Comportamento

MC Dede e Mano Brown se encontram para trocar uma ideia sobre música

09.11.2017 | Por: Renato Martins

Era terça a noite quando o produtor do MC Dede me liga, esbaforido, avisando que “amanhã o MC Dede vai encontrar com o Mano Brown!”. Tive que me envolver nessa fita, afinal, além de poder conhecer a lenda viva do rap nacional, poderia entender a relação dos movimentos funk e rap. Não quis ser um intruso na conversa, mas adianto que o papo foi mais legal do que você pode imaginar e por isso vou dar a letra no Portal KondZilla.

O MC Dede marcou com a equipe na produtora, e logo que nos encontramos, senti que o clima de nervosismo era geral. Sem muito papo, logo partimos rumo ao Fundão da Sul. Se tem uma parada que é consenso certo com qualquer paulistano é que o grupo Racionais MCs e o Mano Brown são patrimônios da cidade de São Paulo, além de serem muito fodas.

Eu ainda estava confuso de como surgiu esse encontro. O “menino do kit“, lenda viva do funk ostentação e que ajudou na formação do movimento paulistano, iria encontrar com o cara que ajudou a moldar o rap nacional e ainda é símbolo de resistência para diversos jovens da periferia. Inclusive para o próprio MC Dede. “Lembro de ir em show do Racionais MCs na quebrada ainda moleque. Tinha uns seis anos, nem sabia direito o que tava acontecendo. E pra falar a real, Racionais me formou como homem”, diz o MC, que tem 28 anos e acaba de ser pai pela segunda vez.

Depois de duas horas e meia de viagem – São Paulo, né?! – chegamos ao local combinado, uma espécie de condomínio fechado, as margens da represa Guarapiranga. Ao descer do carro, pude imaginar um lugar gramado e limpo, verde como o mar, cercas brancas e uma seringueira com balança. Na verdade, foi tipo isso mesmo, tinha até o balanço. Só que antes de iniciar papo, vamos lembrar um fato que é importante: estamos em 2017, e muita coisa já aconteceu depois do saudoso álbum “Nada como um dia após o outro dia“, 2002. Mano Brown vem tocando seus trampos solos, inclusive seu novo álbum com muito funk soul, chamado “Boogie Naipe“.

Assim como MC Dede, que também está numa fase boa da carreira. Um dos ícones do funk paulistano, o funkeiro é cria da Zona Leste, mais precisamente da Cidade Tiradentes, berço do funk ostentação. Com 28 anos de idade e quase 10 de carreira, o MC é um dos poucos exemplos de carreira longa no funk, mas ao mesmo serve de inspiração pra muito moleque de quebrada que sonha em cantar e dar um sustento melhor para sua família.

Com 47 anos nas costas, Brown é o retrato do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, além de ser um dos maiores nomes do rap nacional. Como dissemos, Brown vem promovendo seu primeiro disco solo, lançado no primeiro semestre deste ano, trabalho voltado ao Soul (o americano). Com quase 30 anos de carreira, o cantor ajudou na formação de toda uma geração com suas letras de protesto.

Seria, então, esse encontro uma reunião de inspiração para a juventude da periferia?

Era nítido a emoção do cantor Dede nesse encontro, um misto de ansiedade com admiração tomaram conta da conversa. Mesmo depois de um tempo junto, percebi que a emoção ainda era viva. Uma experiência de vida para o “menino do kit”.

É claro que no encontro entre os dois cantores rolou muito papo de música, com direito a uma trilha sonora de muito funk e soul dos anos 70 e 80, passando também por nomes como Zeca Pagodinho e Tim Maia. E funk e rap têm similaridades? “São músicas de preto, de favela. Uma coisa derivada da outra”, resumiu Brown.

Algumas pessoas podem não ver essa relação, mas o funk paulistano chega a ser uma adaptação do rap que conhecemos. A Baixada foi o berço do funk paulista, com muita letra de funk consciente passando a visão pra rapaziada. Inclusive, a dupla BackDi e Bio G3, que estouraram com o Bonde da Juju, cantavam rap e adaptaram suas músicas para o tamborzão carioca. Ainda hoje tem muita música que passa essa visão. Pow Pow Tey Tey, por exemplo, lembra a trajetória de vida do Dede, só que mais ritmado.

Dede, que também não é bobo nem nada, sacou o celular e mandou um refrão que tinha feito dias antes. Brown acompanhou na palma da mão e aprovou o trampo do MC. Será que vem uma parceria aí no futuro?

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