Kond

Um papo sobre carreira e indústria musical com o Kond

05.12.2019 | Por: Gabriela Ferreira

Do dia 4 ao dia 8 de dezembro acontece em São Paulo a Sim (Semana Internacional de Música de São Paulo), conferência internaciona que reúne uma penca de galera de vários setores da música para falar sobre tendências, o futuro da música e pra compartilhar mais sobre seus corres. Nesta quinta, o Kond participou de um ping-pong com a jornalista Claudia Assef, no Centro Cultural São Paulo e vamos te passar a visão do que foi.

Inicio de tudo

O bom é começar pelo começo mesmo né? Claudia começou perguntando para Konrad como surgiu o interesse dele pela imagem. “O pessoal de favela vê na música um meio possível de mudar de vida, e no meu caso, comecei achando que era cantando rap, depois produzindo música. Quando perdi minha mãe, peguei a renda e vim estudar em São Paulo”.

Nisso tudo, com 18 anos ele comprou sua primeira câmera, uma Canon 5D, e com ela gravou o primeiro videoclipe. “Gravei o videoclipe da minha banda com uma outra banda colega. Foi uma experiência muito interessante porque muita coisa deu errado, mas gravamos mesmo assim”. Kond ainda conta na época ele dirigiu o clipe, mas não sabia editar.

Linguagem

Cada um tem sua linguagem, seja de escrever, de editar e principalmente de dirigir, Konrad contou que ele se inspirava muito no rap americano. “Eu estudava muito o rap americano. Tinha um diretor que eu adorava, o Hype Williams, e um que eu não gostava, o Chris Robinson. Eu via todos os videoclipes deles e anotava as coisas que gostava e as que não gostava pra eu não fazer nos clipes que eu dirigisse”.

Indústria musical

Um dos principais pontos da conversa foi a indústria da música, mundo digital e como tudo anda junto. Konrad explicou que um tempo atrás, os artistas do funk lançavam umas 4 ou 5 prévias de músicas, e qual fosse mais abraçada com o público viraria single de trabalho. “Hoje, essa parte de experimentar não existe mais. A gente é conhecido pelo que deu certo, mas tem muita coisa que deu errado”.

Ainda falando sobre indústria, Kond foi questionado se o funk paulistano está caindo, tendo em vista o crescimento do 150 BPM, do Rio, o funk mineiro e o brega funk de Recife, ele explicou que o funk paulistano não tá caindo, e que o crescimento de vários artistas nas plataformas digitais tem muito a ver com escolha editorial e como o algoritmo está funcionando. “A mudança do algoritmo muda tudo, ele funciona, mas quem programa ele é o ser humano. Um exemplo é a playlist do Spotify, quem não é premium, não pode passar as músicas, tem que ouvir o que está lá, e quem monta essas playlists são pessoas”.

Ainda nesse papo, ele explicou que é necessário analisar como está sendo esse crescimento, em quais plataformas, de agenda de shows e mais. “O Dadá Boladão [um dos maiores nomes do brega-funk do Recife], que passou meses em primeiro lugar no Spotify, não vende show tão fácil aqui no Sudeste, então precisa analisar onde que está esse crescimento”.

Sintonia

‘Sintonia’ é a série brasileira mais vista na Netflix e a segunda série [geral] mais vista no Brasil”, comentou ele. “Hoje, a gente não analisa mais o número de visualizações e sim a taxa de retenção, que é a taxa de atenção das pessoas e ‘Sintonia’ teve 80%, ou seja, 80% das pessoas que começaram a série, assistiram ela inteira”.

“A ideia era trazer o olhar do moleque de favela para o público de favela. Uma coisa muito importante falar é que as cotas de universidade são muito importantes pra mudança desse cenário porque as pessoas cotistas podem ainda não estar nos lugares de tomada de decisões, mas eles sugerem muitas coisas e fazem muitas coisas que os publicitários ricos não tem consciência da vivência de favela e não podem fazer”. Kond uniu isso com o entregar um produto tão bom quanto os produtos entregues pelas pessoas que tiveram mais oportunidades que as pessoas de quebrada.

Relação com marcas

A KondZilla vem fazendo várias parcerias com marcas, que tem cada vez mais olhado para a favela e pro funk. “Na minha cabeça, os artistas não tinham que pagar os videoclipes porque tem pessoas e marcas interessadas em pagar o clipe pra poder se conectar com o público do cara”, refletiu.

Pensando nisso e em outros fatores que a KondZilla Filmes parou de ter objetificação de mulheres, armas e palavrão nas músicas. “Eu tirei tudo isso se não as contas não iam fechar porque as marcas não vão querer se relacionar com esse tipo de coisa. Se a gente quisesse levar o funk lá em cima, era o jeito. Antigamente as marcas não queriam pagar os clipes, mas hoje querem”.

Portal KondZilla

Se você não é de hoje, talvez você saiba que o nosso canal Portal KondZilla foi o primeiro canal da América Latina a bater um milhão de inscritos sem nenhum videoclipe postado. “Eu comecei a pensar se eu conseguiria fazer conteúdo? Antes do Youtube, sou comunicador, não fazia sentido trabalhar só com música se tem outras coisas pra explorar”. Foi assim que surgiu nosso canal, que já conta com vários vídeos de diversos temas, e já acumulando alguns milhares de visualizações. “Temos um vídeo de gravidez na adolescência com a Fraan Ferreira, uma mina de favela que fala gíria. Agora quem quer fazer esse conteúdo é a Unicef”.

Criminalização

Ao ser questionado sobre a criminalização do funk, Kond fez um panorama. “Eu sou parte dessa construção de quebrar preconceitos. Isso que aconteceu em Paraisópolis, acontece no Rio de Janeiro há trinta anos. Lá o funk já foi muito reprimido, o caveirão subia atirava em equipamento. Nós temos que lutar ainda mais do que a gente já tem lutado. Eles podem achar que funk não é um movimento, mas é a nossa cultura. Temos muita coisa pra arrumar, até mesmo em casa. Eu to aqui pra somar”.

União

Uma das falas mais importantes do Kond foi sobre a união nas quebradas. “Primeiro de tudo, temos que parar de disputar. Muitas pessoas ainda precisam se empoderar, mas e elite do outro lado é unida. Os presidentes das gravadoras são unidos, almoçam juntos de vez em quando. A quebrada tem que se unir. Virou hype falar favela, quando acabar o hype, eles não vão mais ir nas favelas contratar e ouvir os outros, eles vão cair fora. A gente tem que se fortalecer”.

Esse foi apenas um resumo do que rolou entre a conversa de Claudia Assef com Kond. O painel durou 1h30 e também contou com a ajuda da plateia que fez algumas perguntas ao Konrad sobre temas diversos relacionados ao funk e a indústria num geral.

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