Identificação e ascensão: como as camisas de times ganharam conceito dentro e fora das quebradas
Não é de hoje que notamos a forte presença das camisas de times fora dos estádios e ocupando espaços entre os centros das cidades e as quebradas. Porém, as peitas só foram ganhar um conceito e atribuição de valor de uns tempos para cá. Coloca tua melhor camisa e se liga no Portal KondZilla, que vamos te contar como surgiu essa ascensão.
Quem nunca quando menor, viu um jogador e sonhou ser como ele, vestir a camisa 10, levantar uma taça em final de algum campeonato importante e ganhar respeito e admiração em sua quebrada?
Mas é como diz Racionais MCs em “A Vida é Desafio”: “Quando pivete, meu sonho era ser jogador de futebol, vai vendo, mas o sistema limita nossa vida de tal forma, que tive que fazer minha escolha: Sonhar ou sobreviver”. O sistema nos cobra a fazer uma escolha e muitos meninos e meninas acabam deixando de lado esse sonho, e vestir a camisa de um jogador ou de algum time faz você se sentir mais próximo de algo que não pode ser realizado.
Bruno Silva Nunes, com apenas 19 anos, tem um pensamento formado sobre o assunto, mostra que vestir a camisa 10 vai muito além do futebol. “Essa camisa é uma forma de expressar o sonho que a gente sempre teve desde criança, de ser jogador. Fora a representatividade, já que vários jogadores tiveram um passado parecido com o nosso, na quebrada”.
E ele não está errado. A prova disso é Gabriel Jesus, nascido e criado no Jardim Peri, quebrada da zona norte de São Paulo, e hoje atual jogador do Manchester City. Se pararmos para pensar, a questão vai muito além do jogo e da bola rolando, vai até a questão de ocupação de espaços e quebra de estatísticas criadas pelo sistema. Quando que um menino ou menina, de periferia, consegue ocupar espaço tão grandioso assim, sem ser limitado?
“Tem um sentimento e a história por de trás daquilo, para uns pode ser apenas uma camisa, para nós que somos de comunidade é uma conquista, todos sabemos que as camisas de time não é algo barato, andamos com ela porque levamos nossa origem onde nós vamos. Muitas das vezes as pessoas julgam só pelo fato de estarmos vestidos assim, mas a peita é história, conquista, beleza e tradição” comenta Ronald Custódio, 18 anos, morador do Jd. Miriam, zona sul de São Paulo.
Se a cena é difícil para os manos, imagina para as mina que muita das vezes precisa provar que entende ou gosta do assunto. Lauane dos Santos, 23 anos, começou sua coleção de camisa de time no final de 2019, lançando logo a mais pesada da Juventus. “É muito difícil você encontrar meninas usando a camisa de time, quando eu fiz as fotos com Jef Delgado e com o Juninho, eu vi muita mina usando as camisas e principalmente da Nigéria e pensei o quanto isso é da hora”. E as minas que até então não tinham referência, conseguem se sentir seguras o suficiente para usar uma peita. Eu recebo muita mensagem no Instagram de meninas falando que compraram uma camisa por minha causa”.
O mesmo aconteceu com Isabelly Domiciano, 18 anos, a mina é chave da cabeça aos pés e quando coloca a camisa do Paris Saint Germain rouba toda a cena. Ela lembra que quando menor jogava futebol, porém por conta de uma lesão precisou deixar os gramados. Hoje, quando coloca sua camisa se sente uma jogadora, consegue ir para o centro sabendo que o seu maior jogo é o dia -a- dia. “A minha meta é desconstruir esse pensamento dos caras, além da gente ter o respeito que é obrigação, a gente incluir mais mulheres para ter referências e mostrar nossa versatilidade na moda e no Sportlife, que inclusive pode ser mais vasta do que os caras mostram, tá ligado?”.