Conheça o corre de uma fábrica por trás dos paredões que barulham bailes funks
Aqui em São Paulo, a cultura dos paredões se tornou uma das marcas registradas da cultura funk. Um som automotivo com as cornetinhas já faz a alegria do bailão, porém uma carretinha (suporte) com um paredão não tem comparação. Mas o que a maioria das pessoas não sabe é o trampo, o estudo, a logística e o investimento monstros que existem por trás desse rolê. Encosta aqui no Portal KondZilla, porque nós colamos num fabricante de paredões pra desenrolar essa ideia para você!
Paulo montando um Rack Móvel (responsável por operar o som) e Adriano na montagem de um alto-falante
Antes de mais nada, resumidamente porque já falamos disso aqui no Portal, uns apontam que o paredão veio lá do Nordeste, com o pagodão nordestino. No entanto, não podemos esquecer que muito antes tínhamos a forte cultura do SoundSystem aqui no país, que começou nas radiolas do Maranhão. E, se fizermos uma pesquisa mais complexa, facilmente encontramos ligações com outros territórios, para além do Brasil (Jamaica, por exemplo), que estão ligados por um interesse em comum: escutar e sentir música alta nos guetos.
A ideia aqui é mostrar um pouco como é o trabalho de produção, seja das carretas com paredões, dos carros com as cornetas ou até mesmo os carros automotivos de pressão interna (conhecidos por muitos nas competições Hair Trick – uma disputa entre os sons graves dos carros).
Quem recebeu a nossa reportagem para dar esse papo foi Wellington Alves, fundador e administrador da equipe Street Car há 21 anos, na quebrada do Myrna, extremo sul de São Paulo.
Equipe Street Car. Wellington é o de boné, que está abaixado
A equipe é composta por seis pessoas, que trampam na fabricação das caixas, carretas e alto-falantes; instalação do sistema de som, que inclusive requer conhecimento de elétrica e sonorização; pintura e recepção. ‘’As pessoas acham que é só a montagem, não imaginam o trabalho que dá. Para você ter ideia, a gente pensa no tipo de material, designer e pintura das caixas, qualidade dos amplificadores. Afinal, dominamos a parte elétrica e a engenharia do som. Principalmente de som, que é a parte interna, já que nós mesmos fabricamos nosso próprio alto-falante, ou seja, fica na nossa responsa a qualidade do som que as pessoas vão ouvir’’, explica Wellington.
Adriano montando um alto-falante
A equipe Street Car tem três espaços numa mesma calçada, divididos em: uma oficina de fabricação de caixa e pintura; uma oficina de instalação e parte técnica do som; e uma loja que vende equipamentos automotivos. Entre as 6 pessoas da equipe, três são da família – a esposa, uma das filhas e o próprio Wellington, que juntos administram o estabelecimento.
A produção dos sistemas e o domínio técnico
Paulo, um dos manos que desenrola o sistema som e elétrica
“Tudo que eu sei de instalação, desde parte elétrica até o som, quem me ensinou foi o Wellington. Se eu fizesse um curso, eles iriam me ensinar o básico. Aqui eu aprendi na prática. Na verdade, aprendi muito mais coisas do que quem fez. Pretendo fazer um curso pelo diploma, porque mexer eu já sei há sete anos’”, relata Paulo, um dos funcionários da loja. Extremamente inteligente, ele tirou um tempo de sua rotina corrida do trampo pra mostrar como funciona o sistema de montagem de um som.
Espaço de fabricação das caixas
“Tudo começa pela caixaria, não dá pra montar um paredão bom sem a caixaria. Às vezes, um cliente exige um aparelho, auto-falante, amplificador e bateria bons, mas escolhe uma caixa ruim”, ensina Wellington sobre a fabricação de um paredão. O processo todo exige muitos fatores para que o sistema funcione bem; o primeiro passo é a construção da caixa (com a instalação do auto-falante) e pintura. Isso porque cada caixa determina a frequência da música que será ouvida. Os fabricantes vão pegar, por exemplo, o funk como referência e adequar a frequência que vai tocar nessas caixas.
Fabricação de caixa
A segunda etapa é a definição de bateria, pois será preciso fazer um cálculo para saber de qual potência o cliente vai precisar. Se pedirem uma potência de 5000 Watts, a equipe terá de calcular a bateria que irá oferecer esse suporte para a capacidade de som solicitada. Depois disso, é preciso escolher o amplificador que controla o uso de energia de todo o som, responsável por equilibrar a vida da bateria no baile. Assim, caso o cliente queira fazer o som durar a noite toda, a equipe é responsável por combinar a bateria e o amplificador para atender essa energia.
Depois desse rolê todo, vem a montagem dos equipamentos da carretinha ou do paredão, colocando cada peça mencionada no lugar certo. Por fim, são feitos os testes do som, com as músicas para ajustar ou corrigir. Vale lembrar que eles fabricam os próprios alto-falantes, mas aí já é outra caminhada.
Sobre a potência do som, é importante destacar que os materiais, bem como a estética do som automotivo, vão influenciar no tipo de música que será tocada. Tem estrutura que é feita somente para tocar os potentes graves dos funks paulistas, outros para os forrós e ainda estilos músicas que não requerem uma frequência de grave forte, tipo sertanejo.
Projeto de paredão em andamento
A equipe mostrou um projeto que está desenvolvendo para tocar funk: uma carreta média que vai estruturar um ‘’mini-paredão’’. ‘’Ele tocará qualquer estilo musical, porém ele foi projeto para tocar funk. Nós utilizamos uma caixa canhão que tem um rendimento diferenciado no funk’’, conta Wellington.
Adriana, filha de Wellington, dentro de um carro de pressão interna
Hoje, o que a equipe mais faz são as carretinhas e os paredões, porém, como conta Wellington, já fizeram muito som de pressão interna, que são famosos em competições chamadas de ‘’Hair Trick’’. Além disso, costumam fazer cornetas e sons de porta-malas para pessoas que gostam de um som potente no carro, não necessariamente somente para paredões.
Instalação de equipamento interno
A equipe Street Car é um dos muitos fabricantes de sons automotivos espalhados pela cidade de São Paulo. Foi o espaço que recebeu a reportagem do Portal Kondzilla para mostrar um pouco de como funciona a fabricação dos sons automotivos, como um paredão. Quebramos a rotina barulhenta da equipe e saímos com mais um conteúdo que mostra, mais uma vez, que o funk é uma cultura muito mais complexa e competente do que as pessoas imaginam.
Sonzera pronta! Partiu bailão!!!