Conheça o projeto “Vivência011”, que foca na relação entre moda de quebrada e mercado
A moda das quebradas vai muito além de estética. O jeito que a periferia se veste reflete um contexto cultural e social. Esse é um dos assuntos tratados no projeto “Vivência011 – Cotidiano e Modas Periféricas“, documentário dirigido por Wesley Xavier. Pega a visão:
Lançado em janeiro deste ano, o documentário “Vivência011 – Cotidiano e Modas Periféricas” visa revelar o potencial criativo da quebrada, falar sobre estética e comportamento da juventude periférica e decorrer sobre a relação, ou falta de, da quebrada com o mercado de moda.
Para somar, o projeto entrevistou um jornalista e diretor criativo Fernanda Souza , o estilista e diretor criativo Neguinho de Favela , o produtor Louis Guxtrava e a Ametista para falar sobre suas experiências e concepções sobre os assuntos.
“Esse projeto é minha introdução na produção de conteúdo sobre comportamento e moda periférica em lugares de protagonismo”, comenta Wesley sobre a vontade de produzir o documentário.
Ele complementa que “a periferia está muito além de dados demográficos, porcentagens ou estética. Buscar entender a partir de construídas somente em cima de números é um grande tiro no pé na hora de obter um olhar com qualidade sobre como a favela se comporta”.
Além do documentário, o projeto “Vivência011” ainda conta com dois editoriais de moda: o editorial “Cotidiano e Moda Funk” teve direção de arte assinada por Fernanda Souza e o editorial “Moda Sem Gênero” foi assinado por Louis Guxtrava.
“Ambos os ensaios são sobre o cotidiano, nada é unânime. Todo o trabalho de recorte e criação desses dois artistas de responsabilidade, eu assinei a fotografia um olhar afetuoso sobre esses corpos e suas estéticas”, diz Wesley.
De acordo com diretor, “outro ponto importante é toda a construção de imagem foi pensada para contrariar a visão que se tem sobre a favela. É comum transpassar assuntos como marginalização e preconceito quando se fala sobre a periferia. E o objetivo do filme documental e os editoriais que acompanham o é a realidade revela a bela.”
Mesmo que os corpos periféricos estejam ocupando mais espaços na publicidade e que a moda das quebradas esteja crescendo para além das periferias, muitas vezes não representam 100% a periferia, isso porque apesar dos modelos e das roupas serem de quebrada, quem comanda as produções não são. “A minha provocação é destinada a um pensamento que seciona a periferia, que a reduz a livre autoridade em imagens que muitas das vezes não representa a periferia, porém as permitem navegar no mercado de consumo como empresas representativas. A imagem da moda periferia não existe para fazer com que empresas sejam mais representativas. Resumir a moda periférica em só estética, é deixar de lado todo o contexto socioeconômico e cultural que fez com que esses corpos se movimentassem para criarem e vestirem coisas que os façam se sentir bem com si mesmos e se sintam parte de um todo. A periferia é uma grande consumidora, mas o mercado a suprime, deixando de reconhecer que para além de diversidade em campanhas e corpos com cores diferentes em seus editoriais de moda, é importante repensar quem cria e por que cria”.
Relação antiga com a moda
Cria de Parelheiros, Wesley Xavier, 26 anos, começou a entender mais sobre moda entre os anos de 2010 e 2012, época que frequentava muito o Capão Redondo e ia em bailes e quermesses por lá: “Nesses rol percebeu o consumo de marcas como Oakley, Hollister, Abercrombie & Fitch, Aeropostale, Brooksfield, Ed Hardy etc. Por ser de outro lugar, consegui ver entender as nuances que existiam entre as experiências do Capão e da minha região, tipo como as músicas estouram primeiro comentar no Capão e depois em Parelheiros, havia uma diferença de fluxo de informação, a internet não era tão forte quanto hoje.”
A partir da época, o documentarista começou a se vestir igual ao pessoal do Capão, e para conseguir as peças da moda, Weley recorreu ao Brás, centro de São Paulo conhecido por ter muitas roupas baratas e se apoiou nas peças “RPs”, como replicas de primeira linha. “Em 2011, me assumi sacoleiro, vulgo empreendedor.
Por roupas que não eram comuns no meu colégio e quebrada, despertei o interesse de pessoas nas peças. Eu ia pro Brás, tirava foto das roupas, apareceu nas lojas do Capão, Usava toda a grana para comprar roupas para mim e minha companheira na época, foi um período muito do dinheiro, por ter tido dinheiro a comprar peças originais, o que vender mais peças”.
Além de ter feito vários vários projetos educacionais voltados para audiovisual e criatividade, Wesley se formou em um tecnólogo de Produção Audiovisual e fundou o projeto Cinequebrada Produções, voltado a oferecer cursos técnicos de audiovisual para a quebrada. “Acredito que o audiovisual ocupa um grande espaço na minha vida, foi através dos aprendizados que acessei que entendi a importância de falar sobre minha história, minha comunidade e do quanto é importante outras pessoas também contarem suas histórias através dos seus olhares e realidades”.