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Defendendo a cultura e o empoderamento feminino das mina na cena do funk

16.04.2021 | Por: Fernanda Souza

De um bom tempo pra cá, inúmeros ativistas e pesquisadores acadêmicos (funkeiros ou não) vem lutando pela cultura funk, o que só fortalece e enriquece todo o movimento. É o caso de Tamiris Coutinho, de 30 anos e cria de Niterói (RJ), recém formada em Relações Públicas, a qual escreveu seu TCC (trabalho de conclusão de curso) para a Universidade Estado do Rio de Janeiro. Cola no Portal KondZilla pra conhecer essa pesquisa e um pouco do corre da jovem.

‘’Cai de boca no meu bucetão: o funk como potência do empoderamento feminino’’ é o nome da tese de 66 páginas, de nota 10, dada pela banca examinadora como aprovação para a estudante recém formada. O nome faz referência a um hit da MC Rebecca, o qual segundo Tamiris causa um impacto, chamando a atenção para lerem e compreenderem o debate proposto.

“Vi que seria um título potente, o qual chamaria a atenção, pois é uma música dela bem conhecida, principalmente por quem consome a vertente carioca. E sim, quis causar o impacto para chamar atenção ao debate e ao tema.’’, afirma a jovem.

Apresentação e slide do TCC apresentado por Tamiris Coutinho

O trabalho é para mostrar a importância das mulheres no funk, bem como na sociedade em geral, principalmente em termos de representação. É uma análise crítica da manifestação das minas na cena com um olhar no empoderamento feminino.  Daí, a partir da música da Mc Rebecca a ideia foi estudar a recepção das mulheres, olhar para as que cantam putaria e como isso reflete na mudança de comportamento das pessoas em uma sociedade.

“Ao observar o discurso das pessoas que estão envolvidas nesse movimento, percebi como o gênero precisa ser exaltado pela sua relevância social, cultural, musical e mercadológica.’’, declara. Ela nos contou que decidiu fazer esse estudo após o evento acadêmico “Liberta DJ’’, que ocorreu na sua universidade para discutir o funk. Participaram do evento pessoas extremamente importantes como DJ Marlboro, Yasmin Turbininha, MC Sabrina, MC Smith, entre outros. Durante as rodas de conversas e palestras, todas essas personalidades falaram das suas experiências, dores e glórias de viver do gênero musical.

Além de causar polêmica, a gente sabe que o ritmo movimenta milhões para indústria da música e claro, é responsável por gerar renda e revelar talentos da favela. Por isso, aproximar as vivências dessas pessoas por meio do funk para debater pontos da sociedade é uma forma: de discutir a realidade. Isso possibilita também que pessoas da quebrada tenham iniciativa de fazer trabalhos acadêmicos voltados para os tópicos que os cercam, sem medo!

Tive total apoio dos meus colegas e do corpo docente envolvido na produção do trabalho. Fui muito acolhida pela minha orientadora que acreditou na importância de trazer novos olhares para o tema e novos temas para o debate universitário. Meus colegas, professores envolvidos diretamente com o trabalho e o corpo docente da faculdade, inclusive, estão sendo fundamentais. Eles têm me apoiado muito neste momento em que tenho sofrido diversos ataques nas redes

Críticas ou preconceito e injúria racial?

Posicionamento da liberdade de expressão e pesquisa em nota da Faculdade de Comunicação Social (FCS) da Uerj:

Criticas negativas e falas violentas foram disparadas na internet, inclusive de pessoas com notoriedade como Eduardo Bolsonaro. Tamiris Coutinho recebeu inbox nas suas redes com ofensas e ameaças, as quais motivaram a nota da universidade. “A maioria dos ataques são de discurso de ódio a fim de me ofender, diminuir e menosprezar. Aos que se deram o trabalho de fazer isso, foi a toa, pois em nada me abalou. Estamos analisando comentários e mensagens que sejam passíveis de medidas jurídicas, assim como perfis que estão usando meu nome e imagem’’, encerra.

Segundo Juliana Bragança, professora de história, mestra pela UFRRJ e autora do livro ‘’Preso na Gaiola’’, que também já sofreu deslegitimação em seus estudos,  pesquisar e debater funk é uma forma de enegrecer(aproximar as pessoas e cultura preta) os espaços acadêmicos. Ainda, é muito importante as mulheres funkeiras se manifestem por Tamiris. ‘’Chamo esse processo de racismo e misoginia. Tamiris é mulher preta que está debatendo o empoderamento no movimento, cultura preta, pobre e criminalizada”, afirma a pesquisadora.

O TCC chegou em MC Rebecca, que o divulgou e incentivou a leitura da tese. Inclusive, demonstrou-se feliz e orgulhosa. Além disso, a pedagoga, dançarina e ativista  Renata Prado saiu em defesa junto com uma galera para apoiar esse tipo de perseguição. ‘’ A elite acadêmica não quer mulheres negras falando sobre funk, reduzir nossa intelectualidade é uma forma de anular nossa relevância quando esse é o assunto’’, comenta Renata.

O bonde do funk está bem defendido por mulheres, seja nas ruas, nas músicas, na dança, na pesquisa e academia. Pra finalizar essas ideias, deixamos ‘Rainha da favela’ de Ludmilla que homenageia as mulheres com um legado na cena, representando e ganhando espaço.

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