A beleza negra além dos padrões
Todas as fotos por: Kamila Oliveira // Portal KondZilla
Fotografei três mulheres fora do padrão, cada uma com sua vivência diferente mas com o mesmo objetivo: quebrar o estereótipo imposto como “aceito” pela sociedade. Relatei o depoimento das três modelos com a seguinte pergunta: “O que é ser fora do padrão, periférica e negra?”.
#Lara Maria, cabeleireira e estudante de Moda, 22 anos
A conheci quando estudávamos juntas. Ela, desde “mais nova”, sempre teve atitude. A atitude de encorajar outras mulheres a lutar. Na época, foi através dela que eu tive a certeza que eu queria lutar contra o preconceito, racismo e contra os padrões impostos pela sociedade. Por isso, eu a chamei para participar desse projeto. Queria entender a visão dela referente de como ela é e de como consegue lidar com tudo isso.
Depoimento da Lara: “Se descobrir como Mulher Preta, Gorda, Periférica e Bissexual é um choque. Você sabe que é isso tudo, desde o começo do seu auto entendimento, mas você se esconde e tenta ao máximo se esquivar dessa realidade que é “ser você”. Mas quando isso acontece você se liberta, se liberta do ódio, dos padrões e das mudanças forçadas que as vezes causamos em nós, corpo e alma. Ser uma mulher preta fora do padrão é treta, é complicado, mas é gratificante poder ser eu mesma, sem amarras. E é uma forma de reconhecer os meus, minha história e meu legado, o racismo faz isso com a gente, deixa cego e sem reconhecimento. Temos que nos juntar, nós damos voz e fortalecemos projetos e sonhos do nosso povo.”
#Josi Mathilde, estudante de Enfermagem, 18 anos
No meu trabalho faço questão de enaltecer a beleza de todos. Quando estou fotografando gosto de fazer com que a pessoa se sinta especial, que estou ali registrando o que há de mais bonito nela. Depois de fazer as fotos com a Josi, vi que estou no caminho certo. Ela se sentiu tão feliz por eu estar ali dizendo o quanto ela é linda e que ela não deve se sentir triste por causa do corpo dela. Aprendi com ela que um elogio pode mudar o dia da pessoa. A Josi é uma mulher e tanto.
Depoimento da Josi: “Eu não sou muito aberta com meus sentimentos, você viu como eu estava alegre e feliz no dia dessas fotos? Foi um dia que fez eu esquecer as pessoas que ditam que eu seja, lembrar quem eu sou de verdade e a verdade é que sou linda e forte, Kami. Eu estava mal demais, eu passo por coisas que me afetam muito… e vai muito além, porque é difícil ouvir coisas horríveis como: “se você continuar comendo, não vai passar pela porta” e etc.
Já fui segunda opção de muita gente por ser gorda, por ser negra, ainda sofro com muitas coisas, eu sou muito complexa com tudo. Tem dias que fico sem comer. Mas esse projeto me salvou tanto porque sempre levei a Lara como inspiração e ter estado com ela ali foi incrível.
Cada foto que você tirava, você me elogiava… você tem noção de que cada elogio ali me tornou mais forte? Você me salvou. Meu sonho é que todas as mulheres ao nosso alcance que passam por transtornos, autoestima baixíssima, pudessem realizar um ensaio contigo. Eu sou a certeza que iria melhorar muito a vida de cada uma, como melhorou meu pensamento. Eu saí daquele parque com a certeza que eu sou linda pra caramba, que existe uma fotógrafa boa pra caramba, uma maquiadora maravilhosa, fora as modelos né… Que somos muito lindas. Ser fora dos padrões pra mim é se aceitar, é se amar para que possamos nos amar do jeito que somos é ser resistente, é sobreviver para viver no final”.
#Isabela Nascimento, estudante de Direito, 18 anos
Assim como a Lara e a Josi, a Isabela também me deixou um aprendizado com esse projeto. As pessoas que passam por nossas vidas sempre deixam um pouquinho de sabedoria, com a Isabela não foi diferente. Ela mostra que devemos nos aceitar e nos amar do jeito que somos. Foi incrível fotografar ela, esse é o nosso segundo trabalho junto e deixo aqui a mensagem que ela quis passar para todas.
Depoimento da Isabela: “Ser fora dos padrões é algo totalmente libertador, você se redescobre, sabe? Começa a sentir mais confiança de si, conhece seus gostos, você passa a se tornar quem você realmente quer ser! Durante todos esses anos nos calaram, queriam nos dizer para onde ir, como ir e principalmente para onde não ir. É algo fora do normal, então, com toda certeza digo que ser fora dos padrões te traz a resistência que você necessita para saber a sua luta, para saber a sua história. Quem segue o padrão são pessoas que não sabem viver, me arrisco a dizer que são pessoas que mal se conhecem e querem ditar uma regra que nunca vai ser totalmente aplicada, principalmente hoje em dia que nós estamos tendo voz – aos poucos, mas estamos. Quando se é fora do padrão você passa a se sentir menos representado, então eu acho importante que infiltrem gente da gente, gente que realmente passa por um sufoco pesado para ter seu ganha pão. É por isso que eu tento fazer com que as pessoas ao meu redor jamais desistam. Você pode achar que não, mas a sua luta de agora vai ser referência para a luta de amanhã! Sou Negra, sou fora do padrão e sei que de algum modo estou representando alguém”.
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