Explicando em detalhes: o que é Cypher
De tempos em tempos, surge uma novidade musical. Digamos que de um tempo pra cá, vídeos de ‘cyphers’ rodaram o Youtube, com novos artistas e rimas diferentes. Se você, assim como eu, também estava com essa dúvida, vou te ajudar: você sabe o que é uma cypher? Um dos termos da moda está presente na cultura hip-hop desde os tempos mais primórdios e sua ligação com o rap vem de uma cota. O Portal KondZilla vai te passar a visão da origem do termo e como ele se adaptou com o passar do tempo, chegando nos dias de hoje para agitar o cenário brasileiro de música.
A palavra cypher vem do alfabeto árabe (sifr ou صفر), e significa zero. No hip-hop, a cypher se originou na dança, mais especificamente no breakdance, com os b-boy e b-girls que dançavam no centro de círculos – daí a referência ao número zero -, formados pela galera que assistia.
Com relação ao rap, é mais difícil determinar com exatidão a origem da ligação. Tem uma galera que atribui a simples “transferência” do termo que veio do break para o rap, ambos elementos do hip-hop. Outro pessoal diz que o termo cypher está ligado aos 5%ers, grupo formado por ativistas negros americanos, alguns deles também rappres. Essa galera têm seus códigos próprios, entre eles o cypher, que também é derivado da palavra zero em árabe e, dentro do “dialeto” dos 5%ers, se refere a junção entre sabedoria, conhecimento e entendimento, além da referência ao círculo pessoal de amigos, colegas, etc.
Seja qual for sua origem, a cypher no rap tem como objetivo reunir MCs, sendo eles de grupos ou artistas solos, para rimas inéditas e com uma conexão de palavras mais complexas, com um DJ responsável pelo beat. É algo que se aproxima mais do freestyle do que do rap elaborado e construído sobre uma batida produzida em estúdio.
Se nos Estados Unidos, berço do hip-hop, a cultura está estabelecida há anos, com direito a cyphers ao vivo em grandes apresentações na TV, aqui no Brasil esse fenômeno é bem recente. Se você jogar “cypher 2015″ no YouTube, a chance de você encontrar um vídeo brasileiro é bem remota. Porém, a partir de 2016 começaram a brotar os primeiros trampos, deixando 2017… bem, 2017, definitivamente, foi o ano das cyphers no Brasil.
Brasileiro adora adaptar as novidades por aqui, digamos que com as cyphers aconteceu a mesma coisa, mas tudo isso pra melhorar a parada, deixando as cyphers com mais glamour. O ineditismo das rimas foi mantido na maioria dos trampos, porém, o improviso e as bases rudimentares deram lugar a letras elaboradas milimetricamente, acompanhadas de produções sofisticadas, com beats de dar inveja em muito produtor. Criava-se um novo modelo de música para a atual cena do rap que vem se moldando no Brasil, com nomes como Djonga, BK’, Haikass e 1Kilo.
Essa novidade foi tão bem aceita que os lançamentos em formato ‘cyphers‘ fizeram mais barulho do que os singles lançados pela galera. Durante o ano de 2017, os projetos foram os mais diversos: só de mulher, só de homem, teve cypher temática… enfim, teve para todos os gostos. Teve, inclusive, cypher lançada na KondZilla com o pessoal do Rimas e Melodias, que fizeram um trampo em homenagem a sambista Elza Soares.
Olhando um pouco pra trás, vemos que o rap e o funk, mesmo sendo músicas de periferia, não conversavam, digamos assim. Com os funkeiros tendo acesso a mais ferramentas de produção, aprimorando os beats e refinando as letras, se iniciou uma conversa maior entre os ritmos, acontecendo parcerias entre artistas dessas duas vertentes, e os estilos culturais interagindo entre si.
É nesse cenário que a cypher também aparece como peça importante, com funkeiros também fazendo esse tipo de trabalho, em alguns casos até com a participação de rappers. Se no rap tivemos cyphers de tudo quanto é tipo, no funk não foi diferente. Tem cypher de funk consciente, tem cypher de funk festivo, tem cypher com funk putaria, até a galera de Minas (aliás, já falamos dela nesse texto aqui) também embarcou na novidade… enfim, rolou de (quase) tudo. O que será que podemos esperar para 2018?