Comportamento

A importância de salões afro para mulheres negras

03.10.2018 | Por:

*Todas as fotos por: Kamila Oliveira // Portal KondZilla

Há quem diga que é cabelo ruim, que cabelo assim só tem jeito alisando, mas estão todos enganados. Hoje em dia falar de cabelo crespo ainda é um tabu. Passar pela transição é doloroso para várias mulheres. Em todos os lugares possíveis que envolve o assunto cabelo afro, sempre terá alguém que nos dirá para ‘padronizarmos’ nossos cabelos crespos. Eu, enquanto mulher negra e defensora de cultivarmos nossas raízes de cabelos afros, estou aqui para mostrar a beleza que herdamos com nossos cabelos naturais.

Decidi bater um papo com Virgínia Alves, Camila Alves e Vanessa Alves – proprietárias do salão Styllus Virgínia & Vanessa, localizado em Arthur Alvim, zona leste de São Paulo.


Virgínia Alves, Camila Alves e Vanessa Alves

#Autoestima

Virgínia Alves tem 37 anos. A proprietária do salão afro revelou diversas histórias de mulheres negras que, ao adentrar no estabelecimento desesperadas, revelam a baixo autoestima em que vivem decorrente da não-aceitação de seus cabelos crespos.

Virgínia: “Elas chegam no salão cabisbaixas, com lenço ou qualquer outro tipo de coisa que possa cobrir seu cabelo. Elas me falam: ‘Meu cabelo não tem jeito’. E eu digo: ‘Claro que tem jeito’.. Você pode usar o natural, tranças… aqui no salão nós preparamos nossas mulheres negras pra vida. O cabelo afro é a nossa identidade”.

#Aceitação

Camila Alves, 23 anos, trabalha como cabeleireira desde 2010. Por mais que seja a mais nova entre as irmãs, ela contou a visão que tem sobre a aceitação das mulheres negras com seus cabelos e a importância do trabalho que exerce.

Camila: “Eu comecei a trabalhar como cabeleireira afro no ano de 2010. Minha mãe também era cabeleireira. Fui pegando gosto e vi que além de gostar dessa profissão, eu também estava ajudando outras mulheres. É como se fosse uma terapia. Faço com carinho e amor, como se fosse feito em mim. Já trabalhei com clientes de todas as idades… sempre mantenho a intenção de fazer com que nossas clientes se aceitem do jeito que vieram ao mundo”.

#Transição Capilar

Vanessa Alves, 38, com mais de 20 anos de experiência como trancista e cabeleireira, falou sobre transição capilar e de como ela lida com isso.

Vanessa: “Eu trabalho neste ramo a mais de 20 anos. De acordo com minha necessidade própria de trançar cabelo, fui em busca de aprimorar meu trabalho, para trazer coisas novas no hair afro. Hoje temos um mercado amplo voltado a este tipo de cabelo. No começo foi muito difícil. Você não achava lugares específicos que cuidassem do cabelo afro. As mulheres não conheciam nem o tipo de cabelo que tinham. Já tive clientes que alisavam o cabelo constantemente e quando deixaram de fazer isso notaram o quão era lindo seus cabelos de forma natural, sem química. A transição capilar, em meio a ‘padronização’ imposta pela sociedade, acaba se tornando muito difícil. Muitas empresas não contratam certas mulheres devido aos seus cabelos. Algumas preferem cortar e colocar tranças, outras preferem manter ele liso para serem aceitas no mercado de trabalho. Portanto, todas as mulheres que passam por esse salão eu tento o máximo deixá-las à vontade, a ponto delas quererem prosseguir com a transição capilar e usar o cabelo natural”.

Amarrando os três depoimentos, podemos que ver que a essência do que falamos aqui é: a autoaceitação do próprio cabelo. Essa é a importância dos salões afros hoje em dia. Não é apenas estética. O nosso cabelo crespo, como a Virgínia disse, é a nossa identidade e devemos mantê-la do jeito que herdamos. Essas três mulheres trabalham para mostrar o quão linda nós somos com nossos cabelos naturais, mas pelas periferias desse Brasil há outra infinidade de salões ajudando outras mulheres negras com sua autoestima.

Se Cuide. Se Ame. Se Aceite. Seu cabelo faz parte de quem você é.

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