Bregafunk

Sucesso em todo país, ritmo do Brega Funk domina o passinho em Sergipe

01.03.2022 | Por: Carolina Matias

É som de preto, de favelado e quando toca ninguém fica parado! É nesse ritmo que a galera de Sergipe vem consumindo um dos maiores gêneros atuais da música brasileira: o Brega Funk (BF). E por ser um dos estilos mais tocados nas periferias do nordeste, o BF é, na certa, sucesso em qualquer lugar que passa. E junto com o ritmo, a dança do passinho não poderia ficar de fora, até porque “o Brega Funk sem dança, não é Brega Funk”. Então se liga que aqui na KondZilla a gente tá trazendo um novo olhar sobre esse movimento oriundo do nordeste!

O Brega Funk é brega! 

O brega, assim como o funk, é uma expressão cultural da periferia, e com a junção dos dois movimentos, forma-se um ritmo que aborda as narrativas e as vivências de pessoas negras nas quebradas do Brasil. Para entender melhor sobre o assunto, conversamos com Rohana Almeida Fonseca, 27, que é professora de dança, empreendedora, artista e pesquisadora, de Pedrinhas/Sergipe. Ela fala do Brega Funk como “Um movimento artístico que é produzido na periferia, consumido pela periferia, e que movimenta uma oportunidade de mercado lá dentro.”

Rohana Almeida
Imagem: Enderson Rodrigo (@eu_enderson)

Além disso, ela explica que “O Funk é do Rio de Janeiro, e teve como referência a música negra americana com a cultura popular da diáspora Africana no Brasil, sobretudo a do RJ”, disse. Já o “Brega-funk é um subgênero do Brega que bebe do beat de outros gêneros da cultura periférica nordestina como tecnobrega, batidão romântico, de grupos populares de Pernambuco como caboclinhos e elementos do funk carioca”.

Para que as pessoas compreendessem logo de que ritmo os pernambucanos tanto falavam, começaram a usar o termo brega funk.

Conversamos também com Sara Saulo, 22, estudante do curso de dança da Universidade Federal de Sergipe (UFS), do bairro Coqueiral, em Aracaju. Elu conta da construção do BF nas periferias de Recife e dos DJs e MCs que começaram com o movimento:

A construção do cenário do Brega Funk

“Um fator importante para construção desse cenário foi a swingueira e o pagodão, que tinham fortes influências sobre a dança. Quando o brega funk começou a ser tocado, eles (DJs e Mcs) perceberam que dava pra encaixar alguns passos característicos da swingueira, e foi se construindo essa dança do BF. Até que em 2018, os MCs Shevchenko e Ellocco lançam a música “Gera Bactéria”, e foi a partir dessa música que o passinho começou a se estruturar como uma dança que era e provinha do brega funk”, disse.

Na letra da música eles colocam: “esse passinho é novo e nasceu da favela, nós manda embrazado lá dentro do brega”

Um dos principais nomes que ficaram conhecidos foi o de Dadá Boladão, um MC das antigas de Recife. “A partir dele, outros artistas foram aparecendo e pegando referência no seu trabalho, como a MC Danny e a MC Drika”, disse Sara.

Sara Saulo
Imagem: Reprodução.

Sara é estudante de dança e vai defender em seu trabalho de conclusão de curso o diálogo entre a música e a dança, trazendo a construção do Brega Funk como um movimento de resistência dos MCs de Recife. Sara ressalta em sua pesquisa a repressão que os MCs sofrem com a abordagem policial por conta de questões internas que aconteciam entre os bairros das cidades. E, também, como isso influenciou o cenário do funk. 

Passinho dos Maloka x Passinho do brega funk

Existem diversas manifestações do passinho no Brasil inteiro, com nomes que variam de acordo com a região. “São dois termos para falar da mesma coisa, às vezes a gente utiliza o passinho do brega funk porque se entende que em outros lugares do país utiliza o termo “maloka”, que é muito comum de se usar”, explica Sara Saulo. 

Sendo diferente em cada estado, os passinhos foram surgindo nas quebradas trazendo referências de ritmos distintos. Para Rohana, “o passinho vai surgindo em outros estados brasileiros, a exemplo do Passinho do Romano em São Paulo, o Passinho Malado de Belo Horizonte, porém com elementos singulares que representam a identidade de cada região.”

O passinho do Brega Funk é caracterizado pelo improviso e pela swingueira baiana. A professora de dança Rohana explica que o movimento também tem influência das “Manobras, como a do frevo e alguns passos semelhantes do Passinho dos Malokas de São Paulo, porém mais sensual e seguindo o ritmo envolvente”, finaliza.

Sara coloca que às vezes prefere especificar sobre qual passinho está falando para não ter confusão com os de outras regiões. 

Dançando eles se libertam

Os duelos de passinho ganharam força inclusive no interior de diversas cidades nordestinas. Em 2019 no Sergipe, o Brega Funk chegou aos ouvidos da população com mais presença, sendo difundido para todo o estado. Sara explica que hoje o ritmo é o movimento de música e de dança mais presente nas quebradas, influenciando principalmente os jovens e adolescentes.

Rohana traz um olhar sensível e importante para a cultura do passinho: “É uma verdadeira revolução de corpos subalternizados (negros, periféricos, lgbtqia+) se mostrando vivos e livres, logo rapidamente hostilizados pelos discursos hegemônico de pessoas em espaços de poder na cidade que proibiram os duelos na praça”, disse.

Fadismo e as batidas na bunda

Super presente nos clipes de funk, as batidas na bunda representam, também, um novo movimento intitulado “fadismo”, que surgiu do passinho, praticado principalmente por um grupo de mulheres e homens gays. Tem bate cabeça, eles rebolam e vão no chão, saltam e escalam, ou seja, fazem movimentos mais alongados nas danças. Um dos grupos mais conhecidos e pioneiros do “fadismo” é o “Seja Fada”.

Grupo Seja Fada, de Sergipe
Imagem: Reprodução.

Conversamos com a dançarina e blogueira Wanessa Elen, 21, que é idealizadora do grupo ‘Seja Fada’, famoso por representar o “fadismo” e as batidas na bunda em Sergipe. A dançarina falou sobre como a população do estado de Sergipe recebeu o BF: “Rolou uma boa visão sobre o gênero do brega funk, o público das periferias sergipanas amou o movimento que veio de Recife”, disse.

Sendo uma precursora do ritmo na dança e no estado, Wanessa conclui sua fala: “Sempre tem aquela descriminação pelas letras (do BF) serem muito pesadas, mas às vezes nem é a letra que nos faz ser o que as pessoas pensam”, disse. 

Com a ascensão do ritmo, os grupos foram se formando e começaram a acontecer disputas com outras cidades na internet: “E aí começaram a ser feitos vários encontros, rolezinhos, batalhas de passinho”, conta Sara, que coloca as redes sociais como um meio importantíssimo para divulgação dos trabalhos e eventos:

Instagram

“O instagram foi um meio que a galera utilizou para divulgar, então a gente começou a seguir dançarinos de outros lugares e ver como eles faziam, como eles colocavam características regionais na dança, e assim foi se construindo a cena”, conclui.

E nisso, diversos segmentos e olhares para o passinho e o brega funk vão surgindo. O brega funk é a cultura da periferia do norte e nordeste, assim como é o funk no Rio e São Paulo. Dançar o brega funk é um caminho de liberdade para corpos periféricos que expressam suas experiências culturais através do movimento.

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