MC Tha lança projeto “Meu Santo é Forte” com produção de Mahal Pita e DJ MU540
A cantora decidiu fazer uma releitura de composições já gravadas por Alcione em um EP com cinco faixas e um programa irreverente protagonizado pela MC Tha
Nesta terça-feira (28), MC Tha disponibilizou em todas as plataformas o projeto transmídia “Meu Santo é Forte”. O EP, composto por cinco faixas originalmente cantadas por Alcione, apresenta uma imersão da artista com as religiões afro-brasileiras, que de forma autêntica mescla o ritmo do funk com tambores e pontos cantados. Ao lado de MahalPita, produtor musical e artista transmídia que assinou o novo trabalho, MC Tha buscou traçar uma linha do tempo de volta a criação do funk mais percussivo e dos toques afros mais digitais.
“Eu fui arrematada por Alcione quando descobri o seu repertório de canções afro-religiosas. Em 2016, passei a frequentar um terreiro de Umbanda e me apaixonei por uma música cantada nas giras. Quando pesquisei sobre, descobri que a música era interpretada por ela e não acreditei. Até este momento, só conhecia Alcione por meio das canções de amor”, conta MC Tha.
Para o “Meu Santo é Forte”, as composições selecionadas para guiar tais propostas foram “São Jorge”, “Figa de Guiné”, “Corpo Fechado”, “Afrekete” (produzida por MU540) e “Agolonã”, todas lançadas originalmente entre as décadas de 70 até os anos 2000 – as três primeiras, respectivamente, ganharam na nova versão um coro especial da Comunidade Jongo Dito Ribeiro. “
Além disso, a cantora expandiu o projeto ao dar vida ao programa fictício “Clima Quente Show”, uma releitura do antigo programa “Alerta Geral” apresentado por Alcione na década de 70, onde ela recebia personalidades e sambistas em plena TV aberta. Com roteiro escrito pela própria MC Tha, direção de Rodrigo de Carvalho e Vitor Nunes, o programa ‘Clima Quente Show’ recebe artistas em desenvolvimento na cena atual da música brasileira e convida MC Tha para apresentar as canções de “Meu Santo é Forte”.
Neste projeto, a produção ainda conta com uma publicidade exclusiva da Sallve, marca nativa digital que busca conectar pessoas, ideias e conteúdos sobre um novo mercado de beleza, e também anuncia a volta das vendas do LP no álbum Rito de Passá (2019) pela NOIZE Records Club.
“Entre tambores e evocações sagradas, encantos falados e pontos cantados, uma gira musical se abre em uma mistura de feitiço e arte. MC Tha recanta o balé de Afreketê ao lado de Xangô, Ogum e Exú, seguidos pela magia negra ancestral dos pretos e pretas velhas da Umbanda”, descreve David Dias, Sacerdote de Umbanda e Pai de Santo no Terreiro Aruanda, em São Paulo, mestrando em Ciência da Religião pela PUC-SP, CEO do Aruanda Studios e fundador do Movimento “Terreiro Resiste”. “Esta obra pode ser considerada ebó aos ancestrais, onde o Tempo, fio condutor entre a manifestação do passado no presente, prevê um futuro de sucessos e sorrisos os quais arduamente trabalhamos para encontrar”, finaliza.
Em entrevista para a KondZilla, MC Tha comentou que se sente muito honrada de estar neste lugar de homenagem às raízes afro-religiosas, pois isso nunca foi um plano de sua carreira. A cantora conta que quando começou a frequentar o terreiro, há seis anos, ela se deparou com o funk no local.
“Há seis anos eu passo a frequentar um terreiro e aí o que é muito louco é que lá dentro eu encontrei o funk, encontrei ele de outra forma. Nos toques, no congo de ouro, que é muito presente no terreiro e também uma das batidas mais usadas no funk… e o som da MC Tha tem isso, desde quando eu tinha 15 anos, de trazer a minha vivência, de falar das minhas coisas e falar de terreiro pra mim é uma honra que minha imagem tenha se associado a isso, porque eu percebo o movimento de muita gente jovem se comprometendo com essas comunidades de axé. Tem muita gente nova no terreiro se afirmando na religião, tendo coragem de se expor de alguma forma. Então eu acho positivo nessa geração ter uma MC Tha pra cantar as coisas, fazer uma música contemporânea, uma música pop”, comenta.
A cantora também falou sobre como a espiritualidade lhe constrói como artista, afirmando que sua fé se torna confiança e que o terreiro tirou todo sentimento de culpa e falta de representatividade por não se sentir olhada, se sentir vulnerabilizada, principalmente dentro do movimento funk.
“Antigamente a mulher tinha um lugar determinado. Ou ela era dançarina de funk ou ela cantava funk putaria pra entreter os caras no baile. Se chegasse alguém como eu com a proposta de fazer os que os meninos estavam fazendo, um funk consciente ou um proibidão, ou não tinha espaço ou já se tornava “o parça”. Tinha uma época que eu me masculinizava de alguma forma pra ter um respeito. Usava calça larga, usava jaqueta quando ia me apresentar, porque eu não queria ser violentada. Então eu acho que estar em uma comunidade de terreiro me trouxe todos esses valores, de ter Deusas, Orixás femininas sendo representadas com a força que elas têm, cada uma do seu jeito. As próprias entidades fazem eu entender muito mais a minha natureza e eu consegui me aceitar”.
O novo trabalho estreia nos palcos no dia 30 de junho, no Cine Joia, em São Paulo, com DJ sets confirmados de Brazooka e MU540. Logo na sexta-feira seguinte, 8 de julho, MC Tha leva o show de lançamento para o Circo Voador, no Rio de Janeiro (ingressos aqui), dividindo a noite com Jup do Bairro.