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Abril é um mês de luta pro funk

10.04.2019 | Por: Guilherme Lucio da Rocha

O mês de abril é um mês de luta para cultura baile funk. Entre os anos de 2010 e 2012, quatro dos principais MCs da Baixada Santista foram assassinados. Até hoje parte dos crimes não foram solucionados, mas o legado desses quatro artistas segue vivo e servindo de influência para nova geração. Hoje, o Portal KondZilla conta um pouco da história desses quatro MCs, como eles foram importantes para história dessa cultura e porque precisamos continuar na luta de que funk é cultura, funk não é crime.

Antes de contar a trajetória de cada um, vamos voltar no tempo e contextualizar como era a cultura baile funk na época. Com o Rio de Janeiro em baixa e São Paulo ainda vivendo sob o domínio do rap, a Baixada Santista era um dos principais redutos do funk. Os artistas eram conhecidos nas quebradas do país – numa era onde internet era coisa de luxo – e viajavam o Brasil levando o funk consciente, a principal marca deles. A morte de MC Careca, MC Primo, MC Duda do Marapé e MC Felipe Boladão fez com que a Baixada se reinventasse e também abriu espaço pro crescimento do funk em São Paulo, onde começava a surgir o funk ostentação. Agora, vamos contar quem eram esses quatro MCs.

Felipe Boladão

Dentre os quatro MCs, o mais promissor. Felipe Wellington da Silva Cruz tinha apenas 20 anos quando foi assassinado. Cria da cidade de Santos, no litoral de São Paulo, até hoje é conhecido como um dos maiores letristas do funk paulistano e referência para muitos MCs e compositores. Entre seus sucessos estão: “Bonde do Tony Country”, “Residência dos Loucos”, “Mundo Moderno” e “A Viagem”. O MC Felipe Boladão estava a caminho de um show em São Paulo, quando foi assassinado, junto com seu DJ – que também se chamava Felipe -, no dia 10 de abril de 2010.

Duda do Marapé

O Portal KondZilla teve a oportunidade de conversar com diversos pessoas que conheciam os quatro MCs mortos no mês de abril, e o MC Duda do Marapé sempre foi lembrado como um artista brilhante. Morto aos 27, Eduardo Antônio Lara era cria do morro do Marapé, também em Santos, e tinha entre seus sucessos: “Lágrimas”, “Bonde do Régias”, “Ideias Ideais”. Sua música de maior repercussão, “Lágrimas”, foi composta pelo MC quando estava internado na antiga FEBEM e produzida pelo DJ Baphafinha, um dos maiores nomes do funk da Baixada. Duda foi assassinado a tiros no dia 12 de abril de 2011, no Centro de Santos.

“Eu tinha uma relação boa com todos eles [MCs da Baixada], com vários tinha uma relação mais estreita”, disse o DJ Baphafinha, em entrevista ao Portal KondZilla. “Um que era um filhão para mim era o Duda [do Marapé]. Sabia que quando tinha alguém chamando ‘Leonardo’ no portão, era ele. Só ele e minha mulher me chamam de Leonardo [nome de batismo do DJ]. Isso porque, muitas vezes, ele pulou o muro da minha casa onde ficava meu antigo estúdio. Eu ficava puto, falava que ia colocar uns cachorros para pegar ele (risos)”.

MC Primo

Jadielson da Silva Almeida era um visionário. Pra quem não tá ligado, seu maior sucesso, “Diretoria”, foi primeiro produzido pelo DJ Rodjhay e, depois, ganhou uma nova roupagem com o DJ Marlboro – o que fez a música rodar o Brasil. O cantor também tem na lista de sucessos: “Reza Forte”, “Espada no Dragão” e “Sangue do Teu Sangue”. Quando os MCs da Baixada tentavam se renovar, Primo já sabia o que poderia dar certo: videoclipes. Foi então que ele decidiu contratar um jovem que tava despontando na cena audiovisual: Konrad Dantas, o KondZilla. Bem, o resto é história, né?! O cantor foi morto a tiros na porta de casa, em São Vicente, no dia 19 de abril de 2012.

MC Careca

Essa, talvez, seja a morte mais traumática das quatro. Nove dias antes de ser assassinado, Cristiano Carlos Martins enterrava seu amigo, MC Primo. Junto com outros MCs, Careca estava com medo e deixou de trabalhar – ele era barbeiro. O MC era conhecido também como uma espécie de “porta voz” da sua quebrada, o Dale Capela. Antes da carreira solo, Careca fez dupla com Pixote até o ano de 2006. Entre seus sucessos o cantor tem: “Tá Na Memória”, “Fortes Batalhas” e “Vai Dar Guerra”. Cristiano foi assassinado com pelo menos 15 tiros, dentro do salão onde trabalhava, no dia 28 de abril de 2012.

Após as quatro mortes, o terror tomou conta dos artistas da Baixada. Alguns artistas pararam de cantar, outros se mudaram da cidade. No entanto, não há bala que apague o que esses artistas fizeram. Pelo contrário. Hoje, artistas como MC Hariel, MC Livinho, MC MM e outros fazem questão de destacar a importância dos MCs da Baixada na sua história.

Esse caso é um dos ótimos exemplos de como o funk, infelizmente, ainda ocupa grande espaço nas páginas policiais. Seja por morte de cantores – temos outro exemplo do MC Daleste, que foi assassinado em outro contexto – ou pela prisão de DJs, abrindo um debate para o quanto essa cultura ainda é perseguida. Enquanto o baile funk roda o mundo com tapete vermelho, no Brasil ainda temos que explicar a importância dessa cultura.

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