Educação

Pesquisa mostra que professores não conhecem os ídolos musicais dos alunos

16.07.2019 | Por: Gabriela Ferreira

A gente sabe que a música move o dia a dia de muitos adolescentes, e mesmo que não seja indicado ouvir uns sons durante a aula, muitos ainda dão um truque pra conseguir passar o dia na escola ouvindo música. Sei bem disso porque já fui uma dessas que esconde o fio dos fones de ouvido por dentro da camiseta e usava o cabelo pra disfarçar o fone. Como é muito difícil impedir que isso aconteça, então porque a música não pode ser usada como uma forma de educar? O estudo “Rap, funk e pop internacional: percepções dos professores sobre as referências musicais dos alunos“, de Rogério Pelizzari de Andrade fala um pouco sobre isso. Vem que o Portal KondZilla te explica como isso seria possível.

Em sua pesquisa de Doutorado, Rogério Pelizzari mostra que a noção de música dos professores é muito diferente do que influencia os alunos. A pesquisa foi realizada entre março e maio de 2018 com mais de 1400 alunos e 37 professores da rede pública de ensino e mostra uma disparidade de referências entre artistas e músicas entre docente e alunos. Este estudo se refere ao município de São Paulo, mas o Rogério pretende ampliar a pesquisa para todo os estado de SP.

Pra você ter uma ideia, o estudo listou as 20 músicas mais citadas pelos alunos entrevistados e as três mais citadas de todas eram funk: “Beat do Megatron“, do MC Kitinho, “Amor de Verdade“, do MC Kekel com a MC Rita, e “3 Dias Virado“, do MC IG. Praticamente nenhum dos professores conhecida essas músicas nem as demais citadas no top 20.

Também é legal destacar que das 30 músicas mais citadas, 13 são funks. O ritmo é o segundo mais citado pelos alunos, atrás somente do rap. Ao todo, somando todos os mais de 2 mil sons mencionados pelos alunos, 22% é funk.

Outro dado muito importante é que 90% dos mais de 1400 alunos entrevistados diz ouvir música todos os dias. Outro dado é que 89,5% deles escutam um som enquanto estuda e 71,9% escuta enquanto está na escola. Esses números são altos o suficiente pra gente pensar: se os alunos ouvem música todo dia, até na escola, e os professores não conhecem nada do que eles escutam, isso não deveria mudar? Pensa bem, muitas músicas lidam com situações do dia a dia, levantam críticas entre outros assuntos que poderiam ser usadas em sala de aula como objeto de estudo. Vale lembrar que o álbum “Sobrevivendo no Inferno”, do Racionais MCs, virou leitura obrigatória pro vestibular da Unicamp, ou seja, vivência da periferia para outras classes sociais.

E conhecer as referências culturais dos alunos vai muito além disso. Citar essa galera que os jovens admiram também é uma forma de estabelecer uma relação de proximidade. Isso pode parecer bobeira, mas é importante para manter um diálogo e fazer com que os alunos se interessem mais pelo professor, consequentemente pelas aulas.

Por mais que alguns professores ainda tenham preconceito com o funk, os sons contam com várias críticas e visões importantes da vida na periferia. Um caso desses é a música “Chamei no 99“, do MC Theuzyn. No meio da música em que o MC fala sobre chamar um carro do aplicativo 99 pra salvar a noite dele, ele também fala que os carros da Uber não sobem na favela. Essa é uma crítica quase disfarçada na letra porque a Uber ainda não inclui todos os lugares da periferia em sua área de coberta, ou seja, a galera da favela não pode usufruir do aplicativo. Outro exemplo é a música “40 Metros“, do MC PP da VS, um funkeiro bastante citado também pelos alunos. No som, ele relata nada mais nada menos que um enquadro e ainda denuncia o racismo falando que um negro estar de carrão é motivo pra galera desconfiar.

Essas duas músicas são apenas dois exemplos de várias e várias canções que poderiam muito bem ser usadas como estudo nas escolas. O funk por ser um gênero que nasceu nas favelas mostra uma realidade pouquíssimo retratada pela arte e seus contextos precisam ser debatidos e não recriminados. É claro que nem só o ritmo merece ser incluído nas salas de aulas. Pode lembrar que muitas pessoas a gente conhece falando sobre filmes, músicas, séries e várias outras fitas. A cultura é um meio de criar intimidade e isso é muito necessário quando falamos de educação. Então porque não tentar?

Se você se interessou pelo estudo, ele pode ser lido online aqui.

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