MILE LAB faz revolução periférica na passarela do SPFW
Aumenta o som que a MILE LAB tá na área! Uma marca de moda com uma essência verdadeira e que está diretamente conectada com o seu território, o Grajaú. Fundada e dirigida por Milena do Nascimento Lima, a MILE LAB fez um verdadeiro manifesto contra a falta de suporte e o preconceito contra as pessoas negras de quebrada na passarela do São Paulo Fashion Week, neste último fim de semana. Cola no Portal KondZilla e pega essa visão!
Desfilando pela segunda vez na SPFW, Mile trouxe para a 52ª edição do evento a coleção intitulada “Fluxo Milenar”, que questiona se esse lugar deve mesmo ser ocupado por pessoas negras ou periféricas e se sim, como? “Eles sabem se estamos bem ou precisamos de alguma coisa?”, questionou Mile, criadora da MILE LAB.
O desfile começou com uma declamação de poesia de Breno Luan, o qual introduziu o tema e colocou em evidência a falta de apoio. Segundo a equipe, eles não tiveram nenhum investidor, por isso questionaram como seria possível criar, executar e apresentar um desfile. “É preciso olhar para todas essas questões e não só criar o que eles chamam de projeto, enfiar as pessoas em um canto e esquecer. Por isso, trazemos esse desfile no sentido de denúncia”, disse Milena.
O desfile da MILE LAB faz parte do projeto Sankofa, uma iniciativa do movimento Pretos na Moda e da startup de inovação social VAMO (Vetor Afro Indígena na Moda), que nesta edição selecionou oito marcas para desfilar na SPFW. “Fluxo Milenar” nos teletransporta para uma viagem no futuro e mostra como seria um baile funk daqui 20, 30 anos. Por isso, não podemos chamar “Fluxo Milenar” de desfile, mas sim de manifesto.”, declara a jovem criadora da marca.
De acordo com os organizadores, 90% dos modelos que desfilaram são de quebrada e aceitaram participar do manifesto porque se alinham com o que a marca pensa e projeta para o futuro. Milena ressalta o fato dos modelos não serem objetos. “São pessoas reais, pessoas que estão no corre e aceitaram correr com a gente”, encerra.
O fechamento do desfile da Mile Lab na São Paulo Fashion Week foi com Milena discursando para que todos entendessem o quanto esse território ainda é branco e preconceituoso. Soltando a voz por todos que vieram antes dela, por todos que sofrem na quebrada e estão no corre diário.
“Hoje, camisetas amarradas no rosto representam a perspectiva da branquitude perante o nosso corpo: suspeito, é como eles nos enxergam no seu imaginário. Eles veem um potencial presidiário. São 500 anos nos vendo como ameaça”, disse Milena em seu discurso final.
Para o desfile, a MILE LAB, por meio do projeto Sankofa, contou com o apoio da Sprint Textil para a estamparia dos tecidos, mas o único que realmente investiu foi o Miltão Pipas, com produção de 200 pipas, Hamilton, dono da marca, é pai de um dos integrantes do coletivo, o Ítalo Augusto. Tiveram, também, o apoio do Artista Cauã Bertoldo nas artes das pipas, Letícia Mestiça do salão Mestiça Afro Hair e muito mais.
Inspiração dentro da quebrada
“Tudo ao meu redor é fonte de inspiração, o Grajaú, a minha quebrada, os moleques soltando pipa, os tênis no fio, tudo é motivo de inspiração”, explicou Mile que traz isso muito latente e forte em sua fala e trabalho. O primeiro elemento desta coleção é a pipa, que decora os céus periféricos e dificilmente faz presença em regiões centrais, sendo assim parte da cultura e estética das quebradas desde seu surgimento. Papéis de seda, varetas de bambu, rabiolas de saco plástico, linhas de algodão e demais acessórios são materiais que não só representam o desenvolvimento de diversas crianças em criar suas próprias pipas mas também ferramentas que às permitem olhar para o alto e mesmo com os pés no barro, chegar mais perto do céu.
Sobre a MILE LAB
MILE LAB nasceu em 2017, fruto de uma herança familiar, das avós da Milena, todas costureiras com um conhecimento ancestral e desde a sua criação como coletivo e marca, toda a existência da MILE LAB é direcionada para o corpo periférico. Também pode se dizer que a atuação do coletivo e marca, não começou em 2017, sua criadora sempre esteve em movimento em prol da quebrada. Antes mesmo de perceber as suas inspirações, Mile já movimentava as estruturas com ações dentro do Grajaú. “Quando percebi que minha inspiração era diária, no vai e vem da perifa, não teve mais volta.”, comenta.