Música

No Espírito Santo, o beat é fino e o funk é forte

11.12.2017 | Por: GG Albuquerque

O Espírito Santo não costuma aparecer nos noticiários nacionais e sua cultura ainda é pouco difundida no Brasil. Quando o assunto é funk, o nome dos capixabas também não costumam vir à tona. Entretanto, uma nova geração de músicos está colocando o estado no mapa do movimento funkeiro. Lá é a terra natal do DJ R7, um dos produtores que renovou o funk de São Paulo com hits como “Baile de Favela” (MC João), “Tenebrosa” (MC Livinho) e “Solta o Grave” (MC Pedrinho). E desde a mudança do R7 para a capital paulista, os artistas locais desenvolveram uma sonoridade nova e muito particular: uma batida hiper aguda e de som metálico chamada de “beat fino”. Conheça agora no Portal KondZilla o movimento de funk do Espírito Santo.

Ninguém sabe dizer ao certo quem é o criador da tal batida capixaba, mas um dos responsáveis pela sua popularização e seu maior expoente é o DJ Jean Du PCB. Filho de um compositor e intérprete de samba enredo, o produtor começou a fazer suas primeiras montagens por volta de 2008, para diversos artistas cariocas. Foi só em 2013 que o DJ adaptou o ritmo para sua região e que o consagrou, tornando o artista de funk mais popular do estado.

“O beat fino nada mais é do que um beat normal de voz com o pitch aumentado”, explica Jean. “Eu já tinha escutado desse jeito em algumas produções de DJs de fora e não sabia como fazer. Foi aí que fiz uma montagem em cima desse beat, que foi a “Treta do Quarto Verde”, muito tocado na grande Vitória”, conta o DJ. “Depois dessa produção fui fazendo uma série de montagens e músicas como “Joga a Xota Pros Parceirin“, do MC Rogin do BF. O pessoal foi abraçando e tá como tá hoje, o pique de Vitória, pique do Espírito Santo”.

Assim como o beat “minimalista” de Belo Horizonte que se espalhou por São Paulo, o beat fino vai na contramão do pancadão grave tradicional do funk. Para além do estilo e da criatividade dos produtores, essa onda de músicas mais agudas tem a ver também com a forma que o público escuta o som, quase sempre em celulares ou em caixinhas de som bluetooth — equipamentos com alto falantes pequenos e sem subgraves. O próprio Jean Du PCB diz levar este fator consideração. “É por isso que a gente busca uma masterização legal, que toque em vários tipos de aparelhos sonoros, principalmente essas caixinhas que tão na moda, da JBL e tal. Em algumas produções, para não ficar muito agudo, a gente até faz um beatzinho de grave e bota levemente”.

Quem também faz essa ponte entre Espírito Santo e o Rio de Janeiro é o cantor Rodrigo CN. Com sete anos de carreira, o MC fechou uma parceria com o Dennis DJ, que criou remixes exclusivos de dois dos seus maiores hits: “Antigamente Era Jorge & Mateus” e “Você Não Colabora”. As faixas entraram no podcast 012 do produtor carioca.

Outro nome importante do funk capixaba é o DJ Felipe Único, jovem prodígio de 17 anos que produz desde os 12 e vive na cidade de Linhares, interior do estado – cerca de 1h30 de viagem de carro até a capital Vitória. Ele não é muito conhecido na cena local, pois seu ritmo não é o beat fino que a galera curte. Felipe até fez uma parceria com o Jean Du PCB nos idos de 2013, mas desenvolveu seu estilo influenciado pelo funk paulista, de batida mais seca e som mais encorpado.

A maioria das músicas em seu Soundcloud são montagens. Felipe Único também tem importantes produções com vozes exclusivas de MCs paulistas, como “Tiro Preciso” do MC Charles, que virou clipe no ano passado. Em 2017 ele assinou produções para o MC Brisola (“Empina Vai, Rebola Vem”) e MC Hollywood (“Vai Segurando Rajada”, “Putaria das Brabas” e “Patricinha na Favela”, esta última também em parceria com o MC MM). A rasteirinha instrumental “Capoeira de Angola” até apareceu num set do DJ alemão Daniel Haaskman no programa de rádio do Diplo, na Inglaterra.

“Eu comecei a produzir em 2011 e nessa época era no estilo do Rio. Em meados de 2014 eu migrei pro funk de São Paulo por, já naquele tempo, eu ver que o som paulista já era uma revolução do funk. O Jean tem o ritmo dele no beat fino, o meu é diferente e tem espaço para todos”, comenta Felipe, que sonha em um dia se mudar para a capital paulista e viver do funk.

De fato, o Espírito Santo tem mesmo espaço para todos. Além do beat fino e do estilo de fluxos do Felipe Único, outro nome forte do estado é o DJ GG e seu Baile do GG, que mistura o batidão com sertanejo e música eletrônica — como é o caso de “Tô Problema” (com a dupla Breno e Lucas) e “Segue o Baile” (com MC Gnomo) ambas lançadas em clipe pela KondZilla.

As grandes festas Baile do Jean Du PCB também misturam tudo: tem MCs de funk, banda de pagode, grupo de rap e DJ de música eletrônica — o próximo baile, por exemplo, vai ter MC TH, MC Cabelinho, Rodrigo do CN, DJ Jess Benevides e os rappers do 1 Kilo. É uma forma de abraçar outros gêneros e de fortalecer os artistas locais, como aponta o próprio produtor: “Todos os estilos musicais casam bem com o funk. O nosso estado é muito eclético. Nas minhas festas eu sempre tento misturar o funk com algum outro estilo, que é definido a partir do público que a gente quer alcançar. Com mais frequências a gente mistura com o rap, que tá muito forte aqui em Vitória. É mostrar que o público do funk também gosta de outros estilos musicais”.

Nesse caldeirão musical, aos poucos, elementos novos vão entrando na música funk. “Eu particularmente tiro vários pontos da música eletrônica e crio minhas músicas e montagens em cima disso. Algumas produções minhas têm por alguns segundos uma batida da música eletrônica, para dar uma diferença no show e levantar mais o público”, diz Jean, que usa a influência da eletrônica em faixas como “Você Não Colabora” e “Chega de Tristeza, Senta Com Alegria”, ambas do Rodrigo CN.

Aproximando diversos estilos e fechando parcerias, o funk do Espírito Santo busca se estabelecer no cenário de música brasileira. Jean acredita que o momento é de expansão: “O funk está tocando muito no estado, na capital e no interior. Eu também já fiz show em outros estados, no interior do Rio de Janeiro, nos interiores da Bahia e tô com show marcado em Minas Gerais com o beat fino. Acho que devagarzinho outros estados também estão abraçando o nosso pique”.

Na mesma linha, o MC Rodrigo CN diz que 2018 vai ser um ano fundamental para os capixabas: “Nosso funk é pouco conhecido nacionalmente, mas este ano foi o ano de destaque dos artistas, tanto DJ como MC. Aos poucos estamos conquistando espaço fora também, com essa parceria que fiz com o Dennis e divulgação com o DJ Rogerinho e o DJ Lindão no Rio. Tenho certeza que nosso funk vai chegar bem longe ainda porque aqui são vários artistas bons e outros estados já estão olhando aqui pra dentro. Tenho certeza que nosso funk, ainda em 2018, vamos dominar o cenário nacional”.

#SUMÁRIO

ONDE: Estado do Espírito Santo, capital Vitória e cidades do interior, como Linhares.
O QUE É: O domínio da batida aguda chamada de beat fino, mas que convive e até se mistura com outros gêneros musicais.
Cantores: MC Neguinho do ITR, MC Rodrigo CN, MC Pedrin, MC Rogin, MC Bala, MC RB, entre outros.
Produtores: DJ Jean Du PCB, DJ GG, DJ Felipe Único, Ellysson DJ, Obelix, entre outros.

Cinco músicas:
Neguinho do ITR – Que Popotão Grandão
MC RB – Tipo Como
Rodrigo do CN – Antigamente Era Jorge e Mateus
Bocão – Falando Espanhol
MC Gnomo e DJ GG – Segue o Baile

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