DJs dominam os bailes de rua
Por trás de uma mesa cheia de equipamentos e um fone de ouvido está a figura do DJ. Antes recluso as casas noturnas e hoje presente em fluxos de rua, ele é responsável por trazer os lançamentos pro público, guardar o hit pro momento certo, apresentar novas tendências e muitas vezes responsável por ser o gatilho de virais e sucessos. Os DJs dos bailes de rua estão colocando seu nome no movimento funk e seus trabalhos, literalmente, na rua. Hoje vou contar pra vocês a história do Salatiel Ferreira, um jovem que fez seu nomes sendo DJ em fluxos e festas abertas. Pega a receita com o Portal Kondzilla.
Diferente do que aconteceu no movimento carioca, em São Paulo as festas de funk intercalavam entre casas noturnas e festas nas ruas. São diversos os fatores que popularizaram o chamado ‘fluxo’, e o principal elemento dessas festas sempre foi os sons automotivos e também os paredões. Se no Rio as equipes eram organizada com paredões de som, por aqui quem controlava quais músicas iriam tocar eram os donos dos carros de som – que nem sempre tinha uma curadoria musical. Era o esquema ‘o carro é meu e eu toco o que quiser’, o que acabava resultando em uma enorme briga sonora entre os diversos carros na rua para ver qual era o som mais potente. Lembro muito bem quando comecei a ir em fluxos de rua, lá pra 2012. Esses proprietários dos carros de som sempre andavam com o controle de longa distância pendurado no pescoço, era tipo uma forma de status. Só que isso mudou.
Com a maior divulgação de fluxos em determinadas regiões de São Paulo e a popularização desse tipo de festa, que nada mais é que o refúgio da diversão do jovem periférico paulistano, vem surgindo mudanças em quem comanda o som, como o DJ Salatiel Ferreira, morador da comunidade Vila Maria na Zona Norte de São Paulo. Ele é mais um desses DJs de funk que atuam na rua, rolê que fez até a mídia despertar alvoroço pra saber o que era.
Fala aí, Salatiel!
O estouro dessa profissão foram os paredões de som, comandados pelas equipes e que em seguida inseriu a figura do DJ para comandar o som da festa de rua. Salatiel teve seu nome tocado nos fluxos de São Paulo por conta da música “Da Pra Marcone pro Motel”, do MC Rafa Original, que rimava: ‘Da Marcone é pro Motel / Fala aí, Salatiel’. Essa rima chiclete funcionou e estourou o nome da festa e o DJ que comandava. “Quando fui ver, já estavam cantando em todos os bailes”. A ideia de tocar veio através do amigo e também DJ, Erick Bernardo, que se tornou um mentor para Salatiel. “Eu nem sabia tocar, não sabia mexer em nada, o DJ Erick Bernardo que me ensinou, ele que foi meu professor”.
Depois do lançamento da música, o nome do DJ foi parar na boca da maioria dos MCs da cena porque música boa no funk é cantada por todo mundo, não interessa quem criou. Por conta da rima, outros MCs começaram a cantar o nome dele, acreditando que Salatiel tocaria no fluxo também, mas não é bem assim. O DJ não toca toda e qualquer música que ele recebe. “Tem cara que nunca me viu na vida e fala meu nome nas músicas, se eu ficar tocando o cara ganha grana e eu continuo na mesma”.
Um dos apoiadores da carreira do Salatiel foi MC Lan, responsável por comprar os primeiros equipamentos do DJ. Com esses equipamentos, formado por um notebook e uma controladora Pioneer, Salatiel é contratado para tocar em outras festas por toda cidade de São Paulo. Quando toca nos bailes que já é conhecido, tipo “Ruinha” e “12 do Cinga”, o equipamento fica por conta dos paredões.
No comando do som no “12 do Cinga”, na “Ruinha” e no famoso “Baile da Marcone”, Salatiel Ferreira se tornou referência pras músicas de bailes de rua. Se a música for boa, com certeza estará no set dele. “Eu toco beat que o povo gosta, só toca beat ritmado”. Salatiel explica que ser DJ de baile de rua requer responsabilidade, não é pra qualquer um. “Já pensou você tocar uma música que geral não gosta ou não vai dançar?!”. Esse controle de qualidade vai além de tocar as músicas que estão em todos os bailes, o diferencial de DJ de rua é trazer os lançamentos e fazer cair no gosto da galera. Tem que ser pioneiro e com um faro bom para lançamentos. Por isso, de certa forma, o DJ de rua dita o que vai estourar no funk.
Mas a vida de artista não é só alegria, festa e diversão. Como qualquer outra profissão, a renda de DJ de Salatiel depende das festas que o contratam, ou seja: ele só recebe cachê das festas de fora. Na “Ruinha” e outros bailes de quebrada ele toca de graça, afinal, quem paga ingresso pra ir no fluxo?!
No final do ano passado, com a ajuda de um amigo Anderson Silva, 14, Salatiel criou seu canal para reforçar ainda mais o seu trabalho como DJ e a ideia de ser um filtro de qualidade das melhores músicas do baile e todos lançamentos estão no seu canal sem falta. No fim das contas, todo mundo quer se divertir no fluxo de rua, mas para uma festa funcionar, tem muita gente trabalhando sério a noite inteira. Um deles, é o DJ.
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