Comportamento

“Meu sonho é levar o orgulho de volta à Periferia”, conta Marcus Rochah, criador da marca Mete a Marra, da favela de Paraisópolis

11.11.2020 | Por: Gabriela Ferreira

A frase “porque os problemas da quebrada é nois que resolve“, do MC Kauan, é atemporal e diz muita coisa. No contexto atual, da pandemia que estamos passando, mais ainda. Um exemplo disso é Paraisópolis, favela da Zona Sul de São Paulo, que teve uma grande mobilização interna para lutar contra a Covid-19. Foram diversos tipos de iniciativas para ajudar a espalhar informações sobre prevenção ao vírus, e ainda arrecadação de alimentos e produção de máscaras, a exemplo do projeto #MeteAMascara, da marca Mete a Marra, criada por Marcus Rochah. Se liga! 

Marcus Rochah // Foto: José Barbosa

Apesar de ainda existir uma preocupação com o distanciamento social, sabemos que a vida já está voltando ao “normal”. Como ainda não existe a vacina, a melhor forma de se prevenir é usando a máscara. Por isso, a marca de roupas Mete a Marra criou uma campanha especial. “#METEaMASCARA surgiu no começo do isolamento. Queríamos conscientizar as pessoas sobre o uso de máscara, já que muita gente já não estava conseguindo ficar de quarentena em casa”, comenta Marcus.

O fundador da marca conta que toda a ação foi feita sem que as pessoas precisassem se encontrar: “Todos os 66 envolvidos fizeram sua própria foto ou vídeo e mandaram. A ideia de usar pessoas da comunidade foi justamente essa: que todo mundo conseguisse passar a mensagem por meio de suas redes sociais. Também reaproveitamos vídeos antigos e ainda criamos um  filtro no Instagram, que é a réplica da nossa máscara física, para que todo mundo pudesse fazer parte. Rola uma energia tão incrível no nosso projeto, que todo mundo acaba ajudando e fazendo parte de alguma forma. Acho que quando você abraça a quebrada, a quebrada te abraça de volta”.

Autoestima da favela

A Mete a Marra existe há quatro anos e foi fundada por Marcus Rochah, 33 anos, alagoano que mora há 23 anos em Paraisópolis. “Nós buscamos mostrar o que tem de mais valioso nas favelas: as pessoas. Queremos resgatar a vontade de falar ‘somos da periferia SIM! E com muito orgulho'”. Apesar disso, trabalhar com moda não estava nos planos de Marcus. “As coisas foram acontecendo e hoje não consigo viver sem. É por meio da moda que conseguimos expressar as mensagem que precisam ser ditas”, revela. 

Modelos: Neilson Santos Jr., William Rodrigues, Pedrinho Santos, André Do Nascimento Carvalho e  Zenon Cruz // Foto: Túlio Duval

Tudo começou com a confecção de uniformes de time de várzea. “Reparamos que o empenho, dedicação e profissionalismo do jogo não era refletido nos uniformes. Então, decidimos desenhar e confeccionar uniformes completos, misturando influências gringas com a assinatura do futebol de favela”, relembra Marcus. 

“Hoje, a Mete a Marra se tornou um grito que vai em todas as coleções de roupas, sempre levantando a bandeira da periferia e de onde somos, Paraisópolis”, ressalta. 

Modelo: Alane Santos // Foto: José Barbosa

Criar uma marca não é do dia pra noite e requer muito trampo, coisa que aconteceu com a Mete a Marra: “O maior desafio é ter que começar do zero, sem investimento e sem estrutura. Ao mesmo tempo, foi assim que aprendemos muito e conseguimos chegar até aqui. Estamos fazendo moda para a quebrada e quando você se identifica com isso, você começa a entender mais o nosso propósito e pensar: ‘Por que comprar roupas de marcas que nem conheço? Por que não fortalecer os negócios e empreendedores da minha quebrada? Eu quero mostrar de onde eu vim, de onde eu sou'”.

Mais que uma marca de favela, a Mete a Marra quer passar um recado: “Não desista dos seus sonhos, corra atrás. Queremos dar voz e oportunidade pra nossa galera. Mostrar pro mundo o lado bom das periferias, que existem pessoas de bem, artistas, modelos, atletas, entre outros tantos sonhadores.”

Conheça a marca e participe do desafio #METEaMascara!

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