As dancinhas de funk usadas como comemoração por jogadores
Se por algum momento você achou que as comemorações do futebol com as dancinhas de funk é algo que só começou agora, saiba que a prática já é bem antiga e que vários jogadores relíquias marcaram gerações com comemorações que ficaram gravadas na memória do povo brasileiro.
Assim como o futebol, o funk se tornou paixão nacional e com a sua crescente nos últimos anos, é quase impossível não usar os hits funkeiros para celebrar aquela conquista em campo. Quando voltamos lá na década de 60 por exemplo, vemos que essas comemorações durante a partida não eram tradição e que só começaram a acontecer após a transmissão televisiva, como afirma o sociólogo britânico Marc Turner em entrevista para o canal alemão DW.
“O propósito do futebol era marcar o gol, voltar para o meio campo, recomeçar o jogo e marcar de novo. Não havia ir até a câmera comemorar de uma maneira particular. Não tinha sentido fazer isso. Os jogadores eram conservadores, figuras muito masculinas, não era tão emocionante. Marcar um gol na década de 50 era uma reação. Não dramática, mas discreta”, afirma Turner.
Com a chegada da televisão nas casas dos brasileiros, muita coisa mudou, inclusive a forma de comemorar aquela vitória sobre o time rival. Aqui no Brasil, país famoso pelo belo gingado dos jogadores, tudo começou como uma forma de deboche, tirar onda do adversário, e o que antes era só aquela corridinha de braços abertos em meio de campo pra celebrar o gol, foi tomando forma e virando as famosas dancinhas que vemos hoje em dia, se popularizando ainda mais quando vem ao som daquele funkão.
O funk no gramado
Com base na pesquisa feita pelo Portal KondZilla, lá em 2008, durante o Campeonato Carioca, foi quando surgiu um dos primeiros registros do funk sendo utilizado como comemoração pós gol. Em um Fla-Flu pelo estadual, o Fluminense goleou o time adversário por 4 a 1 e o jogador Thiago Neves foi o responsável por marcar três gols na partida, comemorando com o funk ”Dança do Créu’’. A música estava em alta na época e o resultado da partida aliado ao deboche dos jogadores, fez a torcida tricolor começar a gritar ”Créu” nas arquibancadas do Maracanã.
Diante da repercussão, naquele período a Comissão de Arbitragem da CBF anunciou que iria orientar árbitros a impedir comemorações de gols provocativas à torcida adversária. Entre elas, a “dança do créu”, que foi fenômeno entre celebrações de artilheiros. A ação não durou muito tempo, já que a autenticidade dos nossos jogadores sempre falou mais alto e o funk como comemoração não deixou de aparecer durante os jogos.
Em 2011, a música “Parado na esquina” do MC Roba Cena também virou sensação após o jogador Ronaldinho Gaúcho meter a dancinha após o Flamengo vencer o Atlético-PR e avançar na Copa Sul-Americana. Além do Bruxo, Neymar, Luis Fabiano, Reinaldo e Antony foram alguns dos jogadores que não perderam a oportunidade de utilizar a dança como provocação.
Em junho deste mesmo ano, a rede Globo deu início a promoção do “João Sorrisão”, prometendo entregar um exemplar do boneco de plástico — uma espécie de “joão bobo”— a cada jogador que comemorasse um gol imitando o seu jeito de balançar – para os lados, para frente e para trás. Acabou que na época o boneco virou febre no futebol nacional e tanto famosos como anônimos começaram a aderir a campanha no ritmo do funk do grupo “os Hawaianos”, que com um refrão chiclete que diz “vem com o João Sorrisão, vem com o João Sorrisão”. No total foram cerca de 66 gols comemorados ao ritmo do funk do boneco.
Já em 2013, ano em que a música do MC Federado & os Leleks o “Ah Lelek Lek Lek Lek Lek” dominava todas as pistas, Neymar que ainda jogava pelo Santos, fez questão de embrazar ao ritmo do funk carioca. E detalhe: a música ficou tão famosa em território nacional que até a cantora Beyoncé chegou a fazer a coreografia junto com seu grupo de dançarinos durante sua apresentação no Rock in Rio naquele ano.
Em 2014, o jogador Richarlyson também mostrou que domina muito bem a jogadinha do funk. Ao comemorar seu gol em uma partida contra o Palmeiras, o Ex-São Paulo não pensou duas vezes ao colocar as mãos no joelho e dar aquela reboladinha em forma de provocação contra o time rival. Na época, o jogador foi assombrado por vários comentários preconceituosos que questionavam a sua sexualidade, mas mesmo diante de muitas ofensas, Richarlyson continuou com suas comemorações em campo.
Lembram do famoso hit “Tá Tranquilo, Tá Favorável” do MC Bin Laden? Pois é, lá em 2016 o funkeiro foi visitar a Vila Belmiro e assistiu de camarote o jogo Santos x Ituano. No final da partida, o MC encontrou o ex-atacante do Santos, Gabigol e juntos fizeram a dancinha com sinal de “hang loose” que viralizou pelo Brasil.
E teve até jogador internacional embrazando no funk! Em 2018, durante uma viagem com seu clube, o jogador francês do Manchester United, Paul Pogba, decidiu mostrar todo seu gingado na batida do 150BPM do carioca MC Kevin, o Chris. A “influência” veio de Fred, atacante brasileiro que inclusive aparece no vídeo fazendo a dancinha junto com Pogba.
Já em 2019, mais uma vez o atual atacante do Flamengo, Gabigol, protagonizou um momento icônico ao reproduzir a dança de um famoso meme da internet, a dancinha do “Nego Ney”. O ato ocorreu durante a partida Flamengo x Madureira e foi feito em homenagem a Arthur Luís Torrin, criador do meme viral.
Lá no finalzinho de 2020, a dupla de zaga do Palmeiras, Luan e Gustavo Gómez, comemoraram a classificação para a final da copa do brasil em grande estilo. Ao som do “Rap Do Solitário” do MC Marcinho, os dois mandaram alguns passinhos e demonstraram a felicidade da então conquista do time paulista.
Após dois anos da pandemia do coronavírus, em 2022 tudo começou a voltar como era antes, inclusive as comemorações com dancinhas dos jogadores de futebol. Este ano até Cristiano Ronaldo, jogador do Manchester United, juntou a família para embrazar ao som do o grupo relíquia “Os Hawaianos”, que emplacaram um dos hits do ano ao lado de L7nnon e Biel do Furduncinho, a música “desenrola, bate, joga de ladinho”, que viralizou Brasil à fora.
