Comportamento

A página Funkeiros Cults mostra que tem funkeiro que curte literatura

18.06.2020 | Por: Gabriela Ferreira

Se você curte funk, você provavelmente viu algum meme nas redes sociais de um funkeiro segurando algum livro. Esse post nasceu na página Funkeiros Cults, no Instagram, que já tem mais de 90 mil seguidores e tá aí pra provar que não tem essa que funkeiro não sabe de literatura. Chega mais pra conhecer.

Foto: Instagram

Há um tempo atrás, batemos um papo com o Thiago Soares, mais conhecido como Chavoso da USP. Ele nos contou que já passou por situações ruins por causa do preconceito da galera com os kits que ele veste.”O pessoal geralmente subestima minha inteligência pela minha forma de se vestir. Eles me explicam coisas óbvias”. A mesma coisa aconteceu com o Dayrel Teixeira, o criador da página Funkeiros Cults, que tem apenas 21 anos, morador de Morrinho da Compensa, lá da região de Manaus, no Amazonas. “Trabalhei numa Instituição de ensino que as pessoas estranhavam meu gosto, meio que ‘qual é a desse chavoso funkeiro sabendo essas paradas'”, comenta Dayrel.

Foto: Instagram

Assim como a maior parte dos jovens de periferia, Dayrel cresceu ouvindo funk. “O funk sempre esteve presente na minha vida, mas sempre me atrai por outras áreas também, como a literatura e o cinema”, diz ele.

“Como eu curtia essas coisas, eu criava varias paginas de meme no Facebook sobre cinema e o pessoal do meu meio social sempre estranhou que eu funkeiro, sabia sobre muita coisa. E pra mim era tipo ‘tô ouvindo um estilo musical natural de onde eu vim'”, comenta Dayrel sobre o estranhamento das pessoas.

Pensando em reunir então o gosto pelo funk e pelos livros, no mês de maio Dayrel criou a Funkeiros Cults. Quem visualizar o perfil até o fim vai ver que os primeiros posts eram com fotos de artistas, tipo o MC Menor MR e a MC Dricka. “Percebi que o pessoal via com ironia, tipo ‘ahhh um funkeiro que curte Drummond’, e não é isso, são duas coisas que eu realmente gosto”.

Foto: Instagram

Pra mudar isso, Dayrel resolveu fazer um meme com uma foto dele. “Peguei uma foto minha usando roupa de bailão com o livro ‘A Metamorfose’, do Kafka”, explica ele. “Essa postagem viralizou e deu o boom”.

Depois do sucesso do post, ele decidiu ir usando fotos dos amigos do bairro e de seus irmãos. “São pessoas reais mostrando que são funkeiras, são de periferia e gostam de jornalismo, de história. Nois curte um MC Lan, uma MC Dricka e filosofia”, comenta. “A música que a gente gosta e a roupa que a gente usa não impede a gente de gostar de cinema e de literatura”.


MC Dricka com o título do livro “A Liberdade É Uma Luta Constante”, da Angela Davis

A página não só mostra que a galera da periferia também entende de filosofia, como também começou a traduzir as principais mensagens de livros, sejam eles de ficção ou de filosofia.

Funk e aula

Após viralizar, vários professores funkeiros se juntaram em um grupo pra ajudar a galera a estudar, com dicas, artigos e aulas onlines. Então já sabe, tá querendo estudar e não sabe como? Os funkeiros cults te ajudam.

Com a página crescendo, a principal mensagem da Funkeiros Cults é mostrar que funkeiro lê sim, entende filosofia sim e tá tudo certo. Com o sucesso do perfil, o pessoal vai chegando rindo, pedindo indicação de mais livros e também de mais funks. “Além do humor, ela traz a mensagem que não somos burros”.

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