Produtor de Rap e Funk, DJ Cuco conta sobre o começo das produções na Baixada
Trabalhando sob o olhar do californiano Dr. Dre, o produtor Osmar de Souza Rabelo, 36, mais conhecido como DJ Cuco, recebeu o Portal KondZilla no seu QG, o Estúdio Bom Bando, para contar sobre o momento em que a Baixada Santista começou a fazer a transição do rap para o funk. Cuco, além de produtor, também é cantor de rap do grupo Voz d’Assalto e sempre fez cara feia pro funk, até que recebeu a dupla Pato e Sam e conheceu o funk consciente. De lá pra cá, você confere na matéria.
No final dos anos 90, o litoral de São Paulo começava a conhecer o ritmo carioca. Em São Paulo, o som das periferias era o rap, que já era popular com: Racionais MCs, RZO, 509-E, entre outros. O funk ainda encontrava barreiras entre os rappers locais, principalmente por falar de dança, alegria e sensualidade.
Cuco, que é integrante e também produtor das músicas do grupo Voz d’Assalto, era um dos que olhavam ‘torto’ para o funk naquela época. Inclusive para artistas da capital São Paulo.
“A gente [do rap] conhecia o funk principalmente pelas músicas dançantes. Era dança da motinha, dança da bundinha. E o pessoal do rap, e eu me incluo nisso, menosprezava o funk” conta Cuco, com certo ar de arrependimento. “Mas certo dia, lá no início dos anos 2000, abri as portas para Pato e Sam, uma dupla de funk da época que cantava um funk consciente. Foi então que veio o estalo que aquilo tinha muito a ver com o rap” explica o produtor.
Osmar acredita que na época, o funk se espelhava no rap até nas vertentes, com o funk consciente, algo próximo ao ‘rap cru’, e o funk proibidão, que era algo mais espelhado no gangsta rap. Ambos falavam da violência e do modo de viver na periferia, o que é uma linha muito tênue entre o ‘cotidiano’ e a ‘pregação’ da violência.
Na ‘época de ouro’ do funk na Baixada Santista, diversos MCs se destacavam com músicas voltada ao consciente, caso do MC Primo, MC Careca, MC Duda Marapé, entre outros. Todos produziram com o DJ Cuco, que tinha um diferencial.
As produções da Baixada, entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000, traziam um formato muito simples: a batida do tamborzão, com um sample recortado (alguns chamam de pontinho) e os vocais do MC. Atento a esse formato e com a bagagem do rap, o produtor começou a trazer melodias criadas com instrumentos para o movimento que se iniciava na Baixada.
“Eu fui pioneiro na questão dos arranjos aqui na Baixada Santista. Antes, a galera tinha que viajar para o Rio de Janeiro pra fazer algo com arranjo, mais comercial mesmo. Isso era um diferencial”. Só que isso não foi tão fácil, lembra o produtor. “De início, o pessoal aqui da Baixada não curtia, precisou uma música com arranjo estourar pro pessoal pedir produções com essa pegada”. A música estourada, da dupla de MCs Pato e Sam, elevou o nível das produções da época.
Outra música que foi sucesso produzida por Cuco é “A Viagem“, do MC Felipe Boladão. O cantor foi um dos quatro funkeiros assassinados entre os anos de 2010 e 2012, todos no mês de abril. Além de Boladão, os MCs Careca, Primo e Duda do Marapé também foram mortos a tiros.
“Eu trabalhei com todos eles e foi algo que abalou a todos. O Boladão era um moleque especial. Na música ‘A Viagem’, pensamos em fazer algo épico. Acabou dando certo”, explica Osmar, que nunca entendeu o que aconteceu com os amigos.
São Paulo começou a abraçar o funk lá no final dos anos 2000, quando a vertente da ostentação (com letras que falavam de carros, roupas e mulheres) começou a despontar na Zona Leste. Algo que não era novidade para Cuco, que já tinha feito até letra de ‘rap ostentação’, o que também não era bem visto pela galera do rap.
“Essa minha letra é de 2001 [música ‘Vai Rolar’, do grupo Voz de Assalto]. Eu vejo as músicas de ostentação como uma parada de comemoração, só que com o passar do tempo, foi ficando uma coisa fora da realidade da galera”, lembra o produtor que deixou de participar do funk na época da ostentação. “Agora veio a putaria, que se aproxima mais do dia-a-dia desse pessoal” conta.
Numa comparação entre as produções de funk dos anos 90 e 2000 com o funk de hoje, o produtor faz novamente um paralelo com o rap. “Lá nos Estados Unidos, têm novos lugares surgindo na cena. O caso de Atlanta é com as batidas não tão sujas, algo mais leve, assim como São Paulo está hoje. E na antiga, o que eles chamam de golden era, que vinha de Nova Iorque, tinha uma batida mais carregada, algo rústico, o que se aproxima do tamborzão do Rio de Janeiro” conta o produtor ao comparar o som carioca, com as batidas mais ‘clean’ que a turma de São Paulo tem feito.
Cuco, apesar da aparência de jovem, já está no seus 36 anos de idade. Maduro sobre o mercado musical, ele se estabeleceu como produtor musical e trabalha com gravações, produções, master e mix de qualquer gênero musical. O erro com o funk fez ele aprender a lição e estar aberto a qualquer movimento musical.
Figura importante pro movimento de funk na Baixada, hoje acompanha de fora o funk. Mesmo assim, admite que sente falta dos tempos de ouro da Baixada Santista. “Eu acompanho de longe o que acontece no funk de São Paulo. Gosto de algumas produções do DJ Perera, achei a produção de ‘Deu Onda‘, do DJ Jorgin, muito boa. No entanto, hoje estou um pouco parado, produzindo mais rap mesmo”, finaliza.
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