Funk Rave

Mais próximo do eletrônico, surge o movimento funk-rave

18.05.2018 | Por: GG Albuquerque

Desde às origens, o funk tem influência de vertentes da música eletrônica global, como o miami bass, o electro de Chicago e o latin freestyle. Os DJs brasileiros beberam dessas fontes para criar sua própria batida, com um suingue tipicamente brasileiro — como os toques inconfundíveis de percussão afro do Tamborzão. O que acontece agora, quase 20 anos depois da criação da batida brasileira, é que o momento da música eletrônica de periferia é outro. Pra entender mais dessa tendências, bora ver alguns exemplos dessa aproximação na matéria do Portal KondZilla.

Vivemos o tempo das enormes festas de EDM (sigla em inglês para Música Eletrônica Dançante [Eletronic Dance Music]). Alavancado por estrelas como David Guetta, Calvin Harris, Tiësto, Avicii e o brasileiro Alok, esse tipo de sonoridade vem tornando-se referência de muitos produtores e cantores de todo o Brasil, em diferentes movimentos da nossa música periférica. Além disso, uma nova geração de produtores cariocas inovaram novamente trazendo a batida em 150BPM, quebrando com o formato de produção do funk carioca e também reinventando a batida carioca, que era em 130 BPM.

Ainda no Rio, aristas como a DJ e produtora Iasmim Turbininha, inspiraram o público e os produtores na aproximação de festas raves. Na música “Turbininha vs Baile do Jaca”, que ela incluiu no “podcast 009 — Todos os Ritmos”, temos um bom exemplo dessa proximidade de gêneros até então, distintos. Outro envolvido nessa história é o DJ Rogerinho 22, que por sua vez, remixou a música “Chuva”, hit psytrance do DJ Chapeleiro, acrescentando o sabor do famoso sample “Baile do Jaca”. E também o próprio Polyvox colou no estilo, variando as suas atabacadas com batidas, pontos e efeitos da eletrônica no “Polycast na Velocidade da Luz”.

“A ideia de misturar funk e eletrônica surgiu na rave. Achei os pontos e os timbres fodas demais e a velocidade me chamou atenção. Aí gostei tanto que procurei misturar em minhas músicas”, explica Polyvox.

Distante do calor carioca, no Sul do Brasil um novo movimento também vem bebendo das batidas da música eletrônica: o mega funk. Muito popular no Paraná e, principalmente, em Santa Catarina, o estilo é uma de evolução do antigo “Eletro funk” cheio de sintetizadores que ficou famoso no começo dos anos 2010 com o Edy Lemond e a MC Mayara.

Pra você sacar a diferença desses movimentos do Sul, separamos o conteúdo do DJ e produtor curitibano Matheus PR, que lança mixes mensais desse estilo em seu canal no YouTube. “O mega funk é bem parecido com o eletro funk, porém existe uma pequena diferença entre os dois: o mega funk é normalmente mixado somente a partir do refrão com vários estilos de bases house, eletrônica. Já o eletro funk é mixado desde o começo, como fazia o DJ Rodrigo Campos. O mega funk está vivendo um momento no Paraná e é comum encontrar carros de som reproduzindo essas músicas. Enquanto o (baile) funk que conhecemos do Rio e São Paulo não é tão comum assim, o som até empolga a galera nas festas, porém se soltar mixado no mega funk, anima bem mais”, completa o DJ.

DJ Rodrigo Campos – Foto: Divulgação // DJ Rodrigo Campos

Apesar de curtirem raves, nem Matheus PR, nem Polyvox sabem citar artistas ou músicas específicas que eles admiram e tomaram como referência de música eletrônica. Eles não escutam esse tipo de som de forma organizada. Matheus PR tira as bases de músicas para suas montagens de playlists, enquanto Polyvox pega tudo de uma pasta antiga de MP3s que achou na internet. Esse cenário muda quando vamos a Pernambuco, no nordeste do país, e conhecemos o produtor pernambucano DJ DG.

Talvez você conheça o trabalho do rapaz, ele ficou famoso ao produzir e ter MC Loma gritando seu nome em alto e bom som no hit “Envolvimento” (“E aí DG, escama só de peixe!”), mas não se engane achando que ele é um aventureiro, sua caminhada é longa.

Desde 2009 ele produz música eletrônica (psy, progressive house, hard electro e outras vertentes) sob o nome de Henrique G. Depois passou a fazer bases para bandas de arrochadeira e, há 9 meses, cria músicas para os MCs pernambucanos da cena bregafunk. Dois de seus maiores sucessos trazem a marca dos seus tempos de rave: “Enlouqueço”, do MC Tocha, e “Pode Balançar”, do MC Troia, que incluem a eletrônica na mistura de ritmos do bregafunk.

Como a internet trouxe uma fluidez de informação e novidades musicais sem precedentes, era de se esperar que uma galera que acompanha o movimento em regiões diferentes, entrassem nessa novidade também. O MC Tocha, de Recife-PE, pensou em fazer um brega-rave com toques de pagodão e propôs o desafio a DG. O cantor diz que sua principal referência para fazer “Enlouqueço” foi a banda ÀTTØØXXÁ, que estourou no carnaval com a música “Popa da Bunda” e também vem promovendo a união entre beats eletrônicos e a percussão do pagodão baiano (conhecido como Bahia Bass). “Nunca fui numa rave porque eu só escuto a batida. Sinto falta da voz, por isso tô tentando fazer essa mistura”, diz o cantor Tocha, que acaba de gravar com o grupo baiano para expandir a onda eletrônica.


A banda ÀTTØØXXÁ em ação – Foto: Reprodução // Facebook

É difícil dizer se a EDM colou de vez ou se é uma influência do momento. Fato é que, pelo menos por enquanto, os bailes estão mudados e a fritação rolando solta. Em São Paulo, o paredão Megatron é o principal expoentes dessa vertente, tanto que inspirou músicas de MCs como o Kitinho e o 7 Belo. Esse último já deu o recado: o fluxo não é mais baile, agora é rave. Uma rave que só existe nas periferias brasileiras.

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