Mais corre, mais sonhos e mais dinheiro: conheça a história de Ramiro Brito
Com certeza você já viu ou ouviu alguém fala que quanto mais você corre, mais dinheiro e sonhos serão conquistados, mas como é essa vivência para quem mora dentro de uma quebrada? Ramiro Brito, criador e empreendedor da marca ‘Mais Corre Mais Dinheiro’, topou conversar com o Portal KondZilla para contar melhor essa história.
Ramiro Brito é o grande idealizado do projeto. Aos 22 anos, ele é morador de Osasco, localizado na zona oeste de São Paulo e conta que os pais vieram do nordeste para a capital em busca de oportunidades e melhores condições de vida.
Entre tantas dificuldades, seus pais sempre apoiaram seus sonhos, até mesmo o de jogador, onde ele revela que tinha tudo, menos o talento. A identificação dos jovens de periferia com os jogadores de futebol é algo comum, já que muitos vieram de alguma quebrada e boa parte foram criados por mães solos, mas nem todos conseguem se dedicar inteiramente para o esporte, pois desde pequenos assumem responsabilidades de cuidar dos irmãos enquanto a mãe trabalha entre outras questões, o que cobra de meninos e meninas dessas áreas um amadurecimento precoce.
“Como eu assistia ‘Pequenas Empresas & Grandes Negócios’, eu tinha comigo que não queria trabalhar para os outros. Sempre quis ser um daqueles empresários que apareciam falando de suas empresas, porém como todo menino, despertei a vontade a vontade de ser jogador de futebol, mas deixei essa ideia de lado, sempre gostei de vendas e através de uma matéria na televisão onde a moça contava as aventuras de ser dona do seu próprio negócio que eu tive esperança de querer ser algo maior e melhor”, relembra Ramiro.
O começo da caminhada
De ajudante de padaria, atendente em depósito de gás, vendedor de caneta mágica, chocolate e roupa e até auxiliar administrativo, Ramiro trilhou e ainda trilha um grande caminho. Tanto que os programas de jovem aprendiz auxiliam para a inserção dentro do mercado de trabalho, porém, hoje com a nova lei trabalhista, esse programa segue correndo um grande risco.
Aos 14/15 anos, ele presenciou as dificuldades de casa e para ajudar sua mãe procurou uma renda extra, neste momento começou a trabalhar na padaria junto com seu amigo Igor, o que não durou muito tempo por conta da precarização do local. Sendo assim, Ramiro investiu nas canetas mágicas que foi febre na época da escola, depois de um tempo começou a vender chocolates, o que quase custou uma reprovação na escola, pois estava tão focado no trabalho, que só pensava nisso.
“Hoje olho para trás e vejo que a tratativa que os chefes e os clientes tinham com meus amigos era bem diferente comigo. Isso foi um dos gatilhos que fizeram eu ter ansiedade. Desde pequeno tentaram me convencer que o mundo é assim e que eu tinha que aceitar e ser refém dessas pessoas”, comenta.
Os dados de um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade de Brasília, divulgado em 2019, mostra que o índice de suicídio entre jovens negros é maior do que entre jovens brancos. A cada 10 jovens que tiram a própria vida no Brasil, seis são negros. Além disso, dados como a renda média do trabalhador negro ser 55% menor que a do trabalhador branco e o desemprego ser mais alto do que entre brancos, também ajudam a entender de onde vem os impactos psíquicos da discriminação racial.
No contexto de uma crise sanitária e a ascensão da cultura do cancelamento, ganhando destaque com a edição passada do Big Brother Brasil 21, onde Lucas Penteado passou por diversas situações onde sua capacidade psicológica foi colocada em jogo, enquanto Karol ConKá, se tornou cancelada e julgada dentro e fora da casa.
A pressão de precisar se provar o tempo todo desencadeia diversas dores que nunca se cicatrizam e quanto mais velho, mais difícil de aprender a lidar com elas, mas não impossível.
Ramiro conseguiu aprender isso ainda cedo, ouvindo muito rap para conseguir lidar e se tornar uma pessoa critica, o jovem empreendedor viu na música uma maneira de criar coragem: “Escutava muito rap, isso me encoraja a correr atrás e não baixar a cabeça para mais ninguém, deixei de ser vítima.”
No trecho ‘É igual me jogar aos lobos, eu saio de lá vendendo colar de dente e casaco de pele”, do som Mandume do Emicida, relata como as pessoas esperam que uma pessoa do gueto se comporte, como ela seja conforme as estáticas comprovam, e foi o que Ramiro fez.
“Minha maior dificuldade no empreendedorismo foi conseguir fazer amizade com pessoas que também tinham suas próprias marcas, mas eu não frequentava os mesmos lugares. Um vez pedi o contato de fornecedores para uma galera mais conhecida em Osasco e eles fizeram um grupo para poder me ofender, chegou a rolar print de eu pedindo ajuda e só fui saber disso quando a colega de um amigo meu tentou me zoar, mas o cara me conhecia”, pontua.
Entre o corre e a maldade
No começo, o empreendedor montou a primeira marca AMDMC, que significava ‘A Maldade Do Mundo Cega’, por conta das diferenças que ele sentia na forma que era tratado perante as pessoas. Mesmo com um alto nível de vendas, a marca infelizmente quebrou em 2018, após a separação dos pais.
“Precisava correr o dobro para conseguir bater a meta nessa empresa, entrava as 10h e saia as 22h, meu chefe sempre me questionava do porquê disso, a resposta era simples: ‘quem mais corre, mais dinheiro tem’. Até que um dia eu trabalhei das 10h às 22h, durante 45 dias sem folgar e no 43° dia eu postei a frase no insta”, conta Ramiro.
Depois de um tempo, Ramiro foi demitido do emprego sem nenhum motivo coerente. Segundo ele, nem mesmo RH da empresa soube explicar, mas com o valor do seguro desemprego, investiu na marca.
Recentemente, Ramiro conseguiu alcançar pessoas que até então pareciam impossíveis, inclusive MC Caverinha foi uma dessas pessoas. O melhor de tudo é que são pessoas reais, com vivencias reais e que de fato se identificam com a marca.
Hoje, o jovem enxerga muito além do que espera, entende que sua marca se tornou de todos nós real correria. Como ele sempre fala: “Vão dizer que foi sorte porque ninguém viu nosso corre”.