Comportamento

Com o dedo pro alto e o copo de 700 – A relação do whisky com o Funk

01.06.2017 | Por: Amauri Filho

Desde o dia em que o papai Mr. Catra cantou sobre misturar “whisky e energético” na música “Adultério“, o consumo desse destilado ultrapassou os limites dos barzinhos de classe média e do público mais velho para ser consumido pela galera do funk nos fluxos e bailes. Seja com guaraná, energético ou gelo de coco, as misturas e drinks feitos com whisky caíram no gosto – e nas letras – do público funkeiro. Não faltam músicas falando sobre a bebida e sobre suas variações: do clássico Red Label, até o recém chegado no rolê de funk, mas já conhecido, principalmente no meio do rock, Jack Daniels. Agora, o Portal Kondzilla vai falar um pouco sobre essa relação do funk com o whisky, afinal “Gelo, Whisky e Red Bull, na banca não pode faltar”. Tá avisado.

“Joga o gelo/Joga o whisky/Faz a mistura/Forma o drink”. Assim canta MC Bin Laden na música “Copo de 700”, e o pessoal, sem dúvida, concorda com o ídolo. Enquanto outras bebidas como a “Big Apple”, vinho, catuaba e cerveja até conseguem manter seu espaço dentro do universo funk, o whisky ganhou um destaque especial, e a cada dia vem ganhado cada vez mais espaço dentro dos fluxos e bailes. E a julgar pela trajetória das letras, o gosto do público também tem se transformado.

“É ruim passar vontade, ver minha barriga roncar/ Por isso nois ostenta [sic] os desejos do coração”. Esses versos da música “Olha o kit“, do MC Dede, dão uma idéia dos motivos pro whisky ter sido eleito a bebida do fluxo. A professora e doutora em Ciência Política Denilde Oliveira ressalta que as músicas retratam “não apenas a ostentação, mas a representação de quais são os sonhos daquelas pessoas”. Assim, cantar sobre trajes, kits e até mesmo bebidas caras, acaba refletindo o desejo não apenas do MC, mas da comunidade que o escuta. Já falamos do desejo do pessoal pelos produtos da Oakley neste texto.

Se antes o whisky que mais figurava nas letras e nos copos da galera era o Red Label, isso mudou. A marca escocesa Johnnie Walker define os seus produtos por ‘cores de etiqueta’, sendo a versão de entrada – e mais popular -, o Red Label, um whisky envelhecido por 3 anos. A linha das ‘labels’ apresenta outros produtos, chegando até o “Blue Label”, um whisky envelhecido por 21 anos. Agora, essa linha de ‘etiquetas’ cedeu espaço para o novo queridinho do público, o “Tio” Jack Daniels. E não faltam músicas falando sobre esse parente distante e sua famosa garrafa quadrada com rótulo preto.

História do Whisky e Whiskey
Para entender mais desse assunto, pedimos a opinião de um especialista da área. Fábio Lobosco Silva, 30, é formado no curso de Sommelier e Vinhos no SENAC-SP, e na escola Wine & Spirit Educationn Trust – WSET. “A destilação é uma técnica ancestral, provavelmente praticada por babilônios e mesopotâmicos, desenvolvendo-se timidamente ao longo da antiguidade clássica e ganhando maior atenção durante a Idade Média, principalmente em monastérios e para fins medicinais”, explica o sommelier. “Os primeiros registros de bebidas embrionárias do whisky surgem a partir do século XV, a chamada “Água da Vida” era destilada”.

Daquela época, quem se interessou pela bebida foram os povos da “Escócia e Irlanda, bem servidas de grãos como malte, trigo e centeio, desenvolvendo e tornando expoentes de produção”. Dessa região que saiu o Red Label, da marca Johnnie Walker. Lobosco continua: “Com os movimentos de colonização da América do Norte, tais imigrantes desembarcam no Novo Mundo trazendo sua expertise e cultura de produção, e ali se adaptam ao cereal abundante do local, milho, fazendo surgir os contornos principais do whiskey americano”, nosso conhecido Jack Daniels.

Red Label ou Jack Daniels: Qual o melhor?

É difícil dizer se um deles é melhor que o outro, até porque isso é só uma questão de gosto. Mas a diferença entre o charme e o funk, digo, entre Red Label e Jack Daniels é bem clara.
Explicando de uma forma simples, o Red Label é uma bebida produzida seguindo a receita tradicional da Escócia, levando malte na produção. Já o Jack Daniels é produzido seguindo a receita original dos Estados Unidos, levando milho na produção. Para explicar de forma mais completa, dá uma olhada aqui embaixo.

O Red Label é uma bebida da Escócia, obtida a partir do Malte. Os cereais que vão ser usados precisam entrar num processo de germinação (já plantou feijão no algodão? Então, quando a semente começa a brotar, ela está germinando) para que liberem açúcar, e isso acontece numa combinação de água quente e tempo. Quando esse processo começa a acontecer, ele é interrompido, e aí começa a segunda parte, a de secagem. Durante esse processo, o cereal recebe uma carga de fumaça que adiciona o sabor característico.

O cereal seco é novamente adicionado à água quente, fervido e depois resfriado. Aí começa o processo de destilação: o líquido é colocado em tonéis de cobre – os alambiques -, onde parte da água evapora, ganha consistência, sabor e aumenta o volume alcoólico. Depois, a bebida é armazenada em barris de carvalho, onde ficam por no mínimo três anos – este é o tempo mínimo que a bebida deve ser armazenada para poder ser chamada de “Whisky Escocês” (Confira esse vídeo que explica todo o processo). Após esse período, a bebida pode ser colocada na garrafa com o rótulo vermelho e comercializada.

Já o Jack Daniels é uma espécie de whiskey que não usa cereais maltados, mas um composto de milho, cevada e centeio. Esses ingredientes são adicionados a água, que depois recebe uma carga de levedura – fungos que transformam o açúcar obtido na fermentação dos cereais em álcool. Toda essa mistura é fermentada e destilada em alambiques também. Após essa fase, a bebida passa por um processo de filtragem que só a Jack Daniels possui: um filtro de carvão com três metros de comprimento por onde passa a bebida, gota a gota. Pra você ter uma idéia, a primeira gota pingada no filtro leva uma semana para atravessar tudo!

Depois de filtrada, a bebida – que ainda é incolor – é armazenada em barris de carvalho produzidos pela própria marca, onde também descansa por pelo menos 3 anos. Este período produz o Jack Daniels como conhecemos, de cor marrom e cheiro adocicado, que depois é engarrafado e vendido. (Confira esse vídeo que explica todo o processo)

Whisky da Ressaca?

Aproveitando o tema da ressaca do MC Davi, a história de que whisky não dá ressaca não é tão verdade assim. Antes de tudo, a ressaca acontece quando a pessoa que consumiu bebidas alcoólicas de forma exagerada acorda no dia seguinte sentido dor de cabeça, dor nos olhos e enjoado. Esses sintomas são provocados pela desidratação que o álcool provoca no organismo, e pelo trabalho excessivo do fígado para eliminar o álcool do sangue.

O álcool é diurético e por isso a pessoa quando bebe faz muito xixi, ficando rapidamente desidratada. Basicamente quanto mais xixi a pessoa faz, mais rapidamente irá ficar bêbada, aumentando os risco da ressaca no dia seguinte.
Ou seja, quanto mais álcool tomar, mais ressaca você vai ter. Dica: se você estiver bebendo whisky num copo com gelo e misturado com alguma coisa (especialmente com gelo de água de coco), o álcool da bebida acaba dissolvendo, e a água de coco vai hidratando seu corpo também, o que é bem importante pra não acordar no dia seguinte com a sensação de ter caído de um trem em movimento. Mas isso não funciona se você beber demais ou estiver consumindo whisky falsificado.

Aliás, muito cuidado com bebida falsificadas, pois elas costumam usar álcool metílico (metanol), que pode causar cegueira permanente! Infelizmente, é muito difícil distinguir bebidas originais das falsificadas. Você pode ficar atento ao selo de segurança do IPI que fica na tampa, como também se a garrafa está lacrada, sem indícios de alteração. Mas você também pode sempre desconfiar se uma dose custar muito barato. Nesse caso, o barato pode sair muito caro. E Lobosco, o sommelier, reforça. “Quando se fala de consumo pessoal, recomendo adquirir [whisky] em lojas de boa reputação. Não existe mágica no mercado, garrafas de preços extremamente inferiores e sem indicação de procedência possuem grandes chances de serem contrafeitas. Em bares, confiamos também em sua boa reputação”.

Formas de apreciar a bebida

Para quem quer conhecer mais dos destilados, o Sommelier dá algumas dicas. “Sugiro começar com exemplares mais leves, macios e fáceis de beber. O whisky irlandês Jameson é bom para iniciantes justamente por reunir tais características. Sugiro também aventurar-se pelos variados estilos, explorando os Blends e Single Malts Escocês, o Bourbon Americano, e após aprofundar-se no mundo dos destilados, provar os whiskys do Canadá e Japão”. E se você já se considera um bom conhecedor de destilados, fica outra dica. “O consumo se torna mais agradável se a dose da bebida for misturada com um pouco de água mineral. Isso reduz a ardência alcoólica na boca e nariz”.

Drinks são uma boa pedida para quem quer conhecer este destilado. “Experimentar coquetéis feitos com a bebida não só familiarizam o bebedor, mas também mostram uma faceta diferente de consumo”. De qualquer forma, a situação é a seguinte: isso são DICAS. Lobosco completa. “Não existem regras para degustar prazeres pessoais. Entretanto, algumas recomendações são úteis para que o bebedor extraia todo o potencial e sabor do whiskey”.

E encerrando o assunto, o gelo. “É comum também apreciá-lo com gelo, o qual recomendo que seja também de água mineral e, de preferência, um gelo bem denso e robusto, para que apenas resfrie a bebida, sem água-lá”. Fábio completa. “Se o bebedor encontra prazer em consumi-la com energético ou água de coco, boa sorte, eu particularmente não gosto”.

A mistura ideal

Depois de ver como o processo de fabricação de cada bebida leva tempo, dá até pena de misturar tanto o Red Label, quanto o Jack Daniels, com alguma coisa. Mas a gente separou umas receitas interessantes e fáceis pra vocês. Algumas já são velhas conhecidas, outras podem ser o diferencial no fluxo:

*Red Label e Energético
Antes de tudo, é preciso cuidado com essa mistura. O álcool é um agente depressor e após ingerir uma dose, começam os primeiros sintomas de relaxamento e sonolência. Já a cafeína contida no energético, é um estimulante e causa uma sensação de euforia e excitação. A união entre os dois faz a pessoa não sentir as consequências da ingestão alcoólica.

Tipo, é como se o corpo ficasse preparado para mais doses sem sentir o baque do álcool. Com a redução do efeito sedativo, a pessoa fica apta a beber por mais tempo e não percebe a embriaguez.

Sabendo disso, essa já é uma clássica receita nos fluxos e bailes. É só misturar whisky, energético e gelo. Se preferir, dá pra trocar o energético por guaraná.

*Red e Soda
Pedida simples e que funciona. É só pegar um copo, colocar gelo até a metade, uma dose de Red Label e completar com Club Soda (refrigerante sem sabor – aquela latinha preta da Schweppes) ou água com gás. Dá até pra desbaratinar e colocar uma rodela de limão no copo.

*Jack and Coke
Outra mistura fácil de fazer. Só colocar uma dose de Jack Daniels num copo com gelo e completar com coca cola.

*Jack Citrus
A mesma coisa da mistura com coca cola, só que com Schweppes (ou outro refrigerante) citrus

E você, tem alguma receita favorita? Lembrou de alguma música que fala de whisky? Conta pra gente nos comentários!

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