Comportamento

MC Maneirinho faz reunião com prefeito de Niterói após ação policial em festa de Dia das Crianças

20.10.2022 | Por: Janaine Fernandes
MC Maneirinho faz reunião com prefeito de Niterói após ação policial em festa de dia das crianças

Após a violenta operação da PM no Morro do Serrão durante a festa de Dia das Crianças que o MC Maneirinho comandava, no último dia 14 de outubro, o funkeiro e sua empresária foram chamados para uma reunião com o prefeito de Niterói, Axel Grael (PDT).

Na reunião, Maneirinho questiona a abordagem da polícia durante a celebração infantil, que por conta dos tiros, seguido da chegada do veículo blindado Caveirão, foi encerrada.

“A maioria na nossa favela não tem condições de ir num show. Nós estamos aqui justamente para isso, pra trazer nosso show. O que tem de errado nisso? O estado só traz tiro e sangue, não faz nada e quando alguém faz é isso aí, é essa novela aí que muita gente ama ver”, lamentou MC Maneirinho sobre o encerramento do show.

Maneirinho, que é cria do Serrão, já realiza a festa das crianças há cinco anos, sempre no dia 12 de outubro, como uma forma de trazer alegria e entretenimento pra sua quebrada. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o artista comenta que não aguenta mais ver as crianças presenciarem tiroteio, guerra, com semblante de medo e ainda afirma que chegou ao seu limite.

Depois da reunião, o prefeito Axel Grael disse estar triste com o acontecimento e que a manifestação do funk precisa ser respeitada e valorizada. “Bate-papo hoje com o @mcmaneirinho. Após o triste acontecimento de ontem, pudemos esclarecer que a ação que acabou com a festa das crianças na Comunidade do Serrão, foi um ato que não tem relação com a Prefeitura de Niterói. Além do MC Maneirinho, recebi lideranças da comunidade do Serrão. Aproveitamos o momento para dialogarmos sobre ações da Prefeitura na região. Cultura é um direito e é fundamental que a manifestação do funk seja respeitada e valorizada. Essa aproximação com o artista Maneirinho com certeza trará bons frutos, não só para a comunidade, mas para Niterói que tem orgulho de ter um talento como ele.” disse o prefeito Grael.

Entenda o caso

Na semana do dia das crianças, o MC Maneirinho preparou uma grande festa no Morro do Serrão para fazer a alegria da criançada e celebrar a data especial. Apesar da iniciativa, o evento que era pra ser uma comemoração, acabou sendo marcado pela violência policial após a ação da PM, que acabou com a festa a base de tiros alegando ter recebido uma denúncia de ilegalidade.  O artista, os moradores locais e o público presente no evento ficaram indignados com a ação da PM, que não só assustou a todos no local, mas também colocou a segurança de quem celebrava o momento em risco. O evento acabou em fatalidade, resultando na morte de um homem durante o confronto.

Teve em São Paulo também

E não foi só no Rio de Janeiro que a ação policial acabou com o evento de Dia das Crianças. Em uma em comunidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo, famílias comemoravam a data quando a PM interrompeu a festa usando bombas de gás e balas de borracha contra os moradores.

Apesar da liberação do evento, moradores disseram pra Ponte Jornalismo que o governo municipal não permitiu que fosse feita a montagem de um palco para a apresentação do MC Paiva e do DJ GBR, ambos crias de São José dos Campos. “A gente ficou pedindo explicação sobre o porquê e o prefeito [Anderson Farias (PSD)] disse que show de MC não é show para criança”, declarou uma mãe que preferiu não ser identificada e que estava com os filhos de nove, 10 e 13 anos na festa. “Quando a gente falou para as crianças, as crianças choraram muito porque elas estavam esperando o show, e ligamos para ele [MC] vir”, prosseguiu. A moradora ainda afirmou que o evento acontece anualmente no mesmo local e que a polícia nunca foi acionada, e que desta vez só vieram por causa do show.  

Gilsuly mostra ferimento no braço e no rosto da filha de 9 anos e denuncia que foram atingidas por bala de borracha | Fotos: arquivo pessoal / Ponte Jornalistmo

Acabou que mesmo sem palco, Paiva e GBR fizeram a sua performance, alegrando a criançada no local. No final da apresentação, o MC que cantava na calçada, jogou dinheiro para as crianças e terminou o seu show. Após o término da apresentação, Gilsuly Heloisa de Almeida, 37, outra mãe que estava com a filha de nove anos no local, afirmou que a Polícia Militar começou a agir e jogaram gás de pimenta, bala de borracha e uma das balas pegou no seu braço e no rosto de sua filha. Vídeos gravados no local mostram toda correria e desespero das famílias presentes no evento.

A assessoria de imprensa da PM não respondeu às perguntas da Ponte Jornalismo, negou que o evento tenha sido autorizado pela Prefeitura e encaminhou a seguinte nota:

“A respeito da ação policial ocorrida quarta-feira (12), na comunidade Campo dos Alemães, em São José dos Campos, a Polícia Militar esclarece que atuou na desobstrução da via ao término de um evento não autorizado pela prefeitura. É oportuno destacar que, durante a ação, algumas pessoas hostilizaram os policiais com arremessos de objetos, havendo, portanto, a necessidade de utilização de meios necessários para dispersar as mais de 500 (quinhentas) pessoas presentes no local e salvaguardar vidas. Por fim, é imprescindível registrar que toda e qualquer ação policial é apurada sob a ótica da legalidade”.

Neste caso, um dos materiais que poderia ser utilizado para investigação referente a ação da polícia seriam as câmeras acopladas nas fardas. Desde junho de 2021, a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PM-SP) iniciou a implantação das Câmeras Operacionais Portáteis (COP), com o objetivo de registrar toda operação policial. Comparado ao ano de implantação, o número de pessoas mortas pela polícia caiu e atingiu o menor patamar em quatro anos, conforme dados do G1.

Os dados revelam que:

O Brasil teve 6,1 mil pessoas mortas por policiais no ano passado – uma queda de 4,5% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 6,4 mil vítimas.

A taxa de mortes pela polícia ficou em 2,9 casos a cada 100 mil habitantes.

O Amapá é o estado com a maior taxa de mortes por policiais: 17,2 a cada 100 mil.

O país teve 183 policiais assassinados em 2021 (menos que em 2020, quando 221 foram mortos).

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