Morar sozinho não é fácil, mas tem seu valor
*Todas as fotos por Jeferson Delgado // Portal KondZilla
Quando o assunto é morar sozinho, logo vem a cabeça a famosa liberdade: uma casa inteira para deitar e rolar, comer o que quiser na hora que quiser, tomar inúmeros banhos por dia sem precisar escutar um “desliga esse chuveiro”. Porém, nem tudo é um mar de rosas e as responsabilidades aumentam. Hoje vou compartilhar com vocês e com o Portal KondZilla a experiência de morar sozinho por duas frentes: a minha história e a história da Kathleen.
Eu sou Jeferson Delgado e você já deve ter lido alguma matéria minha por aqui, seja como personagem ou como repórter. Eu nunca fui um cara muito estudioso mas por incrível que pareça, o motivo de ter saído da casa da minha mãe foi pelos estudos. Minha irmã mais velha conseguiu entrar em diversas universidades públicas, deixando um legado de que eu tinha que seguir essa linhagem estudiosa a partir dela. Em janeiro de 2016, ela me convidou para morar com ela e estudar em um cursinho popular próximo ao conjunto habitacional da faculdade. Confesso que não sei o que me deu na cabeça, mas, topei. Sem muito alarde. Meses depois caiu a ficha que eu saí da casa da minha mãe e estava me tornando independente. Com o tempo fui evoluindo, sai do apartamento da minha irmã para morar com amigos que conheci no cursinho e hoje moro com a minha namorada. Contando assim parece uma história foda que deu tudo certo, mas no dia a dia a gente vê que o perrengue bate na porta quase que todo dia.
Eu não sou o único que tem uma história encorajadora quando o assunto é sair de casa, e para provar isso bati um papo com a Kathleen Alves, uma jovem de 17 anos que nunca teve uma relação tão positiva com sua mãe. Isso se tornou o motivo por sair de casa com a mesma idade que eu fui morar sozinho, aos 17. Ambos passamos pelas mesmas dificuldades, como a falta de grana e a relação conturbada com a família, que acaba mudando quando você está distante.
Bora pro papo.
KondZilla.com: Eu saí de casa para estudar e você?
Kathleen: Eu saí de casa porque sempre tive problemas com meu padrasto, nunca falei com ele, sempre tive brigas com a minha mãe, porque eu não respeitava muito ela. Meus maiores problemas pra sair de casa foram familiares, sabe?! Eu não tinha respeito pela minha mãe, era horrível ficar dentro de casa e brigar o dia inteiro. Então foi por isso que eu saí de casa, por que eu queria que meu relacionamento com ela melhorasse.
KDZ: E o relacionamento com a sua mãe melhorou depois que você saiu de casa?
K: Cara, tenho nem o que dizer, mudou da água pro vinho. Era uma porcaria e, mano, melhorou tudo, tudo, tudo! A gente conversa mais uma com a outra, pergunta se tá tudo bem uma com a outra, a gente se ajuda psicologicamente e financeiramente. Nos preocupamos, falamos eu te amo, nos abraçamos.
Quando vou na casa dela eu sou visita, então nosso relacionamento é totalmente diferente. Agradeço à Deus por ter conseguido restaurar isso, por que eu jurava que nunca ia conseguir ter uma relacionamento saudável com a minha mãe.
KDZ: Boa! A gente sabe que morar só é um pouco solitário, como você faz pra vencer isso?
K: Nossa, não é pouco, é muita solidão. Tipo, no começo, eu não sabia como lidar com isso e como meu celular tava quebrado, eu não mexia no celular. Então eu achei livros como uma forma de ter história pra ter curiosidade. Os livros e ir pra casa das amigas foram as coisas que me ajudaram a administrar meu tempo.
KDZ: E cozinhar? você sempre soube cozinhar ou aprendeu morando sozinha?
K: Então, eu não sabia cozinhar, eu fazia o mínimo do mínimo. Morando sozinha eu aprendi a fazer strogonoff, arroz, temperar e compra carnes, todas essas coisas. Mas morando sozinha eu comecei a ver que a vida não é só cachorro quente e pastel, aí eu comecei fazer arroz, muitas saladas, temperos de carnes, macarrão e muitas outras coisas.
KDZ: Minha maior dificuldade é financeira por que eu não tenho trampo fixo. E pra você qual é?
K: Eu não tenho muitas dificuldades financeiras, eu trabalho fixo e recebo bem, por isso não tenho.
KDZ: E como é pro seu psicológico ter que pagar uma grana fixa todo mês pra ter uma moradia enquanto ainda é tão nova? Você tá com o que…17, 18?
K: Assim, pelo fato de eu ter apenas 17 anos, eu pensei que eu não conseguiria manter uma coisa de tamanha responsabilidade. Então fico triste,às vezes, por pensar que esse dinheiro eu poderia estar investindo num curso, numa faculdade, sabe?! Mas eu sei que foi por um bem necessário.
Tipo, eu fico triste porque é um dinheiro que não tem volta, então eu procuro de todas as formas guardar todo dinheiro possível pro ano que vem começar meu curso técnico e pensar numa vida melhor. Tento juntar dinheiro pra comprar um terreno, dar entrada num apartamento ou coisa assim, porque como sou nova, dá tempo de me programar para o futuro.
KDZ: Querendo ou não grana interfere em bastante coisa e pode te deixar de cabeça bem quente. Você tem alguma dica pra economizar e não gastar a grana das contas?
K: Sempre achei que a vida é um grande compromisso. Se você tem um compromisso, você tem que levar ele muito a sério. Então eu pego uma caixinha, separo metade dela com um papel, deixo meu aluguel de um lado e dinheiro pra curtição do outro. Por mais que acabe o dinheiro da curtição, eu procuro não mexer no dinheiro do meu aluguel. Acho que é uma forma de me controlar mais, ai eu escrevo bem grande COMPROMISSOS, e deixo meu dinheiro pra isso lá na caixinha. O resto que sobra deixo largado pela casa mesmo.
KDZ: Passa a visão pra galera que quer morar só. Como que é?
K: É muito intenso responder isso. Primeiro você tem que se preparar psicologicamente pra sair de casa. Segundo você precisa se preparar financeiramente, sair de casa não é “a eu vou sair de casa”, não é isso! Você tem que pensar como vai ser a sua vida sozinha, e nunca pensar em voltar pra trás. “Ah, se não der certo eu volto pra casa da minha mãe”. Não! Caso não dê certo volta, claro, mas a vida é pra frente, nunca pra trás.
Se você saiu de casa é por que você tá criando asas pra voar, então bola que segue. Você precisa pensar que é você e você, precisa lutar pra sua sobrevivência: vai ter que pagar seu aluguel, não vai ter ninguém pra te salvar quandos as coisas apertarem. Quando você vai morar sozinha você pensa “ah, vou comer só besteira”. Mas uma hora vai viver só disso e não vale a pena, você não vai ter onde dormir, não vai ter como lavar roupa, não vai ter pratos, então você precisa pensar na cama, na geladeira, no fogão. Foram coisas que eu gastei e outras ganhei, eu consegui ter apoio, quanto mais apoio você tiver melhor, vê lojas de coisas usados, móveis usados. Tem que se virar.
KDZ: Quem vê assim parece que é de todo ruim, por conta da grana, mas sempre tem um retorno. Não é?
Sim, sair de casa é uma coisa que no começo você se vê sem saída, você não se vê pagando depósito, não se vê pagando aluguel. Depois, voê vê que é um compromisso bem grande e com uma organização melhor, você consegue sim! E você vê o quanto é bom ter privacidade. Você ter seu mundinho, nada paga isso nem sua tranquilidade.
Talvez restaurar o relacionamento com sua mãe seja importante demais, os R$500 do meu aluguel não paga o meu relacionamento restaurado com a minha mãe, sabe?! Então eu agradeço muito as pessoas que me ajudaram, por que eu tive uma amiga que me acolheu na casa dela até eu juntar meu dinheiro do depósito do meu aluguel. É só orar e ter fé que vai tudo dar certo, tudo na vida tem uma saída, só persistir e não desistir que tudo dá certo.
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Todas as fotos são da casa do Jeferson.
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