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Cabelo afro, cachos e tranças: conheça minas que exaltam a beleza negra nos bailes funk da Zona Sul de SP

24.11.2020 | Por: Fernanda Souza e Karolyn Andrade

A autoaceitação de mulheres pretas é um caminho sem volta. Esse movimento vai desde as minas compreenderem a importância histórica da negritude até a expressão estética desse levante, precisamente em seus cabelos que passam a simbolizar ancestralidade e beleza. Chega mais no Portal KondZilla para sacar como acontece esse resgate dentro dos bailes funks de São Paulo, enquanto as caixas de som tocam aquele mandelão. 

Diana, 18 anos, Morro da Lua (ZS); Helena, 22 anos; e Amanda, 18 anos, do Vila das Belezas (ZS)

Por um bom tempo, cabelos lisos e longos dominavam o fluxo. Inclusive, esse era um reflexo dos clipes, que retratavam o embranquecimento do funk, uma cultura que é originalmente preta e periférica. Hoje, no entanto, a coisa já está diferente, e é notório que cabelos trançados, crespos e cacheados estão novamente tomando a cena. Trocamos ideia com algumas minas pra passar a visão de como esse processo acontece. Os depoimentos e registros de imagens rolaram antes da pandemia, no Baile do Dz7, em Paraisópolis, bairro na Zona Sul de São Paulo. 

Larissa, 19, do Capão Redondo(ZS)

RESGATE DA BELEZA NEGRA NOS BAILES FUNK DE SP

Muitos trampam a semana toda pensando na diversão e alívio do sextar em diante. O preparo para ir ao baile é sagrado: a escolha do kit, lupa, boot e boné. Para as minas, o cabelo e a maquiagem são essenciais. Imagina essa fita para uma mulher preta, que por muito tempo se viu preterida do padrão de beleza imposto por um modelo eurocêntrico. 

Leticia Siqueira, 18 anos, da Pompéia (ZO)

De Planet Girl, na maior picadilha, Letícia com apenas 18 anos, é fruto do empoderamento da mulher negra. Ela observa que minas pretas cacheadas ou crespas estão resgatando suas raízes, já que hoje em dia a pauta está mais visível: “O padrão refletia no baile, dava medo do buxixo que ia rolar. Então, antes eu tinha medo de assumir meu cabelo. Agora, está mais avançado, as pessoas estão querendo colocar suas originalidades. Inclusive, hoje, vejo mais meninas como eu no baile, de trança ou black”.

“Buxixo”, nas palavras de Letícia, diz respeito aos olhares de preconceito dentro do próprio baile, que eventualmente reproduz o racismo da sociedade, negando ou apagando a beleza da negritude. Isso pega tanto para os manos quanto para as minas, mas, sem dúvidas, abala muito mais o psicológico das mulheres.

Gabrielle Ferreira, 24 anos, do Grajaú (ZS)

“Quando comecei a ir pro baile, queria me enquadrar no padrão das minas. Me sentia muito fora da caixinha, eu usava o cabelo com todos os produtos químicos que você pode imaginar. Lembro de uma situação que começou a chover no baile e eu não levei amarrador, fiquei muito desesperada pra ir embora. Porém, estava muito bom, minha amigas queriam ficar. Mas ali, pra mim, acabou o baile! Já vai fazer 4 anos após a minha aceitação do meu cabelo, e hoje posso curtir o baile sem me preocupar com ou sem chuva’’, relembra Gabrielle Ferreira, do bairro do Grajaú, em São Paulo.

Foto de 2015, exatamente da época do relato de Gabrielle 

O relato de Gabrielle representa várias manas pretas durante o processo de construção da autoestima, quando o sistema impõe outros ideais, mas mostra também o quanto é libertador entender a própria beleza. “Gosto de colar com meu pessoal pra dançar e me tirar do stress. Sou trancista e trabalho muito, não vejo a hora na semana de chegar o final de semana para ir para o Dz7’’, comenta.

Ana Cecília, 19, do Campo Limpo (ZS)

Ana Cecília, que também curte muito o baile do Bega (em Paraisópolis), disse que a iniciativa de deixar seu cabelo natural veio de ver mulheres como ela se aceitando em outros espaços. Além disso, Ana percebeu o alisamento escondia quem ela era: “Teve uma época que se você não tinha cabelo liso e grande batendo na bunda, você era zoada. Deixei de alisar porque aquela não era eu, e comecei me amar como era’’.

Carina Ribeiro, 23, de Diadema (ZS)

Carina, estudante de Serviço Social, se sente orgulhosa de colar com seu cabelo crespo no fluxo. Mesmo percebendo que já rolou discriminação, ela afirma que o baile é o lugar dela e hoje entende que o problema racial é uma questão estrutural. 

‘’As coisas estão mudando. A influência da indústria de cosméticos, comerciais e músicas, mesmo que com fins lucrativos, ajudam a impulsionar a transição. Grupos como NGKS bombam demais, principalmente pros manos, por exaltar a estética afrocentrada. Tenho amigos que aderiram ao ‘Nudread’ (cabelo crespo estilizado) depois de vê-los’’, conta Carina numas ideias de mil grau.

Luísa Costa, 17, do Grajaú (ZS), com sua mãe Tatiana, 36

Luísa lembra que começou alisar o cabelo aos 7 anos, porque não se achava bonita e para evitar ser alvo de piadas racistas. Hoje, se sente bem e entendeu que ela é linda com seus traços: “Não aliso mais, pois percebi que não preciso mudar minha aparência para ser aceita. Fazia isso para me sentir melhor e aceita nos grupos”.

Livia, 20, Parque Santo Antônio (ZS)

Como já dizia Rincon “Pretos e pretas estão se amando”, recuperando o que foi tirado e construindo novas referências.

O papo que desenrolamos foi sobre a cena de baile em São Paulo, focado em experiências do extremo sul. E questionarmos essas ideias em outras quebradas? Como é relação das mulheres pretas com a auto imagem em outros territórios? 

Helena, 18 anos, da Vila das Belezas (ZS)

Outro ponto de discussão é a diferença disso em outros estados. Como será que é relação, por exemplo, da estética preta nos fluxos cariocas e em Minas Gerais? Quer que a gente fale mais sobre essa fita? Dá um alô nos comentários.

Um salve para todas as mulheres pretas da cultura funk e dos bailes de rua! 

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