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Como cantor e compositor, MC Davi faz a diferença no funk

20.03.2017 | Por: Renato Martins

Com ‘Nego Drama’, do Racionais MCs, tocando no último volume da sua Land Rover Evocke, MC Davi, 19, cantor e compositor dos principais hits do funk paulista, dirige pelas ruas do bairro Jardim Brasil, Zona Norte de São Paulo. Apontando e fazendo referências à casa onde morou, às ruas onde jogou bola e os locais que formaram sua vida, chega até chegarmos na ‘Barbearia Art’. Lá, rodeado de amigos, Davi joga uma partida de sinuca enquanto conversava com a Kondzilla para falar um pouco mais sobre seu trabalho como compositor de sucesso no mundo do funk.

À vontade na barbearia onde corta o cabelo desde moleque, começamos o papo com o artista. Davi Almeida é autor de músicas estouradas, como: “Bem Louca”, “Flexiona”, “Grave com Som” e “Alvo Fácil”, além de parceira com outros MCs, como em “Mina Louca” com o Livinho, “5 Mentes” com o MC Pedrinho, “Elas gostam” com o MC Kevinho, “Fogo na Inveja” com o Menor da VG e “Século XXI” com o MC Hariel. Além de cantor, ele compôs músicas para outros MCs, como no caso de “Tumbalatum”, interpretada pelo amigo MC Kevinho.

O MC contou como era ver a música que compôs sendo cantada por outro cantor. “Uma vez, eu tava num rolê de boy… era uma balada sertaneja. Quando acabou o show, começou a tocar uns funks e tocou a minha música que o MC Kevinho canta, [Tumbalatum] é um hit que eu ajudei a escrever.” Emocionado, o MC declara. “Você vê várias casas de show tocando sua música é algo muito foda. É algo que você criou, mano!”

Mas o que é, exatamente, um compositor? Resumindo, é o cara que escreve a letra da música e, não necessariamente, ele canta a música. Ele pode, por exemplo, vender a música para outra pessoa cantar – ou melhor, interpretar. Na indústria fonográfica, essa é uma profissão respeitada e que rende uma grana, assim como para quem canta.

É comum você conhecer compositores de sucessos em outro ritmos, como Leandro Lehart no pagode e Sorocaba, da dupla “Fernando e Sorocaba”, no sertanejo. Eles costumam escrever músicas para outros artistas cantarem.

Porém, no funk, o trabalho do compositor é um pouco restrito, pois muitos artistas escrevem as próprias músicas. E também é um trabalho pouco valorizado pela falta de créditos nas músicas, inclusive, pelos próprios compositores. O próprio Davi disse que já trocou letras de música por celular e outras coisas.

“A composição não me deu dinheiro nenhum. Quando eu era menino novo, já troquei umas músicas por iPhone […] Tem músicas que eu escrevi que estourou e ganhei dinheiro com direito autoral. Mas eu ganho mais dinheiro com os shows”.

O início de Davi na música foi em 2012, quando foi morar com a mãe em Campinas, interior de São Paulo. Sem ter nada para fazer na cidade, o MC diz que quase entrou em depressão e decidiu escrever músicas para ocupar o tempo.

No ano seguinte, voltou para São Paulo e se encontrou no funk com a ajuda de amigos que o incentivaram a não ficar apenas na composição e partir para a carreira de cantor também. Tímido, ele conta que tinha dificuldades em subir no palco e ver que, no início, o público não correspondia. Com a carreira decolando rápido, ele disse que não chegou a passar por grandes dificuldades

“Não vejo pelo lado mau: ‘ah, minha história foi sofrida’. Antigamente, dividia os ‘kits’ para sair, tênis e roupa. Era algo normal entre os moleques da quebrada […] Não passei por muitos perrengues que outros MCs passam, como não ter dinheiro para produzir uma música, por exemplo”.

Sobre o ‘dom’ de compor, o cantor atribui parte da criação das suas letras a Deus e o restante a sua curiosidade musical. Eclético, Davi diz que escuta desde o sertanejo de Marília Cecília e Rodolfo ao rap do Costa Gold.

E como um bom hitmaker, Davi também tem o ‘faro’ para o sucesso, como no caso da música ‘O Verão Está Chegando’. Nesta situação, Davi inverteu os papéis e cantou a música escrita pelo MC Kevin. “Eu sempre gostei muito dessa música e falei para ele [Kelvin] regravar, que eu tinha fé que ela iria estourar. Ele não quis, então pedi para eu mesmo regravar. Já tinha visto isso acontecer no sertanejo, mas no funk é raro. Regravei, mudei um pouco e deu certo (risos)”.

Sonhador, Davi conta que chegou em locais que nunca pensou em se apresentar, como Manaus (!!!), mas ainda tem metas para cumprir. Coisas de adulto, diz ele: “Já realizei meu sonho de moleque, que também é o de muitos garotos da quebrada. Renovei meu guarda roupa. Agora, estou pensando em ir além, sei que posso conquistar mais”. Com o pé no Chão, o cantor planeja um futuro melhor para ele e sua família. “Meus sonhos de adulto são dar uma casa para minha mãe e ter uma renda para que meus próximos não passem pelas dificuldades que passei”.

Agora de cabelo cortado e pronto para mais uma sequência de shows pela noite paulista, Davi se despede de todos no salão. Na carona de volta, o cantor dirige seu carro ao som de Justin Bieber e The Weekend, justificando o porquê se diz eclético.

Confira o último videoclipe de Davi na Kondzilla, e acompanhe o cantor pelas redes sociais:

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