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“Paraisópolis: 3 atos, 9 vidas”: filme estreia no dia que tragédia completa 2 anos

01.12.2021 | Por: Rayane Moura

A tragédia do Paraisópolis, que deixou nove jovens mortos durante ação policial no baile funk da DZ7, completa dois anos nesta quarta-feira (1º). Por isso, a data marca a estreia do filme “Paraisópolis: 3 atos, 9 vidas”, que chega com o objetivo de contestar a versão dos policiais e mostrar as contradições do caso. Pega a visão: 

A Defensoria Pública, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e famílias de vítimas se uniram para produzir um filme, que ganhou o nome de “Paraisópolis: 3 atos, 9 vidas”. O material reúne uma série de nove vídeos, que já estão disponíveis no canal do CAAF no YouTube, e desconstroem a versão da polícia de que houve resistência. 

O material tem o objetivo mostrar que a ação da Polícia Militar (PM) que deixou nove jovens mortos e outros 12 feridos em 1º de dezembro de 2019, num baile funk em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, não foi um acidente, mas sim um “massacre”.

Os filmes foram produzidos a partir de imagens que estão nos processos judiciais do caso, que mostram imagens gravadas por câmeras de segurança e testemunhas sobre a ação da PM. Juntaram também laudos, mapas, gravações, imagens do local e depoimentos de testemunhas. Artistas convidados contam em áudio a história de cada uma das vítimas.

Com apoio do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (CAAF/Unifesp), o filme traz conclusões sobre o caso, como o fato dos nove jovens, que morreram durante a dispersão do baile funk, já chegaram mortos ao hospital. Antes, esperaram 34 minutos até que fossem resgatados.

Ainda segundo o material audiovisual, os policiais militares mentiram que as vítimas pediam socorro quando já estavam desfalecidas no chão e ao dizer que estavam cercados, impedindo que os primeiros socorros fossem realizados. Além disso, a corporação liberou apenas uma ambulância para atender o local, insuficiente para resgatar as vítimas, que acabaram sendo levadas pelos próprios policiais à Unidade de Pronto Atendimento do Campo Limpo. 

Foto: Kleber Tomaz/g1

Outros pontos analisados pelo CAAF também corroboram a investigação da Polícia Civil, de que os policiais militares encurralaram as pessoas, agredindo e lançando spray de pimenta e bomba de gás, e que os laudos dos corpos indicaram que oito das nove vítimas faleceram por asfixia por sufocação indireta: Marcos Paulo Oliveira dos Santos, Gustavo Cruz Xavier, Luara Victória Oliveira, Bruno Gabriel dos Santos, Gabriel Rogério de Moraes, Denys Henrique Quirino da Silva, Eduardo da Silva e Dennys Guilherme dos Santos Franco, justamente por essa compressão entre as pessoas, impedindo que elas pudessem respirar. 

Mateus dos Santos Costa morreu por traumatismo raquimedular, que poderia estar associado à compressão ou uma pancada. As vítimas tinham entre 16 e 23 anos. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas, sendo que uma delas ficou com bala de borracha alojada na perna.

O Centro também analisou imagens de câmeras de segurança de ruas que desmentem a versão de que os policiais estavam sendo atacados com garrafas e por isso usaram os artefatos, além das contradições sobre a perseguição a homens armados em uma moto, que nunca foram encontrados. “O que as vítimas sofreram foi uma emboscada, foram cercados pela polícia”, afirmou Cassia Aranha, integrante do CAAF, à Ponte Jornalismo.

Os organizadores da série de vídeos querem que eles possam ser compartilhados e vistos pela população. E depois pretendem levá-los à Justiça para serem usados em um eventual julgamento do caso.

Responsabilidade

Nas redes sociais, os dois anos do massacre do Paraisópolis foram lembrados, seguidos por protestos pedindo a responsabilização dos agentes de segurança sobre as mortes ocorridas na operação policial.

“Hoje faz 2 anos que a Polícia Militar assassinou nove adolescentes e jovens periféricos, quase todos negros, no baile da DZ7. O Massacre de Paraisópolis entrou pra lista das incontáveis chacinas feitas pelos governos genocidas do PSDB nas favelas de São Paulo nos últimos 26 anos”, tuitou o estudante e palestrante Thiago Torres, o Chavoso da USP.

Além da responsabilização dos policiais, os familiares exigiram que ações da corporação contra bailes funks não fossem mais instituídas. “A Operação Pancadão é uma política de Estado que matou nossos jovens”, declarou Danylo Amilcar, irmão de Denys Henrique, uma das vítimas do caso. “Pessoas que trabalham e estudam e tiram um momento para o lazer, que escutam funk, foram mortas e criminalizadas, não usavam drogas e não eram bandidos e, mesmo se fossem, isso não era tratamento digno para ninguém”, acrescentou ele à Ponte.

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