e gratificante”, relembra Karol, que hoje, na pediatria, é responsável pelos cuidados intermediários.

A luta pelo reconhecimento

Por mais que o gênero feminino seja  65%, a luta pela igualdade de reconhecimento e salário, segue em caminhos lentos.  Em “A guerra tem rosto de mulher: trabalhadoras da saúde no enfrentamento à Covid-19”, as autoras, Helizabeth Hernandes e Luciana Vieira, mostra que a área da saúde que envolve terceiros, sofre um fenômeno social chamado de ‘feminialização’, ou seja, quando a presença de mulheres implica no valor atribuído às ocupações e os cargos passam a ser socialmente considerados de menor qualificação, remuneração e prestígio, além do aumento de violência e abuso dentro e fora do ambiente de trabalho. 

“Algumas pessoas olham com raiva, se afastam ou até mesmo faltam com respeito, tanto dentro quanto fora do hospital, tem gente que chega até pensar que o vírus é culpa nossa.”, disse Karol. Ela. ainda relatou sobre as dificuldades do ensino a distância: “Eu falo que está sendo o maior desafio da minha vida, não tinha muito foco para fazer EAD. No começo do ano era pior, como tenho uma certa dificuldade com esse tipo de sistema é muito difícil manter a concentração. Geralmente sempre pego as aulas pela metade devido aos plantões, tem dias que saio bem depois do horário, mas os professores são bem compreensíveis. Mas confesso que eu me sinto muito cansada psicologicamente, conciliar estudo e serviço não é fácil e com esse cenário tudo fica pior.”

Mesmo com toda a situação caótica, Karol ainda tem esperança. “Mesmo nos dias mais turbulentos, nós recebíamos boas notícias de que os pacientes tiveram alta, se eu não me engano, foram mais de mil vidas. Sinceramente, não vejo a hora disso acabar, espero que todos tenham tirado uma lição disso tudo e que possamos ser pessoas melhores, com mais empatia”, finalizou ela.

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