Comportamento

Conheça a fotógrafa India, jovem que vem buscando reconstruir os valores estéticos da moda em seus editoriais

01.02.2021 | Por: Fernanda Souza

Descolonizar e reconstruir o imaginário social que muitas vezes o audiovisual tem em cima da cultura preta e periférica é a proposta de trabalho que a fotógrafa Isabelle Santos, mais conhecida nas redes como India, vem construindo em sua caminhada. A cada editorial produzido, a equipe entrega ao público a história do que está sendo registrado, resultando fotos bonitas e numa aula de cultura. Cola aqui no Portal da KondZilla que vamos te apresentar o trampo e te explicar melhor como funciona esse role de histórias com o olhar fotográfico dessa artista.

A jovem fotógrafa Índia

Do extremo da zona leste, lá da quebrada de Poá, SP, India, 23 anos, vem produzindo editoriais que carregam a história de elementos da cultura preta e periférica, sobretudo na moda, que na maioria das vezes desconhecemos. Ela começou no corre da fotografia em 2016 por acaso. ‘’Eu estava iniciando uma marca de roupa, mas não tinha como pagar alguém pra fotografar minhas peças pra divulgar, peguei uma câmera emprestada, chamei uns amigos para serem modelos e fiz as fotos. Desde então, não parei”, conta India. 

O lance do editorial que ela produz funciona mais ou menos assim: onde e quando surgiu o estilo de cabelo ‘’baby hair’’? Dessas questões culturais saem as motivações dos editorias. India pesquisa a história [junto com a equipe], desenvolve o conceito, faz o editorial e entrega pro mundo.  

Editorial ‘’Call me baby, a history about BABY HAIR’’

‘’Na real isso começou de uma coisa pessoal. Eu sou muito curiosa, quero saber o porquê de tudo, da onde veio, quem fez, quando fez e pra quem fez. No ano passado comecei a trabalhar com o Jhow, um parceiro que tem um brechó só de kit anos 1990 e 2000. A gente produziu dois editoriais onde ele usava dois kits de marcas que foram bem famosas nas antigas. Isso me deu um start, fui trocar ideia com o Jhow e propus da gente contar a história das marcas da época, ele chapou na ideia e a gente começou a produzir um editorial atrás do outro junto com outros parceiros”, conta

Primeiro editorial sobre Pha Farm 

Como uma fonte de conhecimento, nos editoriais você percebe que tudo criado dentro da moda pelo povo preto tem uma história, desde as marcas até alguns elementos comuns no hip-hop: as durags, os tênis, as boombox, os grillz, as roupas largas, alguns tipos de penteados, etc. ‘’Tudo tem um contexto histórico e pra mim é louco poder abordar isso porque tem muita gente criando trabalhos em cima disso, porém sempre visando só estética. Mas papo reto, nada que vem do povo preto é só estética, desde os povos mais antigos, sempre tem um significado por trás das coisas mais simples, e pra mim é sobre isso, se aprofundar no que te pertence, tá ligado?”, diz ela.

Editorial ‘’Nefertiti e Akhenaton, XVII dinastia’’

Falando em estética, o editorial “Nefertiti e Akhenaton” é um exemplo do que a jovem fala sobre esvaziar a história, ressaltando a história e as riquezas não só estéticas, bem como intelectuais e ancestrais de todo um povo. No próprio texto do editorial é questionado quantas imagens se tem do Egito e se as pessoas conhecem o Kemet, já que a mídia, moda e o audiovisual por muito tempo afirmaram uma imagem embranquecida de;e. Uma curiosidade zica sobre essa produção é que todos adereços e elementos foram confeccionados por India e seu bonde, o que prova o comprometimento desse trabalho. 

Shooting ‘’Bad&Boujee, Bratz nunca Suzy”

Quem acompanha o trampo dessa mina percebe que nas fichas técnicas do editorial alguns nomes sempre repetem, como por exemplo, do stylist e assistência. Inclusive, é por isso que você leu a palavra ‘’equipe’’ algumas vezes nesse texto. ‘’Eu comecei a trampar com o Jhow nos editoriais. Paralelamente conheci a Sarah e a gente produziu dois trampos juntas, um deles foi das durags. Aí eu e o Jhow queríamos produzir algumas coisas sobre b-boy, e ele conhecia o Everson, que é b-boy e tem um acervo brabo de roupas e boombox. Juntamos todo mundo pra fazer esses trampos, passamos tipo uma semana se vendo direto pra trampar e a ideia de todo mundo bateu, ficamos amigos e nunca mais nos separamos, tudo que eu faço envolvo eles e vice-versa, é minha tropa’’, relata.

Editorial  ‘’A history about PUMA SUEDE’’.

Que a parada é bem feita e tem fundamento você já se ligou. Mas e do trabalho que dá? Então, primeiro tem a pesquisa do que se vai retratar no editorial, depois vem o estudo das referências estéticas das roupas (stylist), da locação (direção de arte ou criativa), dentre outros, e claro, o estudo da história que também aparecerá no conceito da imagem e no texto. Por fim, execução do trabalho, edição e entrega na rede social, no caso Instagram, onde os trabalhos da fotógrafa são postados.

Editorial “PUT YOUR DURAGS ON, a history about doo-rag’’

Parsa, se você comprou DVD da feira 100% black, assistiu aos videoclipes na Mix TV ou acompanhou os clipes de 2000 você vai pirar em muitos editorias que essa mina zica fez. ‘’Minha maior referência na moda foi a dos anos 2000. Acho que isso está bem explícito no meu trampo. Foi a época da minha vida que eu assistia os clipes na TV e a mente fritava, ficava me imaginando nos kits da G-Unit, fazendo a coreografia de “Like a Boy”, da Ciara, de roupa larga, e botando papel alumínio no dente pra fingir que era grillz. E foi isso que me moldou’’, comenta Isabella quando questionada sobre suas preferências estéticas. 

“A gente pode e deve olhar pro nosso entorno e ressignificar as vivências, corpos e pluralidades onde estamos inseridos. Tem muitas pessoas que fazem esse trabalho”, alerta Índia. Quando questionada sobre suas referências do audiovisual, ela não hesita em dizer três nomes que a motivam: Jef Delgado, Wendy Andrade e Helen Salomão. Fotógrafos pretos e periféricos que, com linguagens diferentes, fazem a fotografia ser o espaço criativo que ela acredita.

Shoot para @cartel.daslupas

Quer saber mais sobre a história estética de alguns elementos culturais da cultura preta e periférica? Ver outros trampos? Acompanhar a braba e sua equipe? Segue eles no Instagram: India @isabelleindia_,  Jhow @discotecapsyco ou @pardonmadame_, Sarah @amadamenago @cabecadenego_  e Everson @eversonbboy. 

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