“Quero passar que a revolta não traz ninguém de volta e o crime não compensa”, diz MC Kaverinha sobre sua missão no funk
Diretamente das quebradas de Guarulhos, São Paulo, Wagner Cordeiro da Silva, 21 anos, mais conhecido como MC Kaverinha, é popular no universo do funk por relatar as vivências dentro das favelas, além de falar da vida dentro dos presídios. Apontado muitas vezes por suas letras que envolvem assuntos polêmicos do cotidiano, o artista colou com o Portal KondZilla para falar um pouco da sua história de vida.
Inspirado pelos amigos e batalhas de rima ainda na época de escola, Kaverinha é sucesso dentro das favelas. Não é à toa que o artista reúne mais de 80 mil ouvintes mensais na plataforma do Spotify, quase 400 mil seguidores no Instagram e muitos milhões no YouTube com músicas como: “Diário de Um Interno”, “Vilão de Quebrada” e “Filha do Policial”.
“Eu mandava umas rimas, mas não pensava em ser MC, até que fiz uma música que repercutiu na quebrada, e sempre tinha gente cantando ela no fundão do ônibus quando eu voltava da escola”, comenta Kaverinha sobre o começo da caminhada no funk. “Outro ponto importante foi uma batalha de rima que tava tendo na escola e quando eu soltei a rima, a escola inteira foi abaixo. Depois disso, não teve como fazer outra coisa”, relembra.
O acaso de ser MC trouxe junto o sonho de mudar a vida da mãe e a liberdade para relatar o cotidiano das favelas e a vida nos presídios do Brasil a fora: “Minha mãe sempre trabalhou para dar as coisas para nós, porém sempre foi difícil ter três filhos. Ela saía cedo e deixava a gente na escola. Uma das minhas professoras era a mãe do MC Neguinho BDP. Passamos por altos e baixos, várias dificuldades, enchentes, ventos que derrubaram as telhas, mas seguimos. Descontei todas essas noites de ódio no caderno de letras”.
Deslanchando de vez através dos medleys, MC Kaverinha tem seu nome evidente na cena há mais ou menos 3 anos. Questionado sobre suas referências no universo do funk passou a visão: “Minha referência é só uma, que infelizmente não tá mais no mundão e não vou poder realizar o sonho de gravar um som junto, que é o MC Zoi de Gato”.
Kaverinha é muito conhecido por cantar sobre a vida na quebrada e a realidade dos presídios, entre outros assuntos delicados. Assim como acontece com artistas de rap e outros nomes do funk consciente ou do funk de relato, o artista precisa se defender quando o assunto é apologia ao crime. “Algumas pessoas entendem e outras não, mas o que eu realmente quero passar se resume em uma frase: a revolta não traz ninguém de volta. Então o crime não compensa, essa é a visão”, diz ele.
Quanto às inspirações no momento da escrita, o MC relata que tudo vem das vivências adquiridas por residir próximo de presídios, que o faz refletir sobre o sofrimento dos detentos e familiares. “Eu e o MC Neguinho BDP morávamos perto de uns presídios, e a gente ficava escrevendo umas letras na passarela de acesso. Então tudo que cantamos hoje, a gente já viu: visitar passando necessidades e diversos outros venenos que resolvemos colocar no papel e contar essas histórias”.
Para finalizar, MC Kaverinha diz não ter se orgulhado da vida errada e manda conselho para molecada de favela: “Me envolvi sim, mas foi por pouco tempo. Graças a Deus consegui enxergar que essa vida não compensa, você perder sua liberdade, pode perder até mesmo o movimento das pernas como já vi parceiros levar tiro e ficar de cadeira de rodas o resto da vida. Por isso, sempre digo para molecada pensar mil vezes na hora de fazer a coisa errada ainda não é o suficiente. Resumindo: se você tiver um parceiro nessa vida, pergunte pra ele, caso ele ainda esteja nesse mundão né”.
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