Comportamento

Conheça o projeto “ParaCine”, que torna acessível o cinema dentro do Paraisópolis

24.12.2021 | Por: Rayne Oliveira
Projeto ParaCine

Sabendo das dificuldades do acesso ao cinema dentro da periferia, Michael Eduardo e Victória Almeida, moradores de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, criaram o “ParaCine”. Com duração de dois meses e totalmente gratuito, o projeto tem como intuito ajudar jovens a partir de 13 anos no mercado do cinema. Cola na KondZilla e pega a visão!

“Em 2010 minha prima começou a participar do curso do Instituto Criar. Eu fui lá uma vez visitar e naquele momento eu percebi que queria fazer aquele mesmo curso. Então, minha prima teve uma forte influência.’’, relata Michael, de 23 anos, sobre sua experiência em projetos como o CRIAR, que também tem como objetivo desenvolver jovens através do audiovisual. Ele influenciado acabou influenciando Victória, de 20 anos, que após conhecer o futuro parceiro de trabalho, começou a frequentar mais o cinema e se interessar pela produção audiovisual.

Michael comenta que atualmente um ingresso de cinema custa em média R $40,00 e muitas das salas estão localizadas dentro dos shoppings centers, os quais também estão situados em lugares afastados das comunidades. Além do mais, ressalta nem sempre se sentir à vontade para frequentar esses ambientes sozinhos, pois não sente pertencimento. “Eu tenho receio de ir em locais como teatro, porque é algo muito elitizado, então eu gosto de ir com o pessoal do instituto ou com amigos. Quando vou sozinho me sinto um pouco estranho, pois geralmente lugares assim são frequentados por pessoas ricas e brancas’’, declara.

Os idealizadores Michael e Victória

O relato de Michael condiz com o de muitos outros meninos e meninas que nem sempre são incentivados a frequentar esses espaços culturais na escola. Victória foi uma dessas adolescentes, as quais durante muito tempo não viu incentivo. “Tínhamos os passeios pontuais, mas não era um incentivo de fato, até eu chegar no Homero, escola aqui mesmo da comunidade. Lá eu concluí o ensino médio e somente naquela escola eu tive incentivo por parte dos professores.’’, relembra Victória. 

Para uma parte da sociedade o cinema é luxo, sendo algo que faz parte do lazer e cultura, enquanto para outras, no lado desigual da sociedade, é desnecessário. Aliás, essa foi uma questão levantada no ENEM de 2019: “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, questionando o acesso para todos. Em 2020, pensando nisso, Victória e Michael após se conhecerem nas redes sociais, uniram seus conhecimentos e força de vontade pra promover o cinema na quebrada criando ‘’ParaCine’’, com nome em referência à Paraisópolis.

Luz, câmera e ParaCine

Em 2020, Victória e Michael conseguiram se inscrever através do Edital VAI (Programa criado para valorização de iniciativas culturais) para dar vida ao ‘’ParaCine’’, projeto que forma turmas a fim de dar oficinas de audiovisual para jovens a partir de 13 anos no Paraisópolis.  Para fazer parte do VAI é necessário já ter um coletivo o qual desenvolve ideias na periferia, o deles é o ‘’Ser Produções’’, criado em 2019.

Além de Victória e Michael, o coletivo também é composto por  Deibi Maciel, 20 anos, estudante de cinema na Universidade Federal de Pernambuco que tem como função auxiliar nas aulas de roteiros e Gustavo Lira, 21 anos, professor de iluminação. Sem contar os colaboradores que ajudam nas etapas. Desde então mantendo o sonho vivo, os jovens contam que em um ano de projeto eles formaram quatro turmas, sendo o último grupo formado há duas semanas. 

São selecionados 15 alunos por turma com as aulas de duração de dois meses, as quais contam com os seguintes conteúdos:  roteiro, câmera, iluminação, áudio, produção e duas diárias de gravação para os alunos colocarem em prática o que aprenderam e fazerem o curta metragem. Após a finalização do curso, é feita a exibição dos curtas produzidos dentro da própria comunidade, incentivando o debate e consumo de filmes independentes. As aulas acontecem aos domingos, dentro do auditório do Programa Einstein na comunidade. 


Claudio Nascimento, 23 anos, morador da zona sul de São Paulo, é um dos jovens que se formou em audiovisual através do ParaCine. Estudante da quarta turma, ele conta como foi sua experiência e seu primeiro contato com o audiovisual.

“O que despertou meu interesse foram os videoclipes, um fator determinante para eu começar a amar música foi a MTV. Ao longo da minha vida, outra esfera que me fez brilhar os olhos foi a fotografia, por poder mostrar para o mudo o que meus olhos enxergam”, conta Cláudio. 

Cláudio relata também sobre a dificuldade do acesso ao audiovisual dentro do local onde mora e por isso enxerga a importância de projetos como o  Paracine.

“Aqui dentro vejo o acesso muito distante ainda. Se não for por meio de iniciativas como o Paracine, é muito difícil todos conseguirem alcançar. Obviamente tem muita gente fazendo o corre do audiovisual na minha quebrada, porém tenho a sensação de que é algo muito na bolha ainda, grande parte das pessoas não sabem do que se trata. Nesse momento entra o Paracine, que consegue dialogar com todos os públicos”, encerra. 

Desde a última quinta-feira (24), as inscrições estão abertas para a quinta turma, então siga o Parcine nas redes sociais e fique ligado. 

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