Em seu primeiro livro, MC Martina retrata a realidade das favelas do RJ
No último domingo (11), a multiartista MC Martina lançou o seu primeiro livro “Nunca Foi Sorte, Sempre Foi Poesia”. Com produção totalmente independente, em seu livro Martina faz um resgate a ancestralidade viva no cotidiano periférico, buscando construir a cada poesia o conceito do invisível, abordando questões como banzo, autoestima, memória afetiva, pandemia e as vivências de uma mulher preta dentro de um dos maiores conjuntos de favelas do mundo, o Complexo do Alemão.
Em entrevista ao jornal O Globo, a MC conta que a inspiração para a criação deste livro surgiu após a observar diversas formas de violências nas favelas da zona norte do Rio de Janeiro, principalmente após um confronto com vítimas ocorrido no Complexo de Manguinhos. “Não era aqui, mas fiquei comovida. Dói mesmo sendo em outra favela. A gente sente a dor da mãe. É genocídio, palavra que não se aprende na escola, mas na prática, na vida. Também, quando estoura a guerra numa favela perto, o sentimento é que a sua será a próxima. Por isso a dor é igual”, diz a artista. Os versos de “2018”, um dos poemas do seu livro, retrata o drama de quem vive em constante tensão por causa dos confrontos entre facções e operações policiais: “Zona Norte ou faixa de Gaza/Não sei mais do que chamo/mas ainda é minha casa”.
Para Martina, um dos seus desejos é que o livro seja uma ferramenta de autoconhecimento para a população preta e de abertura de caminhos para a compreensão de outras realidades para quem quiser mergulhar em seu livro. “Nunca Foi Sorte, Sempre Foi Poesia” é recomendado para todos aqueles que buscam uma oportunidade de se olhar através de outras perspectivas.
“Quando o livro chegou em minhas mãos parecia uma carta à humanidade. Versos que mais parecem decretos “nunca foi sorte, sempre foi poesia” é um livro que nos leva para os becos e vielas da alma de Martina. Ela dispara versos sem se preocupar com rimas perdidas. Ela não erra, acerta bem no meio dos nossos corações”, disse Sérgio Vaz após receber o livro.
E pra quem acha que o corre de Martina na poesia começou só agora, saiba que desde os seus 18 anos escrever se tornou um refúgio. Hoje aos 24 anos, Martina já é referência em sua cena, seja como rapper, poeta, produtora ou articuladora cultural. “A poesia é a tecnologia da palavra. Não é uma escolha ser poeta. É necessidade. Tenho necessidade de escrever e a poesia é só a ponta disso. Diante da realidade que a gente vive, escrever poesia é a parte mais fácil”, disse a rapper ao O Globo.
Atualmente, o livro está sendo vendido sob encomenda com a equipe da artista, mas em breve estará disponível para comercialização nacional.
Quem é MC Martina?
Nascida na Pedra do Sapo, uma das comunidades do Complexo do Alemão, Sabrina Martina Evangelista é uma rapper, poeta, produtora e articuladora cultural que está à frente de vários projetos de valorização da cultura, principalmente ligados à poesia. A artista é idealizadora do Slam Laje, a primeira batalha de poesia falada do Complexo do Alemão, e um dos slams pioneiros a serem realizados dentro de uma favela no Estado do Rio de Janeiro.
Em 2017, Martina surgiu com a iniciativa cultural “Poetas Favelados“, que realiza ataques poéticos nos transportes e escolas públicas da cidade e além disso integra o Movimentos, grupo de jovens de favelas e periferias do Rio que acredita que uma nova política de drogas é possível. Através do seu talento, Martina já conseguiu ocupar grandes espaços, podendo declamar suas poesias no Espaço Favela, palco do Rock in Rio, em 2019, no festival Virada Cultural Amazônia de Pé e no Museu de Arte Moderna (MAM) com o lançamento de seu livro.
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